Matheus Teixeira - Especial para o Correio
postado em 22/04/2017 06:00
Após as revelações de ex-executivos da Odebrecht sobre a relação da construtora com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-presidente viu o cerco se fechar ainda mais com os relatos de Léo Pinheiro. O dono da OAS Engenharia, acusado de ser o comandante do cartel das empreiteiras que dominavam as mais caras licitações do Brasil, garantiu à Justiça que o tríplex no condomínio Solaris, no Guarujá (SP), pertencia à família de Lula, e que a ex-primeira-dama Marisa Letícia, falecida em fevereiro, teria pedido, inclusive, a antecipação da entrega das chaves para passar o réveillon de 2014 no litoral paulista.
A possível delação de Léo Pinheiro se soma a outro fantasma que ronda o imaginário petista: um acordo de colaboração premiada do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci. O temor do PT é que, juntas, as falas do empreiteiro e de Palocci reforcem as chances de Lula ser incriminado. Apesar de não haver nenhuma sentença contra o ex-presidente, há avaliação de que o juiz Sérgio Moro possa condená-lo nos próximos meses, a tempo de o processo ser confirmado em segunda instância e, assim, impedir a candidatura do petista à Presidência da República no ano que vem com base na Lei da Ficha Limpa.
Léo Pinheiro afirma que levou Lula para conhecer o tríplex e que retornou ao local, depois, apenas com Marisa Letícia, pois o ex-presidente teria preferido não acompanhá-la para não se expor porque era ano de eleição. Nesta oportunidade, em 2014, teria feito um pedido: ;Ela me perguntou: ;nós gostaríamos de passar as festas de fim de ano aqui no apartamento. Teria condições de estar pronta (a reforma)?;;, relatou a Moro em audiência na última quinta-feira. O empreiteiro, então, assegurou: ;Pode ficar certo que antes disso;;, respondeu à ex-primeira-dama.
Além disso, ele teria feito uma reunião no apartamento do ex-presidente em São Bernardo do Campo com o casal para acertar mudanças na estrutura do tríplex, que teriam sido feitas. ;Todas essas modificações ocorreram após solicitação feita no dia em que eu fui com o presidente e com a ex-primeira-dama ao tríplex. Foi fruto de nossa visita;, afirmou o ex-presidente da OAS.
Destruição de provas
Lula também teria orientado Pinheiro a ;destruir as provas;. O diálogo teria se passado dois meses após a deflagração da Operação Lava-Jato. Na ocasião, eles teriam conversado sobre pagamentos da construtora ao ex-presidente. Lula teria questionado como eram realizados os repasses da empreiteira ao partido, se era feito em contas no Brasil ou no exterior. Léo Pinheiro, então, explicou que o operador era o ex-tesoureiro da legenda João Vaccari. ;Você tem algum registro de algum encontro de contas feitas com João Vaccari, com vocês? Se tiver, destrua;, afirmou Lula, segundo o empreiteiro.
O empresário está preso na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, desde setembro de 2016. Condenado a 26 anos e 4 meses de reclusão por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa no esquema de corrupção da Petrobras, foi detido pela primeira vez em novembro de 2014. Ele chegou a ganhar o direito à prisão domiciliar, mas, em setembro do ano passado, Moro mandou prendê-lo novamente sob suspeita de tentar obstruir as investigações. O delator negocia uma delação premiada para tentar abater a pena.
A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nega as acusações e diz que o empreiteiro criou uma ;versão; acordada com o Ministério Público Federal para conseguir o acordo de delação. ;Ele foi claramente incumbido de criar uma narrativa que sustentasse ser Lula o proprietário do chamado tríplex do Guarujá. É a palavra dele contra o depoimento de 73 testemunhas, inclusive funcionários da OAS, negando ser Lula o dono do imóvel;, diz a nota, assinada pelo advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins.
Segundo a defesa, a afirmação é ;fantasiosa; e contraria documentos da empresa. O advogado refuta também a acusação de que Lula mandou destruir provas. ;É uma tese esdrúxula que já foi veiculada até em um e-mail falso encaminhado ao Instituto Lula que, a despeito de ter sido apresentada ao Juízo, não mereceu nenhuma providência;, afirma.
Além da delação de Pinheiro, petistas estão em pânico com um possível acordo de delação premiada de Antonio Palocci. O ex-ministro estaria disposto a firmar um acordo de colaboração premiada e entregar detalhes sobre negociações obscuras envolvendo a cúpula do partido da estrela vermelha. Na última quinta-feira, em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava-Jato, Palocci deu a entender que estaria disposto a revelar mais informações sobre o esquema.
As suspeitas
Confira o que pesa contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
; Operação Zelotes
Ao lado do filho Luís Cláudio Lula da Silva, o ex-presidente foi denunciado pelo Ministério Público Federal em Brasília pelos crimes de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ele é acusado de beneficiar empresas junto ao governo e, em troca, o herdeiro teria recebido R$ 2,5 milhões
; Obstrução
Lula foi acusado pelo Ministério Público Federal de ter obstruído a Justiça porque teria tentado impedir que o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró fizesse um acordo de delação premiada. O juiz Ricardo Leite, da 10; Vara da Justiça Federal de Brasília, aceitou a denúncia. Lula é réu, ao lado do ex-senador Delcídio do Amaral e do banqueiro André Esteves
; Tríplex
Em coletiva à imprensa em setembro do ano passado, os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato anunciaram a denúncia contra Lula e outras sete pessoas por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex. Na ocasião, os integrantes do MPF fizeram uma apresentação e afirmaram que Lula é o ;comandante máximo; de crimes investigados pela Lava-Jato. O juiz Sérgio Moro aceitou a denúncia e Lula se tornou réu.
; Angola
Lula, Marcelo Odebrecht e outras nove pessoas são réus no processo que julga os crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e organização criminosa. Eles teriam participado de um esquema de fraudes envolvendo financiamento do BNDES em obras da Odebrecht em Angola.
; Lava-Jato
Lula tornou-se réu pela quinta vez após Sérgio Moro aceitar mais uma denúncia do MP, que o acusa de receber propina da Odebrecht por meio da compra de um apartamento em São Bernardo e de um terreno avaliado em R$ 12,5 milhões que seria usado para construção do Instituto Lula.