Politica

História da operação Lava-Jato é contada em livro de Deltan Dallagnol

Procurador da República e coordenador da força-tarefa lança obra sobre os bastidores da maior operação do país

Matheus Teixeira - Especial para o Correio
postado em 30/04/2017 07:15

Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato: um relato em primeira pessoa

A Lava-Jato só teve êxito, recuperou bilhões e se tornou a maior operação da história do Brasil por causa de uma "série de coincidência improváveis". A afirmação está no livro do procurador da República Deltan Dallagnol lançado nesta semana. Nele, o coordenador da força-tarefa da investigação que atingiu os principais políticos do Brasil conta detalhes das apurações de desvios de recursos públicos e traz os bastidores da derrota do Ministério Público no Congresso Nacional na votação do projeto das 10 medidas contra a corrupção.

Na obra, Dallagnol faz duras críticas ao sistema político e judiciário que, segundo ele, propiciam a impunidade dos criminosos de colarinho branco. O procurador faz uma lista de dificuldades enfrentadas no país na punição de poderosos. "Demora, anulação de casos, prescrição, penas baixas, indultos, ausência de criminalização do enriquecimento ilícito e falta de instrumentos aptos a recuperar dinheiro desviado", diz. O sistema, acredita ele, foi feito "para não funcionar".

Apesar de afirmar em vários trechos que "a saída para o Brasil não é a Lava Jato", ele diz que o caso "trata um tumor, mas o problema é que sistema é cancerígeno". Dividido em 10 capítulos, o livro de 319 páginas é dedicado a "cada brasileiro que tem mantido acesa a chama da esperança em um país mais justo, primando pela ética, defendendo a Lava Jato e apoiando a realização de reformas contra a corrupção".

Leia mais notícias em Política

Narrado em primeira pessoa e em ordem cronológica, ele fala da infância, da adolescência e da disciplina para conseguir passar no vestibular para direito e no concurso para o MP. Em tom piegas, faz uma declaração de amor à mulher, Fernanda, "a melhor parte de nós dois", segundo ele. Também recorda das investigações que participou antes de coordenar a força-tarefa da Lava-Jato, como o escândalo de funcionários fantasmas na Assembleia Legislativa do Paraná e o caso do banco estatal paranaense, o Banestado, "que plantou a semente da Lava Jato" e envolveu crimes financeiros e desvios de recursos.

Na obra intitulada A luta contra a corrupção, ele admite que foi pego "de surpresa com a repercussão negativa" da apresentação que fez sobre a denúncia contra o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. "Difundiu-se a ideia da irracionalidade da acusação. Uma frase jamais dita por nós viralizou, como se estivéssemos pronunciado: ;Não temos provas, mas temos convicção;. Os dias seguintes foram bastante pesados", recorda. Ele argumenta que é comum fazer Powerpoint para facilitar o entendimento das acusações. "Seguindo o padrão das coletivas anteriores, para dar a ideia de conjunto probatório, foi preparada uma representação gráfica dos indícios que apontavam para a posição central do ex-presidente no esquema", explica. Sobre Lula, ele lembra que a condução coercitiva dele foi a 118; da Lava Jato e que "as anteriores não tinham gerado polêmica".

Dallagnol expõe que, após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, houve um temor muito grande em relação ao governo que assumira o Executivo nacional. "Tudo indicava ; como esperávamos ; que as pressões não diminuiriam ao longo da nova gestão. Pelo contrário, poderiam piorar", afirma. Ele também aproveita para rebater os críticos da Lava Jato ; que, segundo ele, se apegam a "teorias da conspiração" ;, e para comenta o fato de não investigar o mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Essa crítica não faz sentido para quem tem conhecimento do nosso sistema jurídico".

Trechos

Procurador da República e coordenador da força-tarefa lança obra sobre os bastidores da maior operação do país

Sobre as críticas
"Alegar atuação partidária significaria supor que centenas de agentes públicos se alinharam para praticar injustiças e prejudicar determinados políticos ou partidos, assumindo os riscos dessa decisão. Isso não faz sentido, é pura teoria da conspiração"


Apaixonado

"Novamente, entrei no ;modo disciplina; e abdiquei de outras dimensões da vida, focando o meu alvo. Fernanda me apoiou integralmente. Ela é a melhor parte de nós dois. Abnegada, perspicaz, doce e companheira, sempre me estimulou a encarar os desafios. Acabei passando em primeiro lugar no concurso para promotor, em segundo para juiz e em décimo para procurador da República"


Delações
"Em absolutamente todos os casos de colaboração na Lava Jato ; 100% deles ;, a iniciativa partiu do advogado que representava o réu, como estratégia da defesa, e jamais do Ministério Público. (...) A palavra do colaborador deve ser confirmada por outras"


A luta contra a corrupção (Editora Primeira Pessoa, 320 págs, R$ 39,90)

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação