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Lula dava "palavra final do chefe" sobre caixa 2, diz João Santana

Os anexos da delação se tornaram públicos nesta quinta-feira (11/5) após o ministro Luiz Edson Fachin derrubar o sigilo da delação

postado em 11/05/2017 16:58
O ex-marqueteiro da campanhas eleitorais de Lula e Dilma, João Santana, afirmou em delação premiada que todos os pagamentos e decisões dependiam da "palavra final do chefe", se referindo ao ex-presidente. No documento, o publicitário ressalta que Lula sabia de todos os detalhes.

Segundo João Santana, a campanha de reeleição do petista teve uma "conta corrente" informal, entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e a Polis, empresa de marketing político do marqueteiro. O ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci era o responsável pela coordenação financeira das campanhas. Santana confirmou que os repasses foram feitos, exclusivamente, pela empresa Odebrecht no exterior.

"O presidente Lula sabia do valor total da campanha ; tanto o que seria pago oficialmente e o que seria pago por fora ;, porque Palocci relatou a Mônica Moura diversas vezes, durante a negociação, na fase de discussão sobre valores, que ;tinha que falar com o Lula, porque o valor era alto, e ele não tinha como autorizar sozinho;", diz trecho de anexo da delação da empresária, entregue por sua defesa à Lava-Jato. O casal afirmou que Lula e Dilma sabiam da existência do Caixa 2 nas campanhas. O sigilo das delações dos marqueteiros foi retirado nesta quinta-feira (11/5) pelo ministro Edson Fachin.

Na delação, Santana também afirma que Lula o abordou diretamente em 2009 num episódio de ajuda à campanha de Mauricio Funes, em El Salvador. Santana declara também que o ex-presidente Lula tinha uma forma "bem-humorada" de tratar os pagamentos de Caixa 2. Segundo o marqueteiro, o petista o perguntava: "e aí, os alemães têm lhe tratado bem?", se referindo aos pagamentos feitos pela Odebrecht.

Na documento de delação de Mônica Moura, ela disse que os serviços de comunicação prestados para Lula custaram R$ 24 milhões na reeleição do petista, sendo que R$ 10 milhões teriam sido pagos de forma não oficial. Metade deste valor teria sido entregue em espécie a ela própria por um assessor de Palocci, em várias ocasiões, nos anos de 2006 e 2007.

O dinheiro, segundo ela, era acondicionado em caixas de sapato e roupas, e repassado numa casa de chá do Shopping Iguatemi, em São Paulo. A outra metade teria sido depositada pela Odebrecht na conta Shellbil, de João Santana, no exterior.

Anexo

O anexo de delação premiada é o documento em que o delator informa ao MPF o que irá contar no processo de delação. A colaboração de João Santana, assim como a de sua esposa, Mônica Moura e de um funcionário do casal, André Santana, foi assinada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Isso significa que, a partir de agora, o que foi dito à Lava-Jato pode ser usado para embasar abertura de inquéritos ou reforçar investigações já em curso.

Os anexos da delação do casal se tornaram públicos nesta quinta-feira (11/5) após o ministro Luiz Edson Fachin derrubar o sigilo da delação. João Santana ficava responsável pelo contato com os principais líderes políticos, enquanto Mônica Moura, empresária, tratava de negociações financeiras.

No anexo entregue à PGR, consta que "João Santana teve um convívio íntimo inegável com Lula e Dilma, e tem plenas condições de expor com detalhes esses encontros que trataram de pagamentos não oficiais".

O marqueteiro conta como voltou a trabalhar com Lula, antes da campanha do petista à reeleição, em 2006. Santana participou de um "diagnóstico eleitoral" para eleição do ex-presidente quando ainda era sócio do publicitário Duda Mendonça, em 2001. Em 2005, quando veio à tona o escândalo do mensalão, Santana diz ter sido chamado a Brasília de forma urgente.

No dia 24 de agosto daquele ano, foi levado por um carro oficial à casa de Palocci e de lá foram ao Planalto para encontro com Lula. Santana diz aos investigadores que Palocci afirmou que seria feita uma consultoria de pré-campanha, pois Lula seria candidato à reeleição se superasse a crise política. O presidente indicou que os pagamentos seriam feitos por Palocci e que o então ministro da Fazenda disse que a imagem de Lula seria preservada e Santana ficaria responsável pela campanha de reeleição.

Procurada por meio de assessorias, a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula ainda não enviaram manifestação sobre o assunto. O advogado de Palocci não atendeu contato da reportagem até o momento.

Intervenção na Lava Jato


Marcelo Odebrecht, pouco antes de ser preso, alertou Mônica sobre o risco da Operação Lava Jato atingir a presidente Dilma. O empresário pediu para a petista não reconhecer o acordo de cooperação feito informalmente pelo Ministério Público com o MP da Suíça, onde os procuradores poderiam encontrar transações financeiras.

Ernesto Sa Vieira Baiardi, diretor internacional da Odebrecht também conversou com a marqueteira para que Dilma derrubasse as provas vindas da Suíça. Mônica se encontrou com o diretor em São Paulo para tratar do assunto. Ela destaca que era "visível" o desespero de Marcelo e Ernesto em relação às contas na Suíça.

* Estagiário sob supervisão de Anderson Costolli
Com informações da Agência Estado.

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