Politica

Joesley conta que negociava cargos de chefia com Temer e aliados

O objetivo do empresário era colocar uma pessoa que estava alinhada ao governo

Gabriela Vinhal
postado em 19/05/2017 17:47
Em vídeo de delação premiada, divulgado pelo Supremo Tribunal Federal nesta sexta-feira (19/5), Joesley Batista, um dos donos do grupo J, controlador do frigorífico JBS, disse que negociava cargos de chefia com Michel Temer e seus aliados.
O objetivo do empresário era que o presidente colocasse uma pessoa que estivesse alinhada com o governo nas presidências do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), do Banco Central e da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN), que estavam em aberto. "Seria muito importante que tivesse uma pessoa aliada para quando necessário, fazer as reivindicações", reforçou.
Depois da queda do ex-ministro Geddel, o empresário revela que Temer indicou Rodrigo Rocha Loures, assessor próximo, para ser seu braço direito e intermediador. Joesley conta que se encontrou com ele três vezes - uma para marcar uma reunião com o peemedebista outras duas para discutir a nomeação desses cargos.

"Nos reunimos na minha casa em São Paulo e outra vez na casa dele, no Lago Sul. Expliquei a ele a questão do CADE, dos gás boliviano e da minha ideia. Sugeri uma planilha e uma propina de 5% de um lucro anual de R$ 300 milhões se conseguisse reivindicações dentro do CADE. Ele disse que ;tudo bem;, ;tudo bem;", acrescentou.

Questionado sobre o conhecimento de Rodrigo referente ao pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha e a Lúcio Funaro, Joesley afirma que não sabe ao certo se o assessor de Temer tinha consciência "do quão importante era mantê-los calados". "Não tinha relação com o Rodrigo. 100% dos meu negócio é com o presidente Michel", ressaltou.

Aécio

Em outro momento da delação, Joesley conta que o senador Aécio Neves pediu dinheiro diversas vezes a ele. A primeira quantia foi de R$ 17 milhões, pagos com a compra de um prédio em Belo Horizonte, de um amido de Aécio: "A compra foi legal e de alguma forma chegou nas mãos do senador. Mas não sei como foi".

Posteriormente, ele pediu ao empresário R$ 5 milhões, contudo Joesley não deu. "Até chamei o amigo dele Flávio Carneiro para falar para ele parar de me pedir dinheiro, porque eu já estava sendo investigado. Ele sumiu depois disso", lembra.

Em fevereiro deste ano, a irmã do tucano Andrea Neves se encontrou com o empresário, pois precisava de R$ 2 milhões para pagar um advogado conhecido pela elite política. "Sugeri que fizéssemos contatos fictícios para dar um ar de legalidade, assim como fizemos em 2014, durante as eleições", explica.

A segunda pessoa enviada por Aécio para cobrar uma ajuda de Joesley foi o primo dele, Frederico Pacheco de Medeiros. Por não conhecê-lo, o empresário resolveu tratar sobre o assunto diretamente com o senador. "Fui a BH e ele me disse que queria R$ 2 milhões. Sugeri que fosse em dinheiro. Ele disse que o Fred cuidaria disso". O pagamento seria feito em quatro pagamentos de R$ 200 mil cada. Foi paga apenas a primeira parcela.

Em oitiva, Joesley comenta que Andrea pediu mais dinheiro, dessa vez R$ 40 milhões. Ela sugeriu que ele comprasse um apartamento da mãe dela, no Rio de Janeiro. Para tentar negociar, Joesley se encontrou com Aécio e sugeriu que, em troca da compra, o senador deveria colocar Aldermir Bendine, conhecido como Dida, como presidente da companhia Vale do Rio Doce.

"Ele recusou, porque já tinha indicado outra pessoas. Mas depois disse que eu poderia escolher qualquer uma das quatro diretorias da empresa, que colocaria quem eu quisesse", finalizou.

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