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Prejuízos após manifestações na Esplanada passam de R$ 2 milhões

AGU vai ajuizar a ação para cobrar o "ressarcimento aos cofres públicos contra os organizadores, ou seja, as centrais sindicais"


Apenas o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão contabilizou um dano de mais de R$ 330 mil. O valor corresponde a computadores, vidros, espelhos, divisórias, mobiliários, persianas, ar-condicionado, entre outros equipamentos. O Ministério do Turismo e Minas e Energia terminou com 31 vidros quebrados, além de placas de sinalização arrancadas, e um computador danificado. O dano estimado é de R$ 19 mil.

No Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, foram registrados danos na recepção da entrada privativa e na sala de reunião, tendo um prejuízo calculado em R$ 1,105 milhão, que compreende valor de mobiliário, infraestrutura do prédio e serviços de mão de obra. De acordo com nota encaminhada pela pasta, houve registro de apenas um atendimento a servidor atingido por estilhaços de vidro, com escoriações leves.

Já no Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicações, cujo prédio também é a sede do Ministério da Integração Nacional, a conta dos estragos ficou em R$ 522,5 mil. Lá, foi necessário substituir vidraça, houve queima de mobiliários, equipamentos eletrônicos e documentos danificados. Até o fechamento desta edição, o Governo de Brasília e o Ministério da Cultura ainda não tinham contabilizado o prejuízo material causado pelo conflito. O Detran-DF contabiliza um prejuízo de cerca de R$ 100 mil com a depredação de placas de sinalização, semáforos e cones.

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O governo federal tentará responsabilizar os manifestantes que cometeram ;exageros;, como avaliou ontem, em vídeo, o presidente Michel Temer. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, declarou que o peemedebista acionou a Advocacia-Geral da União (AGU) para realizar perícias em todos os prédios. ;Todos que realizaram os atos inaceitáveis e incompatíveis com o regime democrático deverão pagar pelos danos;, afirmou ontem, em pronunciamento no Palácio do Planalto.

O ministro não detalhou como será o processo de identificação dos manifestantes. Apenas limitou-se a dizer que a tarefa de cobrança é da AGU e da Justiça Federal. Embora Jungmann tenha se esquivado, interlocutores de Temer explicam que a intenção é cobrar as lideranças das centrais sindicais. ;Foram elas as responsáveis, que solicitaram o espaço e dia para fazer as manifestações, com carros de som e faixas. E isso (a cobrança às centrais) tudo é perfeitamente possível;, disse.

Em nota, a AGU comunicou que aguarda que os ministérios concluam o levantamento de todos os prejuízos causados ao patrimônio público durante os protestos para ajuizar a ação que vai cobrar o ;ressarcimento aos cofres públicos contra os organizadores, ou seja, as centrais sindicais.;


Sem expediente

Os danos da manifestação alteraram, ainda, o expediente dos servidores. No Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Agrário e o Ministério da Cultura só terão expediente na semana que vem. Os dois ministérios foram invadidos e precisaram ser evacuados após manifestantes atearem fogo em salas. No Ministério da Cultura, as pedradas chegaram às janelas do 8; andar, que racharam com o impacto. Perplexos, muitos servidores tiravam fotos dos prédios, das pichações nas paredes com frases de ordem, e daquilo que sobrou dos ambientes de trabalho. Alguns, inclusive, relataram que, com a confusão, não sabiam se haveria expediente.

No momento de tensão em que os prédios tiveram que ser evacuados, Paulo Rezende, 37 anos, disse que todos os trabalhadores saíram de forma tranquila, e sem alarme. Segundo o servidor público, foi possível sair com calma pelos anexos que ficam aos fundos dos prédios dos ministérios. ;Em dez, quinze minutos todos já estavam liberados e fora do prédio;, contou. Mas, ainda assim, para ele, é difícil chegar no dia seguinte e encontrar o local depredado. ;Tem que identificar as pessoas que fizeram isso. Alguém tem que pagar.;

Fuzis sem balas

Fuzis usados por parte dos militares durante a vigência do decreto para garantir a ;lei e a ordem; no Distrito Federal estavam sem balas. A partir de uma sequência de fotos do Correio na Esplanada dos Ministérios, é possível perceber que as armas de calibre 7,62, mais conhecidas como Fal (fuzil automático leve), estavam sem carregadores. Especialistas em armamentos afirmaram à reportagem que os carregadores são as peças responsáveis por alimentar a arma e, sem eles, os fuzis estavam inoperantes. Ao cercarem os prédios da Esplanada, a maioria dos militares fazia uma espécie de policiamento ostensivo apenas.


Cinco perguntas para: Raul Jungmann, ministro da Defesa

O que motivou o governo a utilizar tropas das Forças Armadas na Esplanada?
Isso foi feito para conter o vandalismo e a depredação que estavam ocorrendo aqui no local. Foi uma medida necessária para manter a ordem.

Como o senhor avalia a atuação das tropas federais?

Havia pessoas desesperadas em meio ao protesto e que estavam correndo risco de vida. Os militares atuaram sem nenhum conflito ou confronto. Assim que o governo viu que a ordem estava retomada, suspendeu o decreto que manteve os militares atuando nas ruas de Brasília.

O decreto que estabeleceu o estado de ;garantia da lei e da ordem; foi necessário?

Essa medida já foi usada nas Olimpíadas, no Espírito Santo e em Pernambuco, em meio às explosões de violência e sempre com sucesso e trazendo de volta a tranquilidade. É uma medida que ocorre em acordo com o artigo 142 da Constituição.

O governo federal não viu a necessidade de informar ao GDF sobre a decisão?
Atuamos em conjunto, pois o secretário de Segurança se reuniu com o comandante da operação e passou a traçar um plano para atuar no protesto. Logo depois que foi decretado, o governador do DF nos ligou e foi informado sobre o decreto e os motivos de urgência nesta decisão.

Essa atitude não cria um conflito?
Isso não significa de maneira nenhuma nenhum desprestígio ou desapreço pela posição do governador e tampouco pelo DF. Mas como se tratava de um pedido de outro poder, e não do governador, entendeu o presidente que primeiro tinha que resolver essa situação e em seguida fazer o comunicado ao governador.

*Colaborou Rodolfo Costa