Paulo de Tarso Lyra
postado em 02/06/2017 06:30
Convocado para uma reunião com o presidente Michel Temer hoje, no Palácio do Planalto, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, não vai mais ao Rio Grande do Sul, acompanhado do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello. Eles participariam da posse do novo superintendente estadual da PF, mas Temer pediu para que seu novo ministro permanecesse em Brasília. Mesmo assim, aliados do Planalto e interlocutores da PF afirmam que não há, a curto prazo, sinais de que Daiello poderá perder o posto.
;Os acenos que temos recebidos são de um pedido de trégua e espera, após o impacto negativo gerado pela escolha do novo ministro para o cargo;, confirmou o deputado Fernando Francischini (SD-PR), um dos principais interlocutores da PF junto ao governo federal. ;O discurso de posse e a entrevista dada pelo novo ministro foram bons, ao deixar claro que a Lava-Jato é uma questão de Estado, não de governo;, destacou ele.
[SAIBAMAIS]A incerteza quanto à permanência do atual diretor-geral ainda preocupa a Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal. ;Desde o ano passado, havia conversas de que haveria uma troca do diretor-geral e a categoria se preparou para evitar que uma troca parasse as investigações. Na época, foram indicados três colegas e a escolhida foi a delegada Erica Marena. Os delegados mantêm essa indicação. Se for trocar, que troque pela delegada Érica, apontada pela categoria em lista tríplice. Ela integrou a coordenação da Lava-Jato;, defendeu o presidente da ADPF, delegado Carlos Eduardo Sobral.
Interferências
O deputado Francischini não acredita que o novo ministro tentará interferir nos rumos da operação. Até porque não tem espaço para isso. ;A função, tanto do ministro da Justiça quanto do diretor-geral da PF, é dar tranquilidade administrativa e operacional à ação dos agentes. Se algum deles tentar frear ou tolher a Lava-Jato, receberá ordem de prisão de Sérgio Moro;, alertou o parlamentar paranaense.
Daiello está no cargo desde janeiro de 2011. Por diversas vezes, ensaiou deixar o posto, tanto no governo Dilma Rousseff quanto no início da gestão Michel Temer. Sempre foi contido pelos titulares da Justiça, justamente por ser uma área extremamente sensível. ;A opinião pública não vai deixar que mexam na Lava-Jato. Se isso acontecer, a pressão será gigantesca;, garantiu um agente que já atuou na linha de frente das investigações.
Esse mesmo servidor lembrou, também, que tolher o trabalho da PF não significa êxito em coibir as investigações dos casos de corrupção. ;A Lava-Jato, hoje, depende muito mais do Ministério Público, da Justiça Federal e do STF;, reservando-se à Polícia Federal o lado operacional das ações. Existe, inclusive, um atrito entre PF e MP em torno de quem teria condições legais de celebrar os acordos de delação premiada.