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Depoimento de Loures e julgamento da chapa Dilma-Temer agitam semana

Atos podem ser determinantes para o governo manter a base de apoio no Congresso. Ministros do PSDB se reúnem com presidente e garante permanência

Antonio Temóteo
postado em 05/06/2017 06:00
O possível depoimento do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) à Polícia Federal (PF) hoje e sua transferência do Setor Policial Sul para a Papuda serão os primeiros atos de uma semana com potencial para abalar a República. Preso desde sábado, ele pode informar aos investigadores detalhes da relação dos irmãos Batista, da J com outros empresários e políticos ; Loures foi assessor especial do presidente Michel Temer. As pressões sobre o chefe do Executivo continuarão na noite de amanhã, com o início do julgamento, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), da chapa que dividiu com a ex-presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2014.

O defensor de Loures, Cezar Bitencourt, tenta adiar o depoimento do cliente para a tarde de quarta-feira. Mas a PF informou ontem que a programação original, com depoimento hoje, está, a princípio, mantida. Além disso, Bitencourt pretende ingressar imediatamente com um pedido de liberdade no Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-deputado e Temer são investigados por corrupção, obstrução de justiça e organização criminosa.


A postergação do interrogatório interessa ao Planalto, onde se teme que o vazamento de trechos do depoimento poderiam influenciar o julgamento no TSE.
O advogado Gustavo Guedes, que defende Temer no TSE, atribuiu ao Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, a tentativa de influenciar a Corte com a prisão de Loures. ;Estamos indignados com a tentativa de atuação política do Ministério Público;, afirma.

Votações

Amanhã, o dia promete ser ainda mais agitado, com a discussão de projetos importantes no Congresso Nacional. As habilidades políticas de Temer para reconstruir a base aliada serão testadas na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, que votará a reforma trabalhista pela manhã.

A proposta enfrenta forte resistência da oposição e de vários governistas, entre eles, o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL). Na Câmara dos Deputados, o plenário pode votar à tarde outro projeto polêmico, que permite o controle acionário das companhias aéreas brasileiras por capital estrangeiro. Mais do que essas regras, porém, o que estará em jogo é se o governo ainda tem força para aprovar outras propostas, como a mudança nas regras para concessão de benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Mesmo pressionado, o presidente da República tem gastado energias para evitar o desembarque de partidos aliados. Ontem, ele recebeu, no Palácio do Jaburu, ministros do PSDB, que garantiram que, por ora, continuarão na base. Maior agremiação depois do PMDB, os tucanos são fundamentais para que Temer mantenha alguma chance de governabilidade e que o Congresso aprove reformas, mesmo que desidratadas. Uma possível ruptura poderia estimular outros partidos a abandonarem o Executivo. Participaram do encontro o secretário de Governo, Antonio Imbassahy, além dos ministros das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, e das Cidades, Bruno Araújo.

A executiva nacional do PSDB se reúne na próxima quinta-feira, após convocação do presidente do partido, senador Tarso Jereissati (CE). Desde a abertura do inquérito para investigar Temer, a ala mais jovem dos tucanos pressiona para que a agremiação deixe a base de apoio ao governo. Na Câmara, a bancada, com 46 deputados, está rachada. Uma eventual ruptura, no entanto, depende do aval do colegiado.

Líderes divergem sobre efeito de prisão

A prisão do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e o julgamento do pedido de cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dividem integrantes da base aliada. Os parlamentares governistas mais próximos do presidente da República avaliam que o Legislativo continuará a trabalhar normalmente. Líderes de partidos que mantêm cargos na Esplanada dos Ministérios, entretanto, destacam que uma eventual decisão desfavorável ao chefe do Executivo ou a divulgação de fatos comprometedores, durante o depoimento de Loures, podem levar diversas agremiações a romper com o governo.

Na opinião do deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), vice-líder do partido e próximo de Temer, o governo continua a trabalhar normalmente e a semana será normal como outra qualquer. Ele comenta que a prisão de Rocha Loures não preocupa a legenda e, mesmo após a divulgação da conversa entre o presidente da República e Joesley Batista, da J Investimentos, os opositores tentam criar instabilidade. ;Vamos continuar a trabalhar para consertar o país;, destaca.

O parlamentar ainda ressalta que o julgamento no TSE será eminentemente técnico e mesmo o vazamento de um possível depoimento do ex-deputado preso não deve afetar o processo. Vieira alerta que as investigações em curso no STF não têm relação com o tema que será tratado pela corte eleitoral. ;O último juiz que tomou uma decisão levando em consideração a opinião pública foi Pôncio Pilatos. Ele soltou os bandidos e crucificou o santo;, diz.

Estabilidade

A opinião não é compartilhada pelo líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB). Para ele, a semana será decisiva para o governo e tem gerado expectativa na base aliada. Efraim destacou que uma decisão favorável a Temer dará fôlego para que continue no Palácio do Planalto, mas uma eventual condenação o deixa em uma situação complicada. ;O desembarque da base aliada ainda não é tratado pelo nosso partido. Nossa relação é de estabilidade. O próprio ministro da Educação, Mendonça Filho, não cogitou deixar o cargo;, afirma.

Apesar de garantir fidelidade ao governo, Efraim admite que fatos novos podem levar o partido a deliberar sobre um eventual desembarque. Para ele, a prisão de Rocha Loures após ele deixar a Câmara dos Deputados foi inusitada. ;Quando analisamos esse caso e comparamos com outros, percebemos que há uma celeridade direcionada para o processo que investiga as relações do presidente Temer com executivos da J. Gostaríamos de ver a mesma celeridade em outros processos;, afirmou.

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