Paulo de Tarso Lyra
postado em 14/06/2017 06:00
A Executiva Nacional do PSDB de segunda-feira, que decidiu, em votação simbólica, não desembarcar do governo de Michel Temer, manteve aberta a divisão da legenda. Esse incômodo foi explicitado ontem pelo jurista e ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, autor do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, que vai se desfiliar do partido. ;Eles não avaliaram que lideranças e simpatizantes do partido se opõem a essa decisão. O PSDB não atendeu suas bases, cujo eleitoral tem como foco a ética e a luta contra a corrupção;, reclamou o jurista.
Interlocutores tucanos reconhecem que as palavras duras de Reale Júnior são péssimas para a imagem do partido. Embora ele não seja parlamentar ; ;não tem votos, tentaram minimizar alguns; ;, a verdade é que Reale é muito respeitado no Sul e Sudeste, especialmente em São Paulo, nascedouro do partido. E não há como dissociá-lo do processo de impeachment de Dilma, quando ao lado da advogada Janaína Paschoal, fez a sustentação jurídica pelo afastamento, tanto na Câmara quanto no Senado. ;Não podemos, agora, virar as costas para alguém que aplaudimos no ano passado;, reconheceu um cacique do PSDB.
O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Trípoli (SP), reuniu ontem a bancada de deputados para comunicar a decisão tomada na segunda-feira. Ele evitou dizer que a legenda vai lutar pelo governo, complementando que o partido vai ;defender o Estado Brasileiro;, mas não acredita que haja um movimento de debandada do partido por conta das insatisfações internas. ;O PSDB é um partido democrático. A decisão foi democrática e, quando isso acontece, a minoria se rende à maioria;, complementou Trípoli.
O casamento entre PSDB e PMDB de Temer, no entanto, tem data para terminar. Em tese, em abril do ano que vem, quando os ministros-candidatos ; Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores) e Bruno Araújo (Cidades) ; deixarão os cargos para concorrer nas eleições de outubro de 2018.
Avaliações
Por enquanto, o partido acredita que conseguiu controlar a saída de alguns cabeças-pretas, que defendiam com mais ênfase o desembarque. Como apurou o Correio na semana passada, o mais suscetível a uma troca de legenda seria o deputado Daniel Coelho (PE), que se filiou ao PSDB em 2012, vindo do PV, e conversaria com o PSL. ;Tenho muitos amigos no PSL, mas não estou conversando com ninguém sobre deixar o partido;, disse Coelho.
O deputado pernambucano elogiou o trabalho feito pelo presidente nacional da legenda, senador Tasso Jereissati (CE), e pelo líder Ricardo Trípoli (SP) para tentar manter uma unidade na legenda. Mas não acredita que a reunião da Executiva vai calar os insatisfeitos. ;Como foi uma reunião simbólica, sem votação nominal, aqueles que defendem o desembarque continuarão defendendo;, apostou Daniel Coelho.
Esse incômodo também é percebido por Tasso Jereissati, que confirmou, ontem, ter sido voto vencido na decisão quanto à permanência do partido no governo. Durante a tensa reunião da Executiva, na segunda-feira, Tasso afirmou que a sigla vive o momento mais difícil de sua história e lembrou a postura adotada pelo PSDB em 1992, quando o partido decidiu não integrar o governo Collor, que vivia seus estertores. ;Nós estamos virando as costas para nossa própria história e perdendo o respeito perante a opinião pública;, reforçou o senador cearense.
O partido também decidiu que vai recorrer, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), da decisão tomada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de absolver a chapa Dilma-Temer. É preciso antes, no entanto, aguardar a publicação do acórdão do julgamento, o que só deve ocorrer no fim do mês. Para alguns, parece incongruência manter o apoio ao governo e recorrer contra a absolvição doTSE.
A explicação é que a história acabou empurrando o PSDB para essa incongruência. ;Nós não votamos neste governo, não votamos no PT e no PMDB. Achávamos que existiam fatos graves que ajudaram a eleger essa chapa e esses fatos foram comprovados;, explicou o deputado Nárcio Rodrigues (MG).
Mas ele mesmo lembrou que o partido não poderia virar as costas para a grave crise econômica vivida pelo país. ;Não podemos esquecer que temos 15 milhões de desempregados no país. Não podemos virar as costas para essa realidade por conta de um projeto de poder para 2018;, completou o deputado mineiro.