Agência Estado
postado em 20/06/2017 20:39
No relatório parcial encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal argumenta que o próprio presidente Michel Temer confirmou em discurso público ter indicado seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures como interlocutor para o empresário Joesley Batista, do grupo J, dono da JBS. Rocha Loures foi flagrado, em ação controlada da PF, correndo com uma mala de R$ 500 mil entregue por um executivo da JBS.
A afirmação da PF sobre a indicação de Rocha Loures está no item 2.2 do documento que versa sobre as "suspeitas de corrupção em razão de interferências em processo submetido ao Cade". Para os investigadores, a indicação exposta na gravação feita por Joesley no Palácio do Jaburu foi confirmada pelo próprio presidente em seu discurso em 18 de maio do Palácio do Planalto
No discurso, Temer disse: "não há crime, meus amigos, em ouvir reclamações e me livrar do interlocutor, indicando outra pessoa para ouvir as suas lamúrias;". Para a PF, "malgrado o esforço em alterar a conotação" do presidente, a indicação foi confirmada no discurso.
"A premissa básica para o entendimento deste particular reside, justamente, no trecho do dialogo (..) em que, ao ser questionado por Joesley Batista sobre o canal de comunicação a ser adotado a partir de então - em substituição a Geddel Vieira Lima - o Exmo. Sr. Presidente da Republica indicou, nitidamente, "Rodrigo", ou seja, Rodrigo da Rocha Loures", diz o relatório sobre o áudio gravado por Joesley.
Para confirmar que Geddel era o antigo interlocutor de Temer, a PF ainda utilizou os depoimentos do corretor Lucio Bolonha Funaro, apontado como operador financeiro do PMDB da Câmara, grupo político de Temer, e do diretor Jurídico do Grupo J, Francisco de Assis e Silva.
Funaro confirmou à PF a existência de um canal de comunicação entre Joesley Batista e o governo federal. Segundo o corretor, preso na Papuda, Geddel Vieira Lima teria lhe confidenciado que manteve contato com Joesley em seu apartamento na Bahia e que, por mensagem de telefone, Geddel contou que o empresário aproveitava os encontros para fazer reivindicações de seu interesse.
Assis e Silva, por sua vez, narrou que Geddel "era pessoa que fazia a interlace entre Joesley e o Palácio e que falar "com Geddel era o mesmo que falar com Michel Temer". Interrogado pela PF, Geddel ficou em silêncio.
Defesa
O advogado do presidente Michel Temer, Antonio Claudio Mariz, informou nesta terça que a defesa entende ser desnecessário "qualquer pronunciamento neste momento" em relação ao relatório parcial enviado pela PF ao STF.
Apesar da negativa, Mariz criticou a conduta da PF. "Não vamos responder, pois na verdade um relatório sobre investigações deveria ser apenas um relato das mesmas investigações e não uma peça acusatória. Autoridade policial não acusa, investiga", afirmou.
O Palácio do Planalto também tem evitado comentar o tema e ao ser questionado oficialmente sobre o andamento das ações da PF diz apenas que os advogados do presidente é que se pronunciam sobre o caso.