Natália Lambert
postado em 30/06/2017 19:36
Em contraponto ao meio da semana, às sextas-feiras pela manhã no Senado costumam ser serenas. Para aqueles que acompanham de perto as atividades legislativas, é comum se deparar com os mesmos três ou quatro senadores que aproveitam a tranquilidade para realizar sessões de debates. Só que a normalidade anda meio esquisita no meio político. Até em um plenário vazio, dois senadores conseguiram bater boca sobre a reforma trabalhista, prevista para ser apreciada na próxima semana.
Determinado a derrubar a proposta apresentada pelo governo e aprovada pela Câmara, o senador Paulo Paim (PT-RS) convidou o senador Cristovam Buarque (PPS-DF), na noite da quinta-feira, para a sessão porque são necessários, no mínimo, dois senadores para que ela seja aberta oficialmente. ;Encerramos essa sessão informal de um debate que não houve;, terminava Paulo Paim, visivelmente irritado, cerca de 40 minutos depois. Pelo outro lado, Cristovam saia ofendido.
A rusga começou quando Cristovam tentou defender a intrajornada ; a redução do intervalo de almoço para meia hora prevista no projeto. ;Já vi que a sua proposta é semelhante a uma que tem na Câmara, de um deputado que é favorável a 18h de trabalho. A sua linha de raciocínio me lembra o tempo dos escravocratas;, rebateu Paim. A comparação irritou Cristovam. ;Não me confunda com esse tipo de gente. O senhor sabe pelo que eu luto. E eu luto para completar a abolição da escravatura que ainda não foi completada.;
Na sequência, o senador do Distrito Federal afirma que a escravidão no país só vai acabar quando o filho do trabalhador estiver na mesma escola que o filho do patrão. ;E, para isso, não vejo o apoio de ninguém aqui. Quando falo que tem ter dinheiro para escola e não para estádio, o senhor defende o contrário. Como o seu governo fez nesse país;, lançou para o gaúcho. ;Governo que vossa excelência fez parte;, lembrou Paim. A partir daí os ataques foram para o lado pessoal:
; ;Fiz parte sim e saí;, disse Cristovam.
; ;Saiu porque foi posto na rua;, respondeu Paim ao lembrar que Cristovam foi demitido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do cargo de ministro da Educação.
; ;Fui posto para rua com muito orgulho, senador. Agradeço a Deus;, falou Cristovam.
; ;E depois traiu sua presidenta;, comentou Paim.
; ;Vou embora porque não dá para debater com Vossa Excelência. Achei que o nível seria outro (...) O senhor está muito agressivo;, falou Cristovam.
Por mais uns dois minutos, os parlamentares seguiram com as ofensas e Cristovam saiu do plenário encerrando uma sessão celebrada no início por ser amigável e livre.
Clima
Questionado sobre a briga, com a cabeça mais fria, Paim afirmou que o conflito é reflexo do clima tenso que ronda o país e ;infelizmente, uma preliminar do que vai acontecer na próxima semana;. ;Nós sempre nos demos muito bem, mas esse acirramento só se deu devido a esse clima tão tenso. Estão faltando lideranças que se sentem e construam uma saída para o país. Aí, os ataques acabam virando pessoais e beiram quase a agressão física;, comentou lembrando que não tem nada contra o colega.
Cristovam afirmou que o clima no país esteja impossibilitando o diálogo entre as pessoas, em especial, entre parlamentares. ;O parlamento deixou de ser um lugar que parlamenta. Os ânimos estão tão acirrados que as pessoas não querem mais ouvir opiniões divergentes. E, infelizmente, o país ainda vai demorar muito para voltar a ser um lugar onde as ideias são respeitadas porque, hoje, não se busca coesão, se busca divisão e isso não é pensar no futuro;, lamentou.