Ana Dubeux
postado em 09/07/2017 10:07
O país atravessa, aos trancos e barrancos, a maior crise política de sua história. Os reflexos na economia são visíveis e obedecem às oscilações próprias da Operação Lava-Jato e das decisões judiciais decorrentes das investigações. Mas há uma consequência até mais grave à espreita. Na medida em que se aproximam as eleições, fica mais evidente o tamanho da descrença com a classe política e o quanto essa desilusão é elástica. O fato é que sobrou para todo mundo. O brasileiro já não se surpreende tanto com a corrupção, um monstro feroz com múltiplos tentáculos que se apropriou de nossas riquezas de forma tão sistemática quanto duradoura. O problema agora é que esse monstro passou a ter nomes e caras, tantos que se tornou irreconhecível.
Esse desenho desfigurado se tornou a face de todos os políticos. O brasileiro passou a temer e a rejeitar todo e qualquer cidadão eleito. Desconfia de todos. Dos neófitos na política aos velhos figurões, citados ou não na Lava-Jato. Na esfera nacional ou local. Pesquisa feita entre 1; e 5 de julho, pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados, publicada hoje com exclusividade pelo Correio, mostra o tamanho do estrago e do pessimismo do brasiliense em relação à política. Foram ouvidas 1 mil pessoas em 23 regiões administrativas.
Nenhum político do Distrito Federal, entre os citados na pesquisa, teve índice de rejeição abaixo de 60%. Independentemente de partido ou de envolvimento com denúncias, a população brasiliense segue uma tendência já observada em âmbito nacional. Simplesmente, não quer saber de quem tem mandato. E o pior: também não consegue citar novos nomes de pessoas que poderiam concorrer às eleições locais de 2018. Ou seja, há um cenário de pessimismo e de total indefinição. Rodrigo Rollemberg, o atual governador, tem rejeição espantosa. Mas outros políticos conhecidos do DF de vários partidos não ficam muito atrás.
O fato é que, depois de testemunhar tantos escândalos, com cenas grotescas e áudios vergonhosos, de dinheiro na cueca a conversas nada republicanas, o eleitor cansou. Já não distingue os bons dos maus, nem acredita em mudança, nem espera melhora nos serviços prestados, pelo menos que venha dos políticos.
Não se sabe ainda qual será o troco do eleitor nas urnas. Mas é clara a negação à classe política, que chega a ser perigosa, embora compreensível. Até por isso, a Lava-Jato deve continuar com força. Com a punição de todos os culpados, talvez essa massa amorfa, que passou a ser a face de todos os políticos, se dissolva e o eleitor possa fazer suas escolhas com mais certeza e mais consciência.