Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na frente em todas as pesquisas eleitorais, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) defende que a única saída para a crise política do país é a eleição direta, sendo por meio da convocação de um novo pleito ou antecipando o de 2018: ;Não vamos aceitar outra saída. Não interessa se quem vai ganhar é o PT, o PSDB ou o DEM. Para nós, interessa que o povo retome as rédeas do seu destino. É pela democracia.; Ela faz questão de mandar o recado: os petistas que articularem na Câmara para Rodrigo Maia (DEM-RJ) assumir a Presidência no lugar de Michel Temer serão desautorizados. E Gleisi afirma: Lula é o plano A, B e C do PT. Questionada sobre uma possível condenação judicial do ex-presidente, que o deixaria inelegível, a senadora diz que não há provas no processo e admite que o partido não considera alternativas.
;Uma condenação em cima do Lula é política. Vamos nos movimentar e vamos gritar em alto e bom som que não é uma condenação legítima, que é uma fraude. Ou deixam o Lula participar e ganham dele nas urnas ou vão estar dando um novo golpe;, comenta, dizendo que o partido denunciará o caso até internacionalmente. À frente do PT pelos próximos dois anos, Gleisi acredita que um dos piores erros da legenda enquanto estava no poder foi em 2015, quando o então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, aplicou medidas de ajuste fiscal e austeridade no orçamento, o que teria aprofundado a recessão do país. ;A mea-culpa não é a melhor resposta. A autocrítica, na prática, é. O PT está se reposicionando ao lado do povo brasileiro nas suas lutas para enfrentar o desmonte do Estado brasileiro e não titubear em nenhum momento com essa gente que sucedeu a Dilma.;
Como a senhora assume o PT em um momento tão complicado? É hora de uma renovação?
Para mim, é um grande desafio presidir o PT, pois é o maior partido de oposição do Brasil, o maior partido de esquerda da América Latina, tem influência e é referência na atuação de muitas organizações sociais. Então, assumir esse partido, principalmente no momento em que estamos vivendo uma situação de exceção, de desconstrução dos direitos dos trabalhadores, é uma grande responsabilidade. Não diria uma renovação. Há um reposicionamento claro do partido. Nós éramos governo, estamos na oposição e temos clareza de qual é nosso papel nesse sentido: é não compactuar com o que está colocado aí e defender o povo brasileiro.
O PT demorou a entender que voltou para a oposição?
Não, isso está claríssimo. Desde o primeiro momento, quando iniciou o processo de impeachment da presidente Dilma, nós já tínhamos claríssimo que, se ela saísse, a nossa posição seria forte e firme na oposição de quem entrasse em seu lugar. Isso foi um golpe contra a democracia e não podemos aceitar.Há uma possibilidade agora de Michel Temer sair da presidência e Rodrigo Maia assumir. Na época em que ele disputou a presidência da Câmara, contou com alguns votos petistas. Qual seria a postura do PT com Maia no Planalto?
O PT não apoiou a eleição de Rodrigo Maia na Câmara. A posição formal da bancada foi não apoiar o Rodrigo Maia. Nós fizemos uma discussão intensa no partido sobre apoio ou não aos golpistas, tivemos até um problema no Senado, que chegou a ter um racha na bancada, mas a posição na Câmara foi de não apoiar. Se alguém apoiou, não sei. Somos contra desde o início a apoiar golpistas. Nós não reconhecemos Rodrigo Maia como presidente legítimo e não vamos aceitar que algum deputado apoie isso. Inclusive, a saída do Temer só tem sentido se ela for seguida de uma convocação de eleições diretas ou da antecipação das eleições de 2018. Se não, é trocar seis por meia dúzia. Para nós, não tem nenhuma diferença entre Rodrigo Maia e Michel Temer.
Então, um governo de Maia não interessa ao PT?
Não nos interessa. O PT não vai apoiar. Para nós, é farinha do mesmo saco. Não tem nenhuma possibilidade de mediação, de transição. Eu vi o presidente do PSDB (Tasso Jereissati) dizendo que é preciso fazer uma transição com Rodrigo Maia e que vão chamar os partidos da oposição para conversa. Ele que não conte com o PT. O PT não estará nesse processo. Rodrigo Maia é tão perverso quanto Temer para o Brasil. É o homem das reformas contra os trabalhadores, que fez passar a reforma trabalhista, a emenda constitucional 95 (que estabelece um teto para os gastos públicos). Nós queremos eleição direta. É transição em cima de quê, dos direitos dos trabalhadores? É transição em benefício de quem, dos interesses do capital financeiro? Não, isso não está na nossa pauta.
;O PT não estará nesse processo. Rodrigo Maia é tão perverso quanto Temer para o Brasil;
Uma eleição direta agora é boa para o PT?
Não é para o PT. Uma eleição direta é boa e necessária para o Brasil. Só o voto, a legitimidade, pode trazer estabilidade para o país. As pessoas estão dizendo que nós defendemos uma eleição direta porque o PT está bem. Interessante isso. O PT foi desconstruído, cassado, denunciado, fizeram as maiores acusações contra o PT e contra o Lula. Você faz uma pesquisa e o PT é o partido de preferência nacional e o Lula está à frente. Aí você faz um movimento por eleições diretas e não querem porque acham que o PT vai ganhar? Só tem um jeito de salvar esse país, e é fazendo eleição direta. Não vamos aceitar outra saída. Para nós, não interessa se quem vai ganhar é o PT, o PSDB ou o DEM. Para nós, interessa que o povo retome as rédeas do seu destino. É pela democracia.
E quem seria o candidato do PT?
É o Lula. Lula agora, Lula em qualquer momento. É a nossa candidatura. Já digo desde agora, não temos plano B. O Lula é nosso plano A, B e C.
Mas houve um movimento do senador Lindbergh Farias (RJ) com outros partidos de oposição para construir um nome alternativo.
O senador Lindbergh não está fazendo outro nome. Ele é um dos nossos parlamentares mais ativos na defesa do presidente Lula. Não tem dentro do PT quem pense em alternativas. Essa questão de ter feito uma reunião com forças de esquerda, não vejo problema nisso. Nosso caminho tem que ser pela esquerda. Nós estamos dispostos a conversar. Já procurei o PSol, o PCdoB, o PDT, o PSB. A gente quer construir um programa de centro-esquerda para o Brasil.
E se o Lula ficar inelegível ou for condenado? Não era o caso de o partido preparar outro candidato?
A condenação de Lula nesses processos é uma condenação política, e não vamos aceitar. Não tem provas. A Justiça acabou de inocentar o João Vaccari (ex-tesoureiro do partido) por falta de provas. Qual é a prova concreta que se tem contra o presidente Lula? Nenhuma. Só há provas de sua inocência. Uma condenação em cima do Lula é política. Vamos nos movimentar e vamos gritar em alto e bom som que não é uma condenação legítima, que é uma fraude. Ou deixam o Lula participar e ganham dele nas urnas ou vão estar dando um novo golpe, que será uma fraude eleitoral. Vamos denunciar até internacionalmente.
Mas não se vê essa movimentação toda nas ruas, esse apoio popular pelas diretas. Por quê?
As diretas ainda não tocaram o coração das pessoas, mas elas estão muito mobilizadas contra as reformas, tanto a trabalhista quanto a previdenciária. Na questão das eleições diretas, as pessoas ainda estão muito reticentes em relação à política. Como a questão eleitoral é uma questão de política pura, não é uma bandeira de direitos que as pessoas reconheçam imediatamente, não há muita sensibilidade. O que temos que fazer é traduzir para as pessoas que esse tipo de saída que está aí é a desconstrução do Estado brasileiro, o desmonte. É o que estamos vendo. Nós não temos dinheiro para as questões básicas. Vão cortar a educação, não temos dinheiro para a Polícia Rodoviária Federal resgatar acidentados nas estradas, paramos de emitir passaportes, a farmácia popular está falindo, estamos sem recurso para o Bolsa Família.
O governo do presidente Michel Temer diz que isso é herança que ele recebeu do governo da Dilma.
Ele foi a única herança maldita que deixamos, porque o que eles fizeram foi aprofundar a recessão. De fato, 2015 foi um ano muito ruim para nós com Joaquim Levy no Ministério da Fazenda. Ele começou a fazer essas medidas de ajuste fiscal e de austeridade no orçamento público e, graças a Deus, não conseguiu fazer tudo. Tiramos ele antes de concluir o ciclo. Só que o Temer entrou, pegou a mesma agenda, botou o (Henrique) Meirelles, botou um banqueiro no Banco Central, e fez todas as barbaridades que poderia fazer em termos de austeridade.
Mas, senadora, o Meirelles foi o nome sugerido por Lula para a Dilma colocar no Ministério da Fazenda.
Meirelles foi presidente do Banco Central do Lula e nós não tivemos retrocesso. Sabe por quê? Porque é a política que tem que dar a direção, não a economia. Se a política tiver clareza, você sabe direcionar a economia para que ela sirva a um objetivo político. Então, se o Meirelles estivesse sob a tutela de Lula, eu não me preocuparia porque o Lula tinha clareza, tinha política, sabia utilizar o Banco Central para fazer os mecanismos de avanço.
A população anda muito descrente da classe política. E o PT, quando estava no governo, teve o mensalão. Aí, parece que o partido não aprendeu, e veio o petrolão. Houve todo aquele roubo na Petrobras, que só aumentou durante a gestão da Dilma. Que resposta dar a esses escândalos?
Nós já estamos dando a resposta. A mea-culpa não é a melhor resposta. A autocrítica, na prática, é. O PT está se reposicionando ao lado do povo brasileiro nas suas lutas para enfrentar o desmonte de Estado brasileiro e não titubear em nenhum momento com essa gente que sucedeu a Dilma. E não vai mais aceitar financiamento de empresas privadas em suas campanhas. Já estamos fazendo a diferença.
;O PT foi desconstruído, cassado, denunciado, fizeram as maiores acusações contra o PT e contra o Lula. Você faz uma pesquisa e o PT é o partido de preferência nacional e o Lula está à frente. Aí você faz um movimento por eleições diretas e não querem porque acham que o PT vai ganhar?;