Bernardo Bittar
postado em 15/07/2017 08:00
Embora comece a atuar como procuradora-geral da República apenas em setembro, a futura PGR, Raquel Dodge, começou a compor o novo gabinete. O quinto andar do prédio espelhado às margens da L4 Sul deve abrigar em dois meses os procuradores regionais Alexandre Camanho, Alexandre Espinosa, Raquel Branquinho e José Alfredo de Paula Silva. Ao contrário do atual ocupante do cargo, Rodrigo Janot, cuja prioridade eram investigações políticas, Dodge deve dar mais atenção às minorias e ampliar a atuação do Ministério Público Federal (MPF), hoje muito ligada ao combate à corrupção no país. O que muda na prática é a abrangência e as prioridades do Ministério Público.
Raquel Dodge, agora à frente de uma carreira composta majoritariamente por homens, evita dar declarações fora dos autos. Prefere ficar longe dos holofotes e deve trabalhar temas mais sensíveis, como direitos humanos, incluindo a área prisional e questões indígenas, meio ambiente e saúde pública, jogados para escanteio em tempos de Lava-Jato e de denúncias presidenciais. Não se trata de deixar a corrupção de lado, mas realocar equipes para dar conta de fazer mais coisas. A futura procuradora-geral sinalizou essa atitude há tempos, e inclusive chegou a declarar que ;no dia em que o Ministério Público não cumprir seu papel social, terá que se extinguir;.
[SAIBAMAIS]O procurador regional da República Alexandre Camanho, ex-presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), é cotado para assumir um cargo de destaque na administração. Ele seria uma espécie de chefe de gabinete, e contaria com a experiência de quem está há quase 25 anos como servidor efetivo do Ministério Público. O tempo aumenta se for contabilizado o período em que ele trabalhou como assessor, a convite do então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Francisco Rezek.
Investigações
Na mesma equipe, a procuradora Raquel Branquinho, também respeitada no MPF, é nome certo na área penal. À imprensa, já declarou ser uma ;faz tudo; dentro da PGR. Ela foi a responsável pelas investigações contra o banqueiro Salvatore Cacciola ; solto pouco tempo depois por uma liminar do ministro Marco Aurélio ; e ficou conhecida nacionalmente ao investigar a participação indevida na renovação de um contrato envolvendo loterias entre a empresa de tecnologia Gtech e a Caixa Econômica Federal.
Atuou, também, na força-tarefa montada para desmembrar a chamada Operação Zelotes, que apurou o pagamento de propina a funcionários do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) para que multas aplicadas a empresas (entre bancos, montadoras e empreiteiras) fossem reduzidas ou anuladas. Neste último caso, também participou o procurador José Alfredo de Paula Silva, que, como possível integrante do gabinete, poderá trabalhar novamente em conjunto com a colega.
José Alfredo ingressou no MPF em 2003. É procurador regional da República desde 2014, e sempre trabalhou nas áreas administrativa e eleitoral, com alguns trabalhos envolvendo improbidade administrativa. Entre os mais importantes, além do já citado, estão os casos do mensalão e do escândalo de gastos na Universidade de Brasília (UnB). O nome do procurador regional Alexandre Espinosa também é citado entre os possíveis integrantes na nova gestão.
Embora a distribuição de cargos no gabinete de Dodge seja um dos assuntos mais comentados nos corredores da PGR, parece que a preocupação da futura procuradora-geral é mesmo tomar pé do que está acontecendo na instituição que ela comandará em breve.