Só faltava mesmo uma briga na equipe econômica para formar uma tempestade perfeita no governo Michel Temer. Segundo analistas de mercado, a queda de braço entre o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, e o da Fazenda, Henrique Meirelles, é antiga, mas cresceu com a prática reiterada do presidente da República de expandir os gastos e liberar emendas parlamentares para se livrar das acusações do empresário Joesley Batista. Dyogo, dizem, foi usado ingenuamente até por inimigos próximos, e não percebeu. Caiu na armadilha que poderá significar seu adeus à Esplanada e ainda criou sérios transtornos que terão de ser consertados.
Meirelles ; garantem ; está tranquilo. Ele sabe que é fundamental para dar continuidade às reformas e está ciente de que, se abandonar o barco, dificilmente outro timoneiro com igual capacidade vai querer assumir seu lugar. Do alto de sua competência, reconhece que quem corre sério risco, se ele sair, é Michel Temer, que verá cair por terra os esforços para a estabilidade da economia. Observadores confirmam os boatos de que Meirelles, acostumado a atrair todas as atenções, ficou ;triste; ao constatar que Dyogo, inexperiente, se deixou levar pelo ;canto da sereia; dos políticos de plantão, que acenaram para ele com a possibilidade de se tornar a ;pauta do dia;.
;Ontem, ficou evidente que havia algo errado. O Planejamento precisou dar explicações sobre o PDV. Situação desnecessária e inoportuna;, assinalou o economista Cesar Bergo, sócio-consultor da Corretora OpenInvest.
Para Bergo, o ministro buscou ostensivamente os holofotes, porém, talvez não caia, porque é aliado de Temer e deve ter sido por ele orientado.
Por sua vez, não se pode ignorar que há muita gente na equipe de Meirelles querendo o Planejamento. Para o chefe da Fazenda, é melhor um amigo lá, que segure a liberação de verbas. As especulações apontam, contraditoriamente, que Temer poderá usar a escorregadela de Dyogo para leiloar o cargo e premiar um aliado.
O mercado está otimista com a queda da inflação, dos juros, da cotação do dólar; e a bolsa de valores vem subindo, sinal de que os investidores estão voltando. Tudo porque Meirelles se empenha em não ultrapassar a meta fiscal, de R$ 139 bilhões este ano. ;O problema é que Temer usa a política fiscal para se segurar no Planalto. Já Meirelles quer dar sequência às reformas e manter a credibilidade, o que parece que vai ficar distante se o Congresso aprovar aumentos para Ministério Público e juízes, com efeito cascata;, disse Eduardo Velho, economista-chefe da A2A Asset/INVX Global Partners.
A saída ou a permanência de Dyogo pouco altera a conjuntura. ;Com ou sem Temer, Meirelles faz a diferença. Se o presidente o perder, verá se dissolver toda aquela equipe de peso, respeitada pelo mercado;, disse Velho.