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Governo corre para conseguir quórum para barrar denúncia contra Temer

Denúncia será analisada nesta quarta-feira (2/8), no plenário da Câmara dos Deputados. Especialistas apostam que o presidente conseguirá barrar o pedido de investigação



Dois dias antes da votação decisiva em que Michel Temer poderá se tornar o primeiro presidente em exercício réu na Justiça, o peemedebista buscou demonstrar tranquilidade aos interlocutores. Amanhã, o plenário da Câmara dos Deputados apreciará a denúncia de corrupção passiva feita contra Temer pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Analistas e fontes próximas ao governo acreditam que haverá quórum para que a votação seja realizada e que o processo será barrado pelos parlamentares.

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O deputado federal Danilo Forte (PSB-CE), após reunião no Planalto, contou que o presidente estava ;muito tranquilo;. Segundo o parlamentar, o governo tem pressa e quer virar logo essa página. ;Temer quer começar um novo momento do governo na quinta-feira e pretende deixar um legado com as medidas reformistas, e, assim que barrar a denúncia, vai encaminhar a proposta da modernização tributária;, disse.

Mas, para virar essa página, é preciso um quórum de 342 dos 513 parlamentares da Câmara para abrir a sessão para a votação amanhã. E essa é a grande barreira enfrentada pelo peemedebista. Fontes palacianas evitam falar oficialmente em números e não comentam sobre as divisões dentro do PMDB e do PSDB. Pelas estimativas de parlamentares governistas, Temer conseguiu reunir 250 votos favoráveis ao relatório do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), que é pela rejeição da denúncia da PGR e contra o afastamento do presidente. Esse número é suficiente para evitar que o processo seja enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas não garante a votação.

[SAIBAMAIS]A queda de braço pelo quórum foi motivo para marcar reunião emergencial no Palácio da Alvorada, no último fim de semana, para a contagem de aliados, opositores e indecisos. Já está certo que os ministros que têm mandato na Câmara deixarão seus postos temporariamente e voltarão ao plenário amanhã para a votação. Vale lembrar que, em maio, antes da crise política com a delação dos donos da JBS, Temer tentava convencer 50 parlamentares para aprovar a reforma da Previdência ; que precisa de 342 votos para passar na Câmara. ;O governo sabe que precisa mobilizar a base, mesmo que informalmente, para conseguir o quórum para abrir a sessão. Não é sua tarefa, mas será um sinal de força se ele conseguir iniciar a votação;, avaliou o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria. Ele lembrou que Temer ainda precisará enfrentar as próximas denúncias da PGR que estão por vir. ;Vai ser um desgaste atrás do outro e, certamente, será difícil aprovar a reforma da Previdência, que disputará preferência com a reforma política, que deverá entrar na pauta devido ao calendário eleitoral;, alertou.


Análises


As previsões são de vitória de Temer. Para a Arko Advice, haverá quórum amanhã para a votação e o apoio ao presidente será de 257 a 270 deputados, podendo chegar a 285. As estimativas da consultoria Eurasia Group são de que 250 a 270 deputados votarão a favor de Temer, ;com potencial de esse número ser maior;. ;O importante será o resultado dessa votação. Se o governo conseguir mais de 257 votos, ele conseguiu manter certa unidade na base e terá menos dificuldade para aprovar as reformas. Mas, se barrar a denúncia com menos de 257, criará uma dinâmica desfavorável;, afirmou o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.

O líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), disse ontem que a oposição vai propor quórum acima de 400 parlamentares para que a votação da denúncia seja aberta. Em campanha para esvaziar o plenário, o deputado Silvio Costa (PTdoB-PE) enviou mensagens em aplicativos tentando convencer colegas a faltarem à votação.

Cerca de 200 dos 513 deputados devem votar contra o presidente, mas 63 ainda estão indecisos. Nos bastidores da República, comenta-se que Temer trabalha para convencer pelo menos 20 deputados para ter uma margem superior ao mínimo de 172 para barrar a denúncia. As moedas de trocas seriam as emendas parlamentares e a distribuição de cargos públicos, ambas denunciadas pela oposição ao Ministério Público. ;O governo precisa de apoio a qualquer custo, e isso vai causar um retrocesso de 100 anos no Brasil;, alfinetou o deputado Ivan Valente (PSol-SP). Como resposta, fontes do Planalto disseram que estão sendo liberadas emendas ;para todos os partidos;, inclusive, os da oposição.

O mercado ontem abriu a semana em clima de que Temer conseguirá barrar a denúncia da PGR. A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, subiu 0,65% e o dólar recuou 0,45%. ;Para boa parte do mercado, a votação de amanhã é um evento menos importante, porque a equipe econômica continuaria no governo, independentemente de Temer ficar ou ser afastado para Rodrigo Maia (presidente da Câmara) assumir com a abertura da investigação pelo STF. Alguma mudança nesse cenário só ocorrerá se houver uma nova surpresa;, explicou Alexandre Espirito Santo, economista da Órama. Ele criticou a falta de cautela dos agentes econômicos. ;Há um excesso de otimismo e vários riscos eventuais não estão sendo considerados, tanto internamente quanto no cenário externo;, alertou.