Hellen Leite
postado em 02/08/2017 21:50
263 deputados acompanharam o relatório do relator Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) e rejeitaram a investigação contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva. A denúncia havia sido apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) com base nas delações do empresário Joesley Batista, do Grupo J. A poucas horas do início da sessão plenária na Câmara dos Deputados para votação da denúncia, aliados do governo e da oposição ainda se articulavam e armavam estratégias para tentar vencer a disputa. E já cantavam vitória antes mesmo da sessão ser aberta, na manhã de quarta-feira (2/8).
Enquanto os que se mantiveram fiéis ao governo devem ganhar mais projeção, os partidos de esquerda devem perder ainda mais capital político. Mas, quem ganha e quem perde no jogo dos tronos do poder?
Enquanto os que se mantiveram fiéis ao governo devem ganhar mais projeção, os partidos de esquerda devem perder ainda mais capital político. Mas, quem ganha e quem perde no jogo dos tronos do poder?
Quem ganha
Padilha e Moreira Franco
Com a continuidade do governo Temer, quem ganha é o núcleo palaciano. Os ministros de confiança de Temer, Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência, articulavam há semanas a permanência do presidente na cadeira e, como era esperado, conseguiram os votos para livrar o presidente do processo penal do STF. Padilha chegou a comparecer à votação, mas apenas registrou presença e foi embora.
PMDB
Romero Jucá, presidente do PMDB, e os outros peemedebistas também sai ganhando. Nos últimos dias, o líder do governo fez duras críticas à oposição e disse ainda que os deputados peemedebistas que votassem a favor da denúncia de corrupção contra Temer seriam punidos. O próprio partido de Jucá e Temer, o PMDB, sai vitorioso da votação na Câmara, mesmo tendo chegado dividido ao plenário para a votação. O partido de maior bancada na Câmara dos Deputados tem interesse direto na permanência de Temer na presidência e nas votações das reformas trabalhista e da Previdência, que devem ter o processo acelerado a partir de agora.
Centrão
Integrantes de siglas que se mantiveram fiéis a Temer também são beneficiados. Os partidos do centrão (PP, PR, PTB e PSD), esperam, inclusive, contar com uma reacomodação de cargos na Esplanada a partir de agora.
Parte do PSDB
Uma parte do PSDB também fica satisfeita com a permanência de Temer no governo. Os tucanos João Dória, prefeito paulista, Geraldo Alckmin, governador de São Paulo e Marconi Perillo, governador de Goiás, são considerados importantes defensores da continuidade do apoio a Temer no PSDB. No entanto, o partido enfrentou um dilema entre o desgaste de continuar ao lado de um governo impopular e o risco de perder apoio do PMDB na próxima disputa presidencial. O PSDB reconhece que o partido de Temer oferece grandes atrativos na disputa eleitoral, como mais tempo de propaganda na TV, por exemplo.
Quem perde
FHC
Outra parte do PSDB perde com a vitória de Temer. Um nome influente dentro do partido tucano se posicionou contra Temer desde que o peemedebista assumiu a presidência, em agosto de 2016. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso incendiou o debate dentro do partido ao questionar a autoridade de Michel Temer e pediu antecipação do processo eleitoral. Durante um discurso em 15 de junho, FHC usou novamente a metáfora da pinguela. "Preferiria atravessar a pinguela, mas, se ela continuar quebrando, será melhor atravessar o rio a nado e devolver a legitimação da ordem à soberania popular", disse.
Procuradoria-Geral da República
Por mais que não seja atribuição da Procuradoria-Geral da República (PGR) interferir no resultado da votação na Câmara dos Deputados, a decisão deixa o procurador-geral Rodrigo Janot sob pressão. Janot é o autor da denúncia contra Temer, baseada na delação premiada do empresário Joesley Batista, na qual Temer é acusado de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da justiça.
PSOL, Rede e PDT
A vitória de Temer é vista com uma humilhação para os partidos de esquerda, que não conseguiram mobilizar os movimentos sociais com força suficiente para pressionar os deputados a votar a favor do processo. Mais cedo, os deputados do PT, PDT, PSOL, PSB, PHS e Rede foram orientados pelos líderes dos partidos a não votarem, nem sim nem não, para não registrar quórum, mas nem mesmo essa tentativa foi bem sucedida.
A vitória de Temer é vista com uma humilhação para os partidos de esquerda, que não conseguiram mobilizar os movimentos sociais com força suficiente para pressionar os deputados a votar a favor do processo. Mais cedo, os deputados do PT, PDT, PSOL, PSB, PHS e Rede foram orientados pelos líderes dos partidos a não votarem, nem sim nem não, para não registrar quórum, mas nem mesmo essa tentativa foi bem sucedida.
Neutro
PT
Apesar de se declarar publicamente a favor da queda do presidente, internamente, o PT não fez muito esforço para afastar Temer do cargo. O Partido dos Trabalhadores acredita que a melhor estratégia é manter Temer no Planalto e desgastar a imagem do presidente. O que, supostamente, daria mais força a Lula nas eleições de 2018.