Agência France-Presse
postado em 26/08/2017 15:24
Ampliar o programa de privatizações, incluindo a venda gradual da Petrobras, é uma proposta que defende o prefeito de São Paulo, João Doria, um dos nomes mais citados para disputar a eleições presidenciais de 2018.
Em entrevista à AFP, Doria elogiou os recentes anúncios do governo de Michel Temer de reduzir a participação estatal em quase 60 ativos como aeroportos, estradas e até a Casa da Moeda.
Para Doria, uma administração privada teria blindado a Petrobras, símbolo da economia brasileira, contra o maior escândalo de corrupção que, através da Operação Lava Jato, levou mais de cem políticos e empresários para trás das grades em três anos.
"Óbvio que o governo precisa manter uma escala (...), mas se dizer gradualmente, por que não ter pelo menos parte da Petrobras privatizada?", opina.
Prestado à política
Membro do PSDB, Doria foi eleito em outubro de 2016 para administrar a capital econômica do país. Beneficiário do descontentamento generalizado com a política, salpicada por incessantes escândalos, o empresário venceu o candidato à reeleição, Fernando Haddad (PT) no primeiro turno com 53% dos votos.
"Não sou político, estou na política", afirma o fundador do Grupo Doria, especializado em marketing e comunicações.
Seu gabinete, decorado com um quadro do artista pernambucano Romero Britto, duas primeiras páginas de jornais nacionais emoldurados e fotos pessoais, exibe os reconhecimentos a sua trajetória.
"Não condeno os políticos até porque, assim como no empresariado, há bons e maus empresários, não se pode generalizar, mas há um cansaço, a política está mais vocacionada e decidida pelas novas pessoas, rostos e propostas e isso nos ajudou bastante para nos eleger", opina.
Sua estreia na política praticamente o lançou como presidenciável para 2018, mesmo antes de completar seis meses como prefeito.
Criticado na imprensa por sua agenda fora de São Paulo e consultado sobre suas aspirações presidenciais, Doria reconhece que "na vida não se descarta nada". Apesar de admitir que sente orgulho de figurar nas pesquisas de intenção de voto, garante que agora não é pré-candidato a presidente.
"E em 2018?"
"2018 é outra história. Cada dia com sua agonia", responde, sorrindo sempre com sua aparência impecável. Segundo uma pesquisa em junho da Datafolha, no primeiro turno, Doria, 59 anos, teria 10% dos votos. Mas o chefe histórico do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, 71 anos, venceria com 30%.
Segundo Doria, Lula, que enfrenta vários processos judiciais e uma condenação de nove anos e meio de prisão, deveria voltar à arena eleitoral para ser "desmistificado".
Mas não deixa de ser crítico. "O PT imprimiu uma política de que quem for contra eles é contra os pobres e não acredito que se construa uma política verdadeira e boa estimulando o confronto entre pobres e ricos, entre negros e brancos, nordestinos e sulistas".
Religião na política
Oriundo de São Paulo, Doria acredita que "o Brasil não tem divisões de raças" e que conta "com condições para se recuperar", necessitando somente de gestão, "mas eficiência de gestão", destaca.
Administrar uma cidade com 12 milhões de habitantes "é emocionante", afirma Doria, que também é jornalista, casado e pai de três filhos.
Criticado por sua abordagem da questão da Cracolândia paulista, Doria afirma que seu maior desafio é "administrar uma cidade com esta dimensão e sem recursos".
Argumentando que herdou um déficit de 2,5 bilhões de dólares da gestão anterior, lançou um ambicioso plano de privatização.
Mercados, cemitérios, vales de transporte público, um estádio de futebol, uma arena de eventos e mais de 1.300 ativos municipais integram seu programa de concessões.
Os críticos pedem um referendo por considerar que Doria colocou a cidade à venda.
"A votação já houve, a eleição; prometi claramente durante minha campanha para prefeitura o que eu faria e deixei claro que promoveria esse projeto de desestatização, e fui votado por 53% dos habitantes, ganhei o primeiro turno, a primeira vez em 28 anos que um candidato ganha em primeiro turno em São Paulo, portanto, o referendo já houve", enfatiza.
Assim como defende um Estado mais reduzido, o prefeito, de religião católica, opina que, apesar de o Estado brasileiro ser laico, a presença da religião na política nacional "é quase uma situação natural, ainda que não a mais adequada (...) É difícil separar, você pode até tentar, mas vai encontrar muita dificuldade".
Para Doria resta seguir a situação de perto "para evitar exageros ou injustiças". Consultado se a religião comanda as decisões políticas, opina que se trata de uma decisão individual, pois "cada um, ao professar sua fé e ouvir seu guia espiritual, deve repetir e tomar sua decisão".
"Eu não decido pela opinião dos outros, decido com a minha opinião e imagino que as pessoas devam proceder dessa maneira", conclui.