Leonardo Cavalcanti*
postado em 06/09/2017 17:30
Dos morros cariocas aos salões acarpetados de Brasília, cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém, principalmente quando se trata de corporações do Estado, protagonistas, em alguns momentos, de guerras de poder e vícios. Maniqueísmos, assim, devem ser vistos com cuidado. O filme Polícia Federal ; A lei é para todos se apressa ao tentar enquadrar investigadores como heróis nacionais, elevando à última potência lugares comuns produzidos em debates cinematográficos e políticos.
A partir do olhar do cinema, A lei é para todos é infantil, com diálogos rasteiros e cacoetes de filmes policiais B. Apesar de um início um pouquinho mais empolgante, a ponto de enganar o espectador, o que vem do meio para o fim é um amontoado de clichês de imagens e diálogos ; algo devastador para a cinematografia nacional, que, a trancos, produziu obras-primas. A película de Marcelo Antunez é constrangedora, servindo apenas para cenas de ação, onde os conflitos e a tensão de policiais legítimos ficaram de fora, esquecidos pelo diretor.
Mesmo para a ficção ; sim, estamos tratando de um filme ;, A lei é para todos desperdiça o que poderia ser um belo enredo da história brasileira, onde, pela primeira vez, um grupo de investigadores conseguiu chegar enquadrar grandes políticos e empresários. Mas, ao se decidir por um lado, o policial, o filme não avança, parecendo uma grande narração cronológica de fatos escolhidos para exaltar o trabalho da PF, o que, por vias tortas, acaba desqualificando a corporação. Tal qual aquele amigo bobo que apenas exalta as suas qualidades a noite toda.
Do ponto de vista político, a Lava-Jato é um marco para o país. Qualquer livro honesto de história brasileira deve retratá-la como início de algo positivo para um grande debate nacional sobre a corrupção. A partir dela, poderosos finalmente foram em cana ; mesmo que, no caso de alguns, por pouco tempo. Mas, para percebermos isso, A lei para todos é desnecessário. E mais: se a intenção dos produtores era exaltar a operação, o tiro saiu pela culatra. Não há nada mais vexatório e indigente do ponto de vista intelectual do que elogios rasgados a corporações. A lei é para todos é, na real, um desserviço à Lava-Jato.
* Leonardo Cavalcanti é editor de Política e pós-graduado em Cinema pela Universidade de Brasília (UnB)
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