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Defesa de Miller diz que pedido de prisão contra ele 'causa indignação'

Na nota, Miller ressaltou que "não mantém relações pessoais e jamais foi 'braço direito' do procurador-geral"

Agência Estado
postado em 09/09/2017 10:30
O advogado do ex-procurador da República Marcelo Miller, André Perecmanis, afirmou que o pedido de prisão de seu cliente, apresentado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, "causa espécie e indignação", mas ressaltou que ainda não havia sido informado oficialmente pela imprensa. "Soube pela imprensa", disse, ao sair do prédio do Ministério Público Federal. Os comentários foram feitos após depoimento de Miller à Procuradoria Regional da República da 2; região, que durou nove horas.

O depoimento de Miller começou às 15h30 de sexta-feira e terminou por volta de 0h30 deste sábado (9). Ele foi interrogado por um procurador regional da República designado pela equipe do procurador-geral da República. Miller saiu do prédio, acompanhado por seus dois advogados à 0h54. Ele não falou com a imprensa, que só pode fazer perguntas a seu advogado.

Para Perecmanis, Miller "contribuiu, falou durante dez horas ininterruptas, mostrou todo interesse em colaborar, explicou que, na realidade, está aqui por conta de um áudio absolutamente desconexo, gravado em condições que ninguém sabe quais são e que tem uma série de atrocidades. No que diz respeito a ele, especificamente, atribui uma ingerência junto ao procurador-geral que nunca existiu".

O advogado afirmou, ainda, que "está provado, documentalmente inclusive, que ele estava afastado do grupo da Lava Jato desde junho de 2016. Não tem qualquer contato com o procurador, por qualquer meio, pelo menos desde outubro de 2016. Então, era impossível haver essa ingerência. Nunca foi emissário de ninguém, nunca atuou dos dois lados, sempre teve uma vida republicana no Ministério Público e portanto nem conhece uma figura que possa existir de braço-direito do procurador-geral. Nunca ouviu falar nisso na Lava Jato. Essa acusação é uma infâmia e se espera que, com os esclarecimentos que ele prestou hoje, tudo venha à tona".

Perguntado sobre o pedido de prisão apresentado por Janot, Perecmanis afirmou que ficou sabendo pela imprensa e que, "se realmente for verdade, causa muita espécie". O advogado, então, questionou o motivo do pedido de prisão antes da conclusão do depoimento de Miller. "Para que o depoimento, então? Dez horas de depoimento para já ter um pedido pronto? Então, para que esse depoimento? Para que o procurador, se fez o pedido de prisão, pediu para ele ser ouvido? As declarações dele não interessam para o Ministério Público? Essa é a pergunta, mas não sei se existe o pedido efetivamente. Se existir, causa muita espécie e indignação à defesa", comentou Perecmanis. Ele ressaltou que Miller passou o dia inteiro sendo interrogado e que colaborou ao responder todas as perguntas e ele formuladas.

O advogado negou que seu cliente tenha desrespeitado qualquer regra de quarentena, após se desligar do Ministério Público Federal. "A questão da quarentena foi esclarecida. Existe uma interpretação técnica que dá ensejo a ele ter respeitado a lei, não há qualquer dúvida em relação a ele ter respeitado a lei. Isso ficou devidamente esclarecido no depoimento."

Perecmanis afirmou, ainda, que o depoimento foi longo porque seu cliente "respondeu a todas as perguntas, não negou uma única pergunta que foi feita" e disse que não há previsão de nova oitiva. "O que ele tinha que fazer aqui, segundo o próprio Ministério Público, foi cumprido devidamente".

A investigação feita pelo Ministério Público Federal pode levar à revisão do acordo de delação premiada obtido pelos executivos da JBS, após a divulgação da gravação de uma conversa entre Joesley Batista, um dos donos da J, e Ricardo Saud, executivo do grupo, que prestaram depoimento na quinta-feira, em Brasília. Numa conversa, aparentemente gravada por acidente, os dois citam Miller como um contato dentro da Procuradoria Geral da República que facilitaria o esquema da delação.

Miller integrou a força-tarefa da Operação Lava Janto e atuou nas delações do ex-senador Delcídio do Amaral e do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Ele deixou a PGR em julho de 2016 para trabalhar em um escritório de advocacia que logo depois foi contratado pelo grupo J para fechar o acordo de leniência com o Ministério Público Federal (MPF). Miller já está sendo investigado por duas outras suspeitas: exercer advocacia no juízo em que atuava antes de um prazo de afastamento de três anos da Procuradoria e ter acesso privilegiado a informações internas do MPF.

Na conversa gravada entre os executivos da JBS, Miller é citado como um procurador da República que estaria atuando em benefício do grupo. Em nota divulgada na última quarta-feira, o ex-procurador afirma que "não cometeu qualquer crime ou ato de improbidade administrativa e nunca atuou como intermediário entre o grupo J e o procurador-geral da República ou qualquer outro membro do Ministério Público Federal".

Na nota, Miller ressaltou que "não mantém relações pessoais e jamais foi ;braço direito; do procurador-geral". "Desde julho de 2016 estava afastado do grupo de trabalho da Lava Jato e das atividades da PGR, atuando efetivamente na Procuradoria da República no Estado do Rio de Janeiro. Nesse período, também não acessei nenhum arquivo ou documento da Operação Lava Jato", destacou. Por fim, Miller garantiu que nunca fez parte da força-tarefa da Operação Greenfield "no âmbito da qual foi celebrado o acordo de leniência da J".

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