Guilherme Mendes - Especial para o Correio
postado em 11/09/2017 18:21
Antes de assumir uma vaga no escritório Trench, Rossi e Watanabe, responsável por negociar a delação do grupo J, o então procurador Marcello Miller tratava do tema em e-mails enquanto ocupava cargo no Ministério Público. A acusação foi feita pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, no pedido que pede a prisão de Miller e dos executivos da J Joesley Batista e Ricardo Saud.
No pedido, protocolado na última sexta-feira no Supremo Tribunal Federal (STF), Janot afirma que e-mails enviados pelo escritório de advocacia comprovam a ação de Marcello Miller. O material, cedido pela empresa após pedido do MP, mostraria que o ex-procurador já tratava da leniência da J, antes de vir a integrar a equipe de advogados da Trench, Rossi e Watanabe.
Ainda segundo o Procurador-Geral, nestas mensagens o então membro do Ministério Público discutia com uma advogada da empresa a questão de "voos para reuniões, referencias a orientações à empresa J e inícios de tratativas". Mesmo assim, a íntegra da denúncia enviada por Janot ao ministro Edson Facchin não torna público os conteúdos destes e-mails.
Após a saída de Miller do Ministério Público, Miller foi recrutado para o escritório de advocacia por Ester Flesch - que em 2014 já tinha negociado um acordo de compliance com a Petrobras. O ex-procurador teria então aconselhado os executivos da J, sendo citado em gravações de Joesley Batista com Ricardo Saud. Nesta segunda-feira, como desdobramento da investigação, membros da Polícia Federal e do Ministério Público fizeram uma operação de busca e apreensão na casa de Miller, no Rio de Janeiro.
A ação de Marcello Miller no caso da J é crucial para a defesa do Presidente Michel Temer, que enxerga na ação do magistrado um forte indício da suspeição de Janot e do Ministério Público. O Procurador-Geral tem conduzido a investigação sobre a relação de Temer com o empresário Joesley Batista, dono da J, inclusive enviando uma denúncia pedindo o impeachment de Temer, arquivado pela Câmara dos Deputados em agosto. Há a expectativa de que, até o fim do seu mandato como Procurador-Geral na próxima segunda-feira (18), Janot envie uma nova denúncia contra Temer.