Guilherme Mendes - Especial para o Correio
postado em 21/09/2017 06:00
A entrevista concedida pelo ex-procurador geral da República Rodrigo Janot ao Correio, publicada ontem, repercutiu imediatamente nos corredores do Congresso. Ao lado da reforma política, foi um dos temas mais comentados pelos parlamentares. Na Câmara e no Salão Verde, os deputados debateram as opiniões emitidas pelo procurador, que falou sobre seus quatro anos no Ministério Público Federal e as ações da Lava-Jato.
Na oposição ao governo, Orlando Silva (PCdoB-SP) analisou com cautela a posição do ex-procurador. ;As atitudes que ele (Janot) tomou foram institucionais, e não pessoais;, argumentou o deputado. Sobre a ação do investigador, Orlando manteve o tom diplomático. ;Ele cumpriu a missão e será estranha qualquer decisão tomada contra ele nesse caso.; Na entrevista, Janot disse acreditar que a CPMI instalada no Congresso para investigar a JBS não vai apurar a conduta da empresa, mas os investigadores ; no caso o próprio ex-procurador e sua equipe no Ministério Público. Para o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), tratou-se de uma entrevista ;franca, direta, cuja atitude (de Janot) precisa ser respeitada;.
A opinião expressa por Janot é compartilhada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). ;A entrevista do ex-procurador-geral da República mostra que a proposta desta CPMI instalada no Congresso é retaliar o Ministério Público e acabar com a Lava-Jato;. Foi Randolfe Rodrigues, inclusive, o autor de um mandado de segurança enviado ontem à presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, pedindo a suspensão dos trabalhos da CPMI, relatada por Carlos Marun (PMDB-MS), fiel aliado da base de Temer. O pedido aguarda decisão da ministra.
Enquanto a oposição comentava abertamente as opiniões de Janot, os governistas optaram por um silêncio estratégico. O deputado federal Beto Mansur (PRB-SP), uma das lideranças do governo na Câmara ; que, antes da revelação da segunda denúncia contra Temer, chegou a afirmar que o Brasil passava por ;uma era de muito denuncismo; ; não quis comentar a entrevista. A outros interlocutores na Câmara, Mansur disse que seria hora de Janot sair dos holofotes. Marun também não foi encontrado para entrevista.
;Forma melancólica;
Em nota na noite de ontem, a defesa do empresário Joesley Batista, dono do grupo J, se disse ;perplexa; com o tom que considerou ;fora do adequado a alguém que ocupou cargo tão importante;. Assinada pelo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o texto acusa Janot de agir de forma desleal e injusta com seu cliente. ;Essa entrevista apenas demonstra e reforça a forma melancólica com que o ex-procurador-geral da República se despede do cargo máximo do Ministério Público;, afirma, ;ressaltando detalhes internos, expondo, de forma estranha e bastante ruim para a sociedade brasileira como o Ministério Público, está claramente dividido;.
A nota diz ainda que, ;infelizmente, é preocupante o grau de desestabilização do ex-procurador;. Ainda segundo a defesa de Joesley, ;cabe a nós, advogados e cidadãos, com muita tranquilidade, aguardar que o MP volte a ter a transparência, a dedicação e a seriedade que sempre foi a marca do grande Ministério Público do que foi, por exemplo, à época do ministro Sepúlveda Pertence.;
Defesa da ANPR
A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) criticou ontem ;os ataques claramente pessoais proferidos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, na sessão desta quarta-feira, em relação ao ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.;