Politica

Após impasse político, União envia 950 homens para fechar cerco à Rocinha

A crise na segurança provocou a suspensão de aulas de 7 mil estudantes

Rodolfo Costa
postado em 23/09/2017 08:00
Integrantes das Forças Armadas cercam a favela da Rocinha, no Rio de Janeiro: tentativa de conter os traficantes que dominam a região

O Ministério da Defesa e o governo do Rio de Janeiro colocaram panos quentes em atritos recentes envolvendo as forças de segurança federais e as polícias Civil e Militar carioca, dando espaço para a União anunciar ontem a retomada de operações conjuntas entre as autoridades de segurança.

Em almoço na quinta-feira entre o ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, ficou acertado o envio de tropas do Exército. O encontro foi crucial para estancar os atritos entre as Forças Armadas e as tropas de segurança estaduais.

Duas recentes declarações de autoridades cariocas provocaram o mal-estar na relação entre governos federal e estadual, deixando Jungmann irritado. O chefe da Polícia Civil do Rio, Carlos Leba, criticou as Forças Armadas, insinuando que elas atrapalhariam o sucesso das operações. Ele atribuiu a rejeição ao modo de as tropas atuarem. O secretário de Segurança, Roberto Sá, também polemizou, ao declarar que preferia ajuda financeira à ação das forças federais.

[SAIBAMAIS]O desconforto no comando da Defesa levou o ministro a cogitar a suspensão da operação conjunta com as tropas de segurança locais, mas os atritos foram estancados após Pezão tomar a dianteira e contornar a situação. Jungmann, no entanto, negou que a pasta tenha cogitado abandonar a parceria.

;Atuamos por demanda. Ouvi muito que, nos últimos 30 dias, não estivemos operando lá (no Rio). É porque não houve demanda;, afirmou o ministro, após uma reunião com o presidente Michel Temer, que definiu o envio de 950 integrantes do Exército a um cerco à favela da Rocinha. Segundo ele, os órgãos de segurança estavam realizando operações às quais ;achavam e entendiam; não haver necessidade do apoio das Forças Armadas.

Além de atribuir a ausência de demanda como justificativa melhor para falta de operações conjuntas, Jungmann negou que haja falta de recursos para realizar qualquer operação no Rio. ;O presidente reiterou a disposição de manter apoio das forças federais, da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Federal, da Força Nacional e também todos os recursos orçamentários necessários;, disse.

Interlocutores de Jungmann ponderam que há, sim, problemas de falta de recursos para a manutenção das operações conjuntas. ;Eu duvido muito que o governo do Rio não tenha solicitado o envio de tropas nos últimos 30 dias. O contingenciamento afetou não só a Defesa, mas diversos órgãos do Brasil;, afirmou um deles. ;A verba de investimento da pasta caiu muito;, acrescentou outro. O anúncio do envio da Polícia do Exército ao cerco na Rocinha foi confirmado no mesmo dia em que o governo federal descontingenciou R$ 12,8 bilhões (leia mais na página 9).


Tiroteios

Ontem, no quinto dia de operações policiais no Rio, houve tiroteios na Rocinha e em outras sete comunidades. As autoridades de segurança pública estão no encalço de criminosos envolvidos na disputa pelo tráfico de drogas. Dois jovens ficaram feridos, sendo um deles em uma escola no Complexo do Alemão. A crise na segurança provocou a suspensão de aulas para cerca de 7 mil estudantes.

Na noite de quinta, um jovem de 24 anos morreu após ser atingido por uma bala perdida na região da Lapa, área central do Rio. A vítima foi baleada em um tiroteio entre policiais militares e um homem que havia assaltado uma moto. Somente entre janeiro e julho, o Instituto de Segurança Pública (ISP) do estado contabiliza 3,9 mil mortes por homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte, ou em confrontos entre suspeitos e agentes.

O sentimento dos cariocas é de terror. ;É desesperador. Estou cansado disso tudo;, disse o estudante Pedro*, 15 anos. Morador da zona norte, ele critica as facções, que nem sequer estão respeitando áreas próximas a escolas. ;A insegurança é grande. Tem sempre um movimento suspeito nos arredores;, comentou.

Apesar do empenho das Forças Armadas, o jovem não tem confiança de que a situação possa melhorar. ;Não vejo um policial ou militar no caminho até o colégio. As operações estão concentradas na Rocinha, mas a insegurança é generalizada. Moradores de outros pontos da cidade também estão vivendo com medo;, lamentou. O comércio também sentiu. Em shoppings ou lojas de rua, o clima era de deserto.

Na Rocinha, a situação é caótica. ;Estamos reféns da criminalidade;, criticou uma moradora da comunidade, que está há cinco dias sem ir ao trabalho com medo de ser mais uma vítima de bala perdida. Ela revela, ainda, que os criminosos têm realizado operações urbanas para facilitar a fuga. ;Construíram um túnel no lugar de um beco.;


Bloqueio de R$ 224 mi

O juiz Marcelo Bretas, da 7; Vara Federal do Rio, decretou o bloqueio de R$ 224 milhões do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), de sua mulher Adriana Ancelmo e de mais nove condenados na Operação Calicute, desdobramento da Lava-Jato. O magistrado impôs 45 anos e 2 meses ao peemedebista por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O confisco atinge os condenados pelos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro. O bloqueio atinge de forma solidária os condenados pelo crime de organização criminosa. Para os demais condenados, o confisco vai se limitar ao montante objeto do crime de lavagem de dinheiro.

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