Politica

Ministros de Temer planejam disputar cargo nas eleições de 2018

Situação se torna um problema para o governo: com o passar do tempo, eles estarão cada vez mais distantes de Brasília

Paulo de Tarso Lyra, Guilherme Mendes - Especial para o Correio
postado em 24/09/2017 07:50
Denunciado pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot por obstrução de Justiça e organização criminosa, o presidente Michel Temer deve se preocupar com mais coisas do que apenas organizar a própria defesa. Ele já admitiu o inevitável atraso que a tramitação da denúncia provocará no calendário da reforma da Previdência. Mas há uma outra nuvem cinzenta no ar: pelo menos 18 ministros pretendem se candidatar em 2018. Quanto mais a agenda do governo demorar a ser implantada, mais o foco desses auxiliares se distanciará de Brasília e passará a se concentrar nos esforços para a própria sobrevivência.

Situação se torna um problema para o governo: com o passar do tempo, eles estarão cada vez mais distantes de Brasília

Muitos deles, inclusive, como já mostrou o Correio, aproveitam cada vez mais as agendas institucionais para fazer agrados e participar de atos em seus redutos eleitorais. O tempo, nesse caso, corre contra o presidente. A Câmara deve analisar a denúncia do Ministério Público Federal até o fim de outubro, a exato um ano das eleições. Se os debates da reforma da Previdência acontecerem, de fato, a partir de meados de novembro, ela só será votada em plenário, se for, próxima ao recesso de fim de ano. Após o réveillon, dificilmente os ministros manterão o mesmo empenho em suas pastas. Talvez aqueles cujos discursos dependam mais diretamente dos bons resultados da economia, como o titular da Fazenda, Henrique Meirelles. Os demais pensarão nas bases eleitorais e no esvaziamento das gavetas.

Outro ponto pesará na avaliação desses ministros. Mudanças na Previdência não são medidas populares. Além disso, o governo Temer desfruta índices de populare baixíssimos ; próximos dos 3% ; e está carimbado por crises e denúncias. ;O presidente Temer não terá condições de tocar o dedo em um candidato e ungi-lo como seu escolhido. Isso também vai pesar no discurso que os ministros terão de fazer junto às bases eleitorais;, avaliou o professor de ciência política do Insper Carlos Melo.

Melo reconhece que estar alinhado ao governo não traz só ônus, embora, no caso atual, eles sejam maiores que os bônus. ;Tem sempre a vantagem de você estar inserido na máquina e em condições de garantir recursos e obras para os seus redutos eleitorais;, lembrou o cientista político. Ele afirma que a realidade ficará mais latente para titulares de ministérios com obras visíveis, como Bruno Araújo (Cidades) e Maurício Quintella (Transportes), por exemplo. Mas outros titulares da Esplanada, como Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores), teriam ativos menos tangíveis para apresentar aos eleitores.

A economia, que sempre pesa, positiva ou negativamente, na decisão do cidadão de escolher entre este ou aquele candidato, tampouco apresentará resultados esplendorosos. ;Aquela euforia com o crescimento da economia, como aconteceu em 2010, quando o PIB cresceu quase 8%, não virá mais. Mesmo que sejam criados meio milhão de empregos até o início da corrida eleitoral, ainda assim o passivo é de 13 milhões de desempregados;, completou o professor do Insper.

Sem bonança


Na opinião do professor do Ibmec-MG Adriano Gianturco, os tempos de bonança exagerada não virão mais. O próprio Banco Central, em um cenário otimista, projeta um crescimento da economia na casa dos 2% em 2018. Este ano, se chegar próximo aos 1%, já é motivo de euforia. ;O atual governo pode enveredar por um discurso real de que assumiu o país em uma situação difícil e que conseguiu fazer algumas coisas (ajuste fiscal) e outras, não (reforma da Previdência);, disse Gianturco.

Entre os candidatos em 2018, aquele que planeja o voo mais ousado é justamente o que depende mais diretamente dos êxitos do governo Temer: Henrique Meirelles, ministro da Economia, que sonha em ser eleito sucessor do peemedebista. Para o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, o fato seria visto positivamente pelos investidores, que no momento dirigem a atenção à disputa interna do PSDB, entre o prefeito paulistano João Doria e o governador paulista Geraldo Alckmin.

A ressalva, contudo, é de que este não seria o momento certo para se debater o assunto. ;Isso deve ficar para o ano que vem, pois há o risco de contaminação política na gestão macroeconômica;, afirmou. Outras preocupações passam pela cabeça dos investidores. A primeira é se Meirelles, caso deixe de fato o governo em abril do ano que vem, conseguirá nomear um sucessor tão duro do ponto de vista fiscal quanto ele. O segundo questionamento é se, sem Meirelles, Temer não cairá na tentação de abrir a torneira de gastos para tentar eleger o sucessor.

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