Guilherme Mendes - Especial para o Correio
postado em 11/10/2017 19:26
Um dia depois da leitura do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), relator da denúncia contra Michel Temer na Câmara, governistas e opositores divergiram sobre o pedido de arquivamento do processo, proposto pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.
Entre a base aliada de Temer, ainda prevalece o entendimento de que a relatoria de Bonifácio - motivo de uma saia justa dentro do próprio PSDB no começo do mês- foi acima de críticas. "Foi um primor de ética, de responsabilidade, de consciência e de estudo dos poderes", defendeu Darcísio Perondi (PMDB-RS). "Foi duro, implacável, com os negócios que [Rodrigo] Janot fez pro Wesley [Batista, ex-presidente da JBS, hoje preso]".
Um dos líderes do governo na Casa, Beto Mansur (PRB-SP) garantiu que o relatório pedindo o arquivamento do caso deve ser aprovado na CCJ com entre 39 e 42 votos. "Se a líder do PSB, Teresa Cristina (MS), deixar a liderança, e o partido bandear, por exemplo, para a esquerda, nos vamos perder dois votos", argumentou. "Se ela permanecer, nós manteremos dois votos dos quatro votos do PSB. Existe uma possibilidade de termos votos do PSDB que compõe a comissão, em função do trabalho que foi feito pelo relator".
Para membros da oposição, o relatório representa "uma afirmação e um apelo ao corporativismo parlamentar", nas palavras do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), que também definiu a tarde na comissão como "lamentável". O líder do PT na Câmara, o paulista Carlos Zarattini, disse ser "evidente que o governo está preocupado com a sua sobrevivência". Desgastes de Temer com aliados - como o de ontem, quando o presidente da Casa Rodrigo Maia (DEM-RJ) arquivou a votação de uma MP de leniência ao Banco Central acusando o governo de esvaziar a sessão - pode indicar uma mudança de apoio rapidamente.
"O relatório é meu"
Um dos poucos congressistas a aparecer no plenário na tarde de quarta-feira, véspera de feriado, Bonifácio de Andrada se disse satisfeito com o resultado do relatório - cuja produção, contou, teve a ajuda inclusive de seu neto, professor de direito penal. "Eu recebi uma incumbência do presidente da [Comissão de] Constituição e Justiça. É uma designação quase que imperativa, e eu tive de recebê-la", afirmou.
A sua indicação pela cúpula da CCJ causou uma saia justa ao PSDB, já dividido no apoio ou não ao presidente Temer. Bonifácio, porém, não demonstrou preocupação no tema. "Pra mim não importa se o relatório vai ficar marcado ou não como do PSDB. O relatório é meu". A alguns críticos do relatório, como o deputado Alessandro Molon (REDE-RJ), o deputado afirmou se tratar de uma "retórica muito bonita, mas sem conteúdo".
Decano da casa - completou 87 anos em maio - Bonifácio garantiu não estar cansado da política. Depois de um mandato como vereador, quatro como deputado estadual e dez como deputado federal, afirmou que pode vir a concorrer como Senador por Minas Gerais em 2018 - caso se eleja, pode terminar o mandato com 96 anos.