Paulo de Tarso Lyra, Guilherme Mendes - Especial para o Correio
postado em 18/10/2017 06:00
Ciente de que conseguirá arquivar a segunda denúncia na Câmara, mas que o desgaste na relação com os aliados aumentou, o presidente Michel Temer está preocupado com o andamento das reformas após a votação prevista para a semana que vem. Temer está tenso com o esgarçamento no relacionamento com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e tem procurado deputados com bom trânsito nos dois lados para tentar reconstruir a relação política.
Temer sabe que, vencida esta etapa, com a proximidade do calendário eleitoral, o comando da pauta de votações estará, cada vez mais, nas mãos do Congresso, particularmente de Maia e do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE). E que terá pouca ou nenhuma influência no ritmo dessas escolhas, pois o parlamento tenderá a se afastar de um presidente que ostenta índices baixos de aprovação popular. ;Na minha opinião, o Congresso deve assumir um protagonismo maior daqui para a frente, em uma espécie de parlamentarismo informal;, defendeu o deputado Rogério Rosso (PSD-DF).
[SAIBAMAIS]Este foi um dos panos de fundo do almoço do qual Temer participou ontem na residência do deputado Heráclito Fortes (PSB-PI). Ao lado do presidente, além do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Wellington Moreira Franco ; sogro de Rodrigo ;, estavam presentes parlamentares que conseguem dialogar tanto com Temer quanto com Maia.
Na saída do almoço, o presidente demonstrou otimismo quanto à votação na CCJ, que deve acontecer hoje ou, na pior das hipóteses, amanhã. Ao ser questionado se o vídeo do delator Lúcio Funaro, divulgado no último fim de semana, atrapalhava a votação amanhã, primeiro o presidente fez um gesto negando com as mãos. Em seguida, respondeu: ;Nada atrapalha;.
;Aqui é proibido falar de crise. A conversa foi leve. Se ele estivesse tenso, ele não sairia do Palácio. Prova disso (que não está tenso) é que ele veio aqui sem hora para sair. Eu o convidei para comer uma galinhada. É proibido falar de coisa ruim;, afirmou Heráclito. Mais cedo, no entanto, Temer esteve com a líder do PSB na Câmara, Tereza Cristina (MT). ;Eu o achei tenso. Você vê no semblante dele que ele não está confortável;, admitiu a líder socialista.
Do lado do presidente da Câmara, a sensação expressa pelos interlocutores também é de cansaço. Maia não tem problemas pessoais com Temer. Reconhece, inclusive, o papel fundamental exercido pelo peemedebista na primeira eleição dele para presidente da Casa, derrotando Rosso, candidato do Centrão. Maia, contudo, tem muitos problemas com a forma de atuação do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e do presidente do PMDB e líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
Os peemedebistas têm sido agressivos na estratégia de cooptar os dissidentes do PSB. Maia ficou irritado com o fato de Temer ter-lhe prometido, pessoalmente, que desautorizaria esses movimentos. E eles aconteceram posteriormente à promessa presidencial. Além disso, o presidente da Câmara, que não se cansa de elogiar a equipe econômica, também faz profundas ressalvas à ascendência que Jucá tem sobre alguns dos integrantes, sobretudo os lotados no Ministério do Planejamento.
Por fim, o presidente da Câmara também resolveu assumir as dores dos deputados nas demandas não atendidas. ;Tem muita coisa que o Planalto poderia ter feito para repactuar as relações após a votação da primeira denúncia e não fez. Não por maldade, mas por falta de margem de manobra. E o Rodrigo acaba saindo em defesa dos parlamentares, sobretudo os do DEM;, reconheceu um aliado do presidente da Câmara.
Enfrentamento
Ontem, após reunião com o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, Maia tentou minimizar as notícias de que estaria em crise com o Planalto. ;Vocês da imprensa confundem a defesa da Câmara com um conflito com o presidente Michel Temer;, afirmou. ;Eu sou presidente da Câmara e, quando eu entendo que a Câmara ou seus servidores são atacados, eu tenho que reagir, em nome da instituição.;
Maia lembrou a polêmica em torno da divulgação dos vídeos da delação premiada do doleiro Lúcio Funaro. O presidente da Câmara disse que o STF não requereu o sigilo dos arquivos, e que o advogado Eduardo Carnelós era ;incompetente;. Apesar de reconhecer o ;mea culpa; da defesa, o presidente da Câmara disse entender que o advogado ;não teve humildade para reconhecer o erro;.
Carta será devolvida
O deputado Sergio Zveiter (Pode-Rio) disse que vai devolver a carta enviada a parlamentares pelo presidente Michel Temer na segunda-feira. Autor do relatório contra o presidente na primeira denúncia, o deputado fez duras críticas à postura de Temer. ;Recebi uma carta do presidente Michel Temer e gostaria de anunciar publicamente que vou devolvê-la. Se houve ou se houver conspiração, o presidente tem que dizer o nome de quem conspirou;, disse o deputado durante a sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que debate a segunda denúncia apresentada contra Temer. Após relatar a primeira denúncia contra Temer, Zveiter deixou o PMDB e se filiou ao Podemos.