O PMDB é uma união de caciques regionais, que comandam os respectivos feudos políticos com completa autonomia e que, eventualmente, se reúnem para planejar ações no plano federal. É essa capilaridade que torna o partido essencial para qualquer governo instalado no Palácio do Planalto. Excepcionalmente, o partido vive, agora, seu momento de protagonismo no plano nacional, com Michel Temer. Mas a legenda, que tem a maior bancada da Câmara e do Senado, tem sido alvo da Lava-Jato. Só nesta semana houve operações no Rio de Janeiro e no Mato Grosso do Sul. Mas os estragos não ocorreram apenas lá.
O partido está na mira na Bahia, no Ceará, no Rio Grande do Norte, no Rio Grande do Sul, no Pará, em Roraima, em Rondônia, em Goiás, em Alagoas, no Ceará e no Maranhão. É verdade que a Lava-Jato tem provocado estragos em várias legendas. O primeiro a sofrer os impactos da operação foi o PT, culminando com a condenação a nove anos e meio de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A diferença é que, no caso dos petistas, o estrago foi em figuras nacionais. Já no PMDB, embora os investigados também estejam no plano federal, são eles que dão as cartas nos diretórios estaduais.
A situação mais grave, sem dúvida, é no Rio de Janeiro, onde o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, foi preso ontem. Também estão presos e condenados o ex-governador Sérgio Cabral e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, foi denunciado pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot e só não se tornou réu porque a Câmara rejeitou a denúncia contra ele, o também peemedebista gaúcho Eliseu Padilha e o presidente Michel Temer.
Protagonismo
A Bahia é outro exemplo. O partido é controlado à mão de ferro no estado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima, acusado de, entre outras coisas, ter um apartamento destinado a guardar R$ 51 milhões em dinheiro vivo. Ele é irmão do deputado Lúcio Vieira Lima. O vácuo no diretório baiano é tão grande que já há quem cogite que o ministro da Secretaria de Governo, o tucano Antonio Imbassahy, deixe o PSDB e filie-se ao PMDB para assumir o controle estadual. Ele nega a intenção e os peemedebistas locais prometem montar barricadas para evitar que isso aconteça.;O PMDB está parecendo um mingau que estão querendo comer pelas beiradas. Mas não tem problema. Quem estiver no centro desse prato vai conseguir manter o protagonismo da legenda;, assegurou o deputado Carlos Marun (MS). Na terça-feira, a 5; fase da Operação Lama Asfáltica, batizada de Papiros de Lama, decretou a prisão do ex-governador André Pucinelli e do filho dele, André Pucinelli Júnior. Ambos foram soltos ontem.
A preocupação dos estrategistas políticos é o quanto as acusações contra os ;donos; dos diversos diretórios estaduais do PMDB podem interferir nas eleições do ano que vem. ;Acredito que as eleições estão longe. Temos delatores do nível de Funaro (o doleiro Lúcio Funaro), que não se sustentam em suas afirmações. O fator maior se o PMDB vai aumentar ou diminuir o número de governadores, senadores e deputados será o momento econômico do país no ano que vem;, definiu um dos vice-líderes do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS).
;O PT se afundou com o mensalão e o petrolão, perdeu poder. Poderemos até perder alguns nomes, mas temos uma agenda positiva forte;, completou Perondi. A resiliência dos caciques pode ser justamente o trunfo deles para se manter vivos. ;O PMDB sabe ler muito bem o jogo. O partido não está tão morto quanto as pessoas estão pintando. Talvez nem todos os caciques consigam se reeleger, mas ficarão muitos;, afirmou o sócio-fundador do Siga Lei, Ivan Ervolino. ;Eles têm muito poder regional, fazem prefeito a rodo. Depende de como vão gerenciar as crises internas;, acrescentou.
Já o professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR) Abraão Leite, cientista político especializado em eleições, não vê as coisas com tanto entusiasmo. ;A população está descrente, veremos mudanças no sistema eleitoral, menos tempo e dinheiro mais suado. A queda desses nomes fortes prejudica o PMDB como um todo, até porque os caras precisam de substitutos, e não adianta se a cadeira for preenchida pelo concorrente;, disse ele.
;A queda desses nomes fortes prejudica o PMDB como um todo, até porque os caras precisam de substitutos, e não adianta se a cadeira for preenchida pelo concorrente;
Abrãao Leite, cientista político
;O PT se afundou com o mensalão e o petrolão, perdeu poder. Poderemos até perder alguns nomes, mas temos uma agenda positiva forte;
Darcísio Perondi (PMDB-RS), vice-líder do governo na Câmara
Investigados repudiam as acusações
Sobre seus processos, Romero Jucá disse à imprensa que ;sempre esteve; e ;sempre estará; à disposição da Justiça para ;qualquer informação;. ;Nas minhas campanhas eleitorais, sempre atuei dentro da legislação e tive todas as minhas contas aprovadas;, afirmou o parlamentar. Renan Calheiros também se pronunciou, por meio de sua assessoria de imprensa. Disse ;que não recebeu vantagens de quem quer que seja; e, sobre uma acusação específica, reiterou que ;as ilações do ex-senador Delcídio do Amaral não passam de delírios;. O senador Valdir Raupp disse que ;jamais fez indicações políticas;. Jader Barbalho negou as acusações e desafiou qualquer pessoa a provar que ele tenha recebido propina.A defesa de Geddel Vieira Lima emitiu nota afirmando ser ;inepta e imprestável denúncia formulada contra o senhor Geddel Vieira Lima, coleção invulgar de erros jurídicos, de gritante fragilidade, desafia o direito e o próprio bom senso, além de representar evidente contrariedade à decisão do Tribunal Regional Federal da 1; Região;, referente às malas com R$ 51 milhões.
;Trata-se de considerar ineptas as denúncias apresentadas pelo Ministério Público contra Eduardo Cunha, que foram copiadas na representação enviada ao Conselho de Ética;, disseram os advogados do deputado cassado, que também alegam não ter havido mentira e pediram a suspeição do relator, deputado Fausto Pinato (PRB-SP), que analisava as acusações contra o parlamentar. (BB)