Paulo de Tarso Lyra, Natália Lambert
postado em 05/12/2017 06:00
Depois da jornada de encontros políticos do domingo, começou ontem a corrida dos articuladores do governo para tentar conseguir os 308 apoios que garantam a votação da reforma da Previdência na Câmara ainda este ano. Embora o discurso seja mais otimista, existe a consciência quanto às dificuldades para se materializar os 320 votos imaginados pelo Planalto. ;Estou realista. Otimista ainda não dá para ser. No sábado, estava pessimista. Depois da reunião de domingo, estou realista;, comentou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na saída de um evento em São Paulo.
O encontro de domingo poderá mudar também o ritmo de tramitação da proposta no Senado. O presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), teria prometido a Temer que, se a Câmara votar até o dia 13, a reforma entraria na CCJ do Senado e poderia ser votada no plenário entre os dias 20 e 21, derrubando o argumento de alguns deputados de que ficariam com o ônus da reforma e os senadores a enterrariam posteriormente. A assessoria de Eunício nega que a promessa tenha sido feita.
[SAIBAMAIS]O governo tentará usar na estratégia de convencimento o mesmo argumento eleitoral que vem afastando aliados do debate sobre as mudanças nas regras de aposentadorias. Deputados estão com medo de votar com o governo e perderem votos perante o eleitorado. O discurso da equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é de que, sem a reforma da Previdência, a economia encolhe e todos vão sair prejudicados.
Primeiro porque o desânimo instaurado no mercado retardaria a volta dos investimentos e a retomada de um crescimento econômico sustentável. Isso achataria novamente o orçamento, obrigando o governo a contingenciar emendas parlamentares, um ativo importante para os deputados e senadores em ano eleitoral. Além disso, segundo o discurso desenhado pelas lideranças políticas, a reversão das expectativas de crescimento só ajudaria ao PT e à candidatura presidencial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Durante o encontro de domingo, alguns dirigentes partidários defenderam o fechamento de questão a favor da reforma da Previdência. E sugeriram, como fez o presidente nacional do PTB, que os infiéis tivessem dificuldades de acessar o fundo eleitoral, que financiará as campanhas de 2018. ;Eu, particularmente, acho difícil, pois você não tem leis específicas para restringir, por exemplo, para um parlamentar a liberação do fundo partidário para a própria eleição;, contestou o vice-líder do governo na Câmara, Beto Mansur (PRB-SP).
;Na minha visão, esta não é a melhor estratégia. No meu entendimento, o caminho é você convencer o parlamentar da necessidade de votação da reforma da Previdência e buscar esses votos até a semana que vem;, completou Mansur. No fim da tarde de ontem, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, divulgou nota da executiva nacional petebista recomendando o voto a favor do governo.
;A reforma da Previdência defendida pelo governo de Michel Temer representa a opção prioritária pelos pobres e trabalhadores celetistas da iniciativa privada, além de abrigar os trabalhadores rurais, amparar as necessidades dos programas de assistência social e, sobretudo, colocar fim a alguns privilégios da elite funcional federal, que recebe benefícios 33 vezes superiores aos da média dos trabalhadores da iniciativa privada;, defendeu Jefferson, na nota oficial.
De acordo com o petebista, a reforma é primordial para a retomada do crescimento. ;Precisamos produzir, incentivando as empresas que geram empregos, reduzindo o custo do Brasil, para que seja possível atender os 13 milhões de brasileiros desempregados. Uma reforma que, assim como a PEC do teto de gastos e a reforma trabalhista, reduz a burocracia e o custo excessivo do governo federal, promovendo assim a verdadeira justiça social;, concluiu ele.
Audiências públicas
Líder do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC) lembra que, na votação da reforma trabalhista, a Casa respeitou todo o trâmite de debates e audiências públicas sobre o tema e acredita que esse seja o melhor caminho para a PEC da Previdência. ;A minha opinião é que o Senado siga o mesmo procedimento que adotou para a reforma trabalhista. Em se tratando de reforma, não é de boa recomendação evitar o diálogo e a ampla discussão do tema. Se a gente acelera no parlamento, a sociedade não compreende;, esquivou-se.
Rodrigo Maia acha que, ao fim de tudo, se as estratégias fracassarem, não significa que a reforma será sepultada. ;É a última chance deste ano. Não é a última tentativa. Esse tema vai entrar a qualquer momento. É impossível que se faça um debate sério na próxima eleição sem discutir a Previdência;, defendeu.