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"Nem-nens": 25,8% dos jovens de 16 a 29 anos não estudam nem trabalham

Dados do IBGE mostram que 25,8% dos jovens de 16 a 29 anos não estudam nem trabalham. Negros e pardos são os mais atingidos

Ingrid Soares, Letícia Cotta*
postado em 16/12/2017 08:00
Davi:

Apesar de trabalhar desde cedo, a juventude brasileira foi a mais afetada pela crise econômica. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 11,6 milhões dos jovens na faixa dos 16 aos 29 anos estão sem trabalho e sem estudo. São os ;nem-nens;.

Morador de Ceilândia, Vitor Eduardo Bezerra, 25 anos, ficou um ano desempregado, sem estágio ou emprego fixo. Após terminar a pensão pós-morte que recebia do pai e faltando um ano para terminar a faculdade de direito, teve que largar os estudos por não conseguir manter-se. Há um mês, ele conseguiu uma ocupação, mas fora da área. ;Não achei nada. Fiquei sem condição alguma. Larguei a faculdade, estou em um subemprego para custear a minha vida até juntar dinheiro para poder voltar, mas ano que vem acho que ainda não dá. Também vou estudar para concurso em casa. É a saída que vejo.;

Bezerra reclama que as empresas têm receio de contratar os jovens. ;A maioria das empresas discrimina quem está começando. A expectativa dos empregadores é muito alta em relação a quem está iniciando. Só que não corresponde à realidade e precisamos de uma chance para aprender.;

[SAIBAMAIS]Davi Liksan, 20 anos, ficou desempregado em 2016. O estudante de publicidade participou de entrevistas de emprego, mas não conseguiu a vaga. Para se virar na crise, aceitou um emprego de auxiliar de lavanderia. ;Procurei estágio na minha área, fiz várias seleções, mas foi um ano muito difícil. As empresas procuram quem já entende, quem tem experiência e portfólio. Uma situação muito triste, porque não dão chance de aprender.;

Ele conta que a crise também afetou o consumo. ;No mercado, gasta muito e sai com quase nada.Ajudo com as contas de casa e, no final, não sobra nada;, aponta. Segundo a pesquisa, entre os homens, 60,5% se encontravam trabalhando, contra apenas 44,8% das mulheres que se inseriram no mercado.

Informalidade


Em relação à formalidade do trabalho dos jovens, houve um recuo de 0,3% nos últimos anos (com 2012 registrando 58,7%, e 2016, 58,4%) que reflete na informalidade. O número de jovens sem carteira assinada foi o mais alto entre os demais grupos etários, com 22,1%.

A maior parte dos jovens que não estudam nem trabalham tem apenas o nível fundamental incompleto ou equivalente, e a desigualdade aumenta ainda mais entre negros e pardos, que representam 29,1% dos sem estudo e trabalho, em contrapartida a 21,2% dos brancos. Não surpreende, porém, que as mulheres sejam o grupo mais afetado pelo fenômeno: 37,6% das jovens negras ou pardas se encontram nessa situação.


Isso se reflete na condição de vida das brasileiras, já que 34,6% delas responderam ;ter que cuidar dos afazeres domésticos, do(s) ou de outro(s) parente(s); quando questionadas do por que não procuram uma ocupação. Para terem seu ;ganha pão;, porém, 92,1% das jovens ;nem-nem; afirmam cuidar de moradores do domicílio ou parentes e afazeres domésticos.

A realidade do jovem brasileiro não é fácil, já que 39,6% afirma ter começado a trabalhar até os 14 anos, principalmente no grupo que tem o ensino fundamental incompleto. Trabalhadores negros ou pardos representam 42,3% dos que começaram a trabalhar cedo, contra 36,8% dos brancos ; com homens (45%) começando mais cedo que mulheres (32,5%).

O economista e professor de administração pública da Universidade de Brasília (UnB) José Matias-Pereira avalia que os dados são preocupantes. ;Os jovens são os mais afetados, porque não têm experiência, os especializados são os últimos a serem demitidos. E perdem duas vezes. Perdem na retomada com pessoas competindo com mais capacidade e sem oportunidade de ingressar no mercado de trabalho.;

Principais pontos


Confira alguns dados da pesquisa Síntese de Indicadores Sociais 2017 ; SIS 2017, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):

; Desemprego

Nos últimos quatro anos, o número de jovens (16-29 anos) que não estavam ocupados e nem estudavam (os chamados
;nem-nens;) chegou 25,8% dessa faixa etária. São 11,6 milhões de pessoas nessa situação. O nível de ocupação desse grupo etário diminuiu de 59,1% (2012) para 52,6% (2016). Entre os homens, 60,5% têm algum tipo de ocupação. O percentual cai para 44,8% entre as mulheres. O Amapá é o estado que lidera o ranking de taxa de desocupação.

; Empregos formais

Apesar de a taxa de empregos formais ter recuado 0,3%, 33,9% dos jovens estão inseridos no comércio e na reparação; ou na indústria (28,7%).

; Menor renda

A faixa etária de 16 a 29 anos é a que teve a menor renda, com
R$ 1.321, o que equivale a uma queda de 1,5% em seu rendimento médio real. Os ganhos são inferiores à média nacional (R$ 2.021).

; Pobreza extrema

Os dados mostram que, em 2016, 12,1% das pessoas vivem em situação de pobreza extrema, sobrevivendo com até 25% abaixo do mínimo (que, na época, era R$ 880). São 24,8 milhões de brasileiros. Negros e pardos representam 72,9% de pessoas em situação de pobreza. E as mulheres são as que mais sofrem com essa realidade, já que, das pessoas atingidas, 33% são homens negros e 34,3% mulheres negras. Esse número se contrapõe aos 15,3% e 15,2% de homens e mulheres brancos registrados, respectivamente.


*Estagiária sob supervisão de Roberto Fonseca

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