Natália Lambert
postado em 14/01/2018 08:00

Chama a atenção a super-representação partidária na faixa etária. Atualmente, são 146,4 milhões de brasileiros aptos a votar. Destes, 12 milhões estão acima dos 70 anos, ou seja 8,2% do eleitorado. A representação da faixa etária entre os filiados é de 13,1%. ;Com certeza, há um desnível acima da média, mas é compreensível, considerando que essa geração viveu muita coisa em termos de política. Era jovem em 1964, quando começou o regime militar. Viveu as turbulências, as Diretas Já, a redemocratização. Um tempo em que a vida partidária era muito mais intensa e atraente;, comenta o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer.
O professor aposta que grande parte das filiações foi feita há 20 ou 30 anos e está ativa até hoje. Além disso, ressalta que a expectativa de vida vem aumentando e isso faz com que os idosos se interessem mais pela política. ;São outros tempos. Quem não tem interesse na política é essa geração dos 18 aos 30 anos, que não viu nada, não viveu o que os mais velhos viveram. O país está muito ruim, a economia, a falta de empregos e isso desestimula quem está começando a vida;, comenta Fleischer. Os jovens de 16 e 17 (quando o voto é facultativo) e de 18 a 20 anos representam 6,9% do eleitorado. Entre eles, somente 107.165 estão filiados, 0,6% do universo de pessoas associadas a partidos.
O professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Geraldo Tadeu Monteiro também ressalta as diferenças de gerações e afirma que, em média, os idosos são mais bem informados sobre política partidária e têm interesse superior ao dos jovens no tema. ;Os políticos não investem muito nisso, mas os idosos representam um contingente importante dentro do eleitorado. Mobilizam-se mais que a média. Como muitos estão aposentados, têm mais tempo para ler, se informar, discutir e acompanhar o que os parlamentares estão fazendo. Quanto mais instruído e mais idoso, mais interesse;, diz Monteiro.
Já a presidente da Associação Brasileira de Gerontologia, Eva Bettine, discorda da visão de que os idosos têm mais interesse na política. ;Essas filiações, se é que são verdadeiras, são reflexo de uma época que já passou. Quando a política partidária era mais efervescente. Hoje em dia, não percebo esse movimento;, pondera. O número de filiações divulgado pelo TSE é baseado na Lei n; 9.096/95, que determina que as siglas enviem à Justiça Eleitoral, em abril de todo ano, as novas fichas assinadas. Além disso, o sistema é atualizado mensalmente com os dados do Filiaweb, que também é alimentado pelos partidos. Não há um sistema de checagem dos dados informados pelas legendas.
Perfil
[SAIBAMAIS]O país fechou o ano de 2017 com mais de 16,7 milhões de pessoas filiadas a partidos políticos ; um aumento de 85.821 em relação a 2016, quando pouco mais de 16,6 milhões estavam ligadas oficialmente a siglas. No ano anterior, de 2015 para 2016, o crescimento foi de 780.886, e a média dos últimos cinco anos foi de 316.574 novas filiações. Para especialistas, a queda na procura pelos partidos é sintoma da descrença com a política.Para o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, o momento, as revelações das distorções e desvios com o dinheiro público e o pouco trabalho das legendas em relação à comunidade faz com que o interesse diminua. ;Há uma crise mundial em relação aos partidos. No nosso caso, é difícil ver um que esteja atuando para passar uma mensagem interessante, estimular a participação, criar ideias. Um ou outro movimento surgiu daquelas manifestações de 2013, mas não chega a induzir;, critica.

Já o PSol se destaca pelo público mais jovem. A faixa predominante na legenda é entre 25 e 34 anos e a sigla foi a que mais cresceu em 2017 ; com a filiação de 24.715 novos associados. ;A gente se apresenta como um partido que tenta representar uma nova esquerda, que luta pelos direitos das minorias sem ter se corrompido. O nosso crescimento se deve ao reconhecimento à coerência. Uma nova geração de pessoas que se identificam com essa política encontram abrigo na nossa proposta. E velhos lutadores de movimentos sociais, desiludidos com o que há por aí, também veem uma opção na gente;, diz o presidente nacional da legenda, Juliano Medeiros.