Natália Lambert, Paulo de Tarso Lyra
postado em 28/01/2018 10:37
O PT não pode, ainda, admitir publicamente. Mas, internamente, os principais líderes ; inclusive o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ; foram avisados de que a batalha para manter o petista como candidato em outubro é inglória. Ainda assim, os planos traçados são de esticar esse réquiem até o prazo máximo, dando tempo para que seja construída uma alternativa. A dificuldade reside aí. Não apenas Lula é maior do que o PT. Os brasileiros e a esquerda, de forma geral, são personalistas e enfrentam dificuldades para substituir ícones políticos por nomes comuns.
A política nacional ainda é extremamente personalista. O risco calculado que o PT precisa dosar é como fazer a substituição sem perder a força. Dois exemplos recentes em partidos do mesmo campo ideológico demonstraram que, sem a cabeça, o corpo definha. O PDT era muito espelhado na força do presidente Leonel Brizola. Ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, defensor da marcha da legalidade para garantir a posse de João Goulart como presidente, Brizola fundou o partido após perder a queda de braço com Ivete Vargas pelo comando do PTB.
[SAIBAMAIS]A morte de Brizola também sepultou o brizolismo e, com isso, o PDT passou a ser uma legenda mediana. Tenta recuperar agora o protagonismo com a candidatura de Ciro Gomes ao Planalto. Esta, inclusive, depende e muito de uma transferência de votos do lulismo para ter alguma chance no pleito eleitoral. Tanto é que o pré-candidato, conhecido pela afiada língua, cessou os discursos agressivos contra Lula. Mais recentemente, outra legenda tradicional da esquerda passou por um baque, também por causa da morte do principal líder. O acidente aéreo que tirou a vida de Eduardo Campos em 2014, interrompeu uma trajetória ascendente do PSB. Agora, a sigla não sabe se insiste em uma candidatura de Joaquim Barbosa ou se se alia ao governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin.
;A realidade do personalismo político aparece de maneira mais intensa na esquerda porque eles tendem a ter uma postura mais populista e, por isso, precisam de um nome forte para se apoiar;, confirma o especialista em marketing digital Marcelo Vitorino. Para ele, a tarefa do PT não será fácil porque o sistema de transferência de votos não é automático. ;Parte das pessoas votam em um candidato porque o escolhem e parte votam por rejeição a outro candidato. Com precisão, podemos dizer que apenas 30% são transferidos;, afirma.
Padrão mundial
O professor de ciência política do Ibmec-MG Adriano Gianturco acredita que é uma falácia a teoria de que a política brasileira é mais personalista do que em outros pontos do mundo. Ele lembra vários nomes internacionais que foram eleitos com base nas próprias forças, independentemente de serem de esquerda ou não. É o caso, segundo ele, do ex-presidente da Itália Silvio Berlusconi. No Brasil, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek foram ícones políticos sem estarem filiados a partidos de esquerda. ;Na esquerda, talvez fique mais nítido porque muitos desses governantes foram revolucionários ou instalaram ditaduras. Por isso tem-se a imagem de que eram fortes individualmente;, completa Gianturco. Ele cita também nomes como Margareth Thatcher, Ronald Reagan e Winston Churchill.
Para Lula, os cenários são turvos. Por onde a pré-candidatura passar, serão colocadas travas quase intransponíveis. A ideia, por enquanto, é não sair do páreo e brigar na Justiça para segurar uma eventual prisão. Solto, o ex-presidente poderá fazer campanha pelo país ao lado de nomes cogitados para substituí-lo, entre eles, o do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Coordenador do programa de campanha do PT, Haddad pode ser alçado ao posto principal caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impeça o registro da candidatura.
Esses são os planos de Lula e da turma dele, mas a instabilidade do líder já faz com que outros petistas não aceitem qualquer ordem. Medalhões como o ex-senador Eduardo Suplicy defendem prévias internas em caso de substituição. O mesmo Suplicy disputou prévias contra Lula em 2001. À época, o todo-poderoso petista estava desgastado após três derrotas ao Planalto. Lula conteve os ânimos internos, chamou o empresário José Alencar para vice, autorizou Antonio Palocci a redigir a Carta ao Povo Brasileiro para acalmar os bancos e ordenou José Dirceu a controlar os radicais. Hoje, Lula está fraco, Alencar morreu, Palocci e Dirceu estão condenados na Lava-Jato e a situação cada vez mais complicada.