Após a vitória de Emmanuel Macron para a presidência na França, Guillaume Liegey recebeu "muitos telefonemas do Brasil". Hoje, o estrategista eleitoral francês ensaia lançar sua start-up para colocar na órbita presidencial um Macron brasileiro.
A campanha de Emmanuel Macron introduziu na França os métodos aplicados na de Barack Obama nos Estados Unidos. "Estou convencido de que o modelo pode ser importado para o Brasil", diz Liegey, entrevistado pela AFP neste fim de semana ao final de uma segunda missão no país.
Ele ressalta "semelhanças" entre a França e o Brasil: "um alto nível de desconfiança no mundo político, grandes partidos que estão lutando para se transformar e o mesmo sistema de campanhas de financiamento" - público com doações privadas. O sucesso da campanha de Emmanuel Macron foi parcialmente atribuído à start-up LMP (do trio Liegey, Muller e Pons) que com seu software "Cinquante Plus Un" privilegiou o trabalho de campo.
Hoje, a start-up dos três jovens diplomados de Harvard ou MIT tenta se implantar no Brasil, que acaba de entrar em ano eleitoral e onde a eleição de Emmanuel Macron despertou forte interesse.
[SAIBAMAIS]Um Brasil polarizado, mas também muito desiludido, onde muitos não esperam nada de uma classe política corrupta. Um país difícil de governar com dezenas de partidos no Parlamento, o que às vezes leva a alianças explosivas e a formações improváveis e explosivas.
A eleição presidencial de outubro é a mais incerta em décadas no Brasil. Favorito nas pesquisas (34%-37%), o ex-presidente Lula, corre o risco de inelegibilidade depois de ser condenado por corrupção. O número dois, Jair Bolsonaro (16%-18%), um deputado nostálgico da ditadura militar, misógino e homofóbico, desperta medo.
Três outros candidatos (Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e Marina Silva) aparecem com menos de 10%. No centro, há um grande vazio: nenhuma figura emerge. Por enquanto.
Luciano Huck, apresentador de televisão de 46 anos, creditado com 8% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha, começa a chamar a atenção. E, em particular, a de Guillaume Liegey.
Pouco importa que Huck, que apresenta um programa de entretenimento, não tenha (ainda) partido e não tenha se declarado (ainda) candidato. "Se Huck for candidato e quiser me encontrar, vai me encontrar", disse Liegey, que falou à AFP por telefone de São Paulo, "mas também há outros candidatos".
"Eu não tenho nenhum contrato atual nesta fase no Brasil, ou fiz qualquer proposta comercial", continua, negando ter encontrado Huck, ao contrário de conjecturas que chegaram a sair na imprensa brasileira sobre uma suposta colaboração entre Huck e a empresa de Liegey.
;Outsider;
Mas a LMP está buscando no Brasil um "novo candidato, ou partidos estabelecidos que desejam lançar campanhas um pouco diferentes", afirma o estrategista. A sua start-up está "pronta para trabalhar com qualquer partido ou candidato (...) capaz de realizar uma grande campanha nacional".
O jogo muito aberto pode permitir o surgimento de um outsider, assim como Emmanuel Macron. Movimentos alternativos como Agora! poderiam eventualmente surgir e se unir a Huck. Este último, de acordo com a Folha de S.Paulo, já estabeleceu suas redes de conselheiros que fornecem análises e pesquisas.
"As campanhas se tornaram cada vez mais científicas, inclusive no Brasil, dependem de dados" coletados sobre o eleitorado, e "esse lado tecnológico facilita a organização de uma campanha todo terreno", explica o estrategista. "Vamos atrás dos indecisos graças a um porta a porta muito direcionado. O contato humano com o eleitor provou ser mais eficaz do que as redes sociais", ressalta.
"Nós havíamos esquecido que era complicado na França antes da vitória de Macron", ao qual as pesquisas apontavam 10% das intenções de voto nove meses antes das eleições, recorda Liegey. Mas "quando preparamos uma campanha, enfocamos apenas no que podemos controlar" e foi o que Emmanuel Macron fez.
No Brasil, "ninguém tem controle sobre se Lula será capaz ou não de disputar", diz ele, com a possibilidade de o ex-presidente ser declarado inelegível apenas pouco antes das eleições.
É fortuito que o trio da LMP descobriu ser o acrônimo de "Let;s Make a President". A start-up poderia "fazer um presidente" não importa qual candidato no Brasil? Liegey é vago: "nós não trabalhamos com candidatos populistas".