Politica

Defendido por FHC, nome de Huck é visto com reservas por líderes do PSDB

Mas o apresentador também conta com simpatizantes que já pensam em propostas na área econômica

Paulo de Tarso Lyra
postado em 09/02/2018 06:00

Em sua defesa ao TSE na ação do PT, apresentador alega que não é candidato, só defendeu participação maior da sociedade na política

A obsessão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em insuflar a pré-candidatura de Luciano Huck é vista com profundo desconforto pelo PSDB, embora o partido venha repetindo que isso é uma ;licença poética; do presidente em exercício da legenda. FHC, contudo, não está sozinho nessa empreitada. Padrasto do apresentador, o economista Andrea Calabi trabalha para vencer resistências no partido. A comunidade judaica paulistana também vê com bons olhos a pré-candidatura. E o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga discute uma plataforma econômica para ser apresentada pelo comunicador em uma eventual campanha.

Fernando Henrique, inclusive, teria sido um dos que sugeriram ao apresentador a confecção de um artigo, no fim do ano passado, dizendo não ser candidato a nada sem, contudo, fechar as portas para qualquer alternativa. A ideia, naquele momento, seria poupar o apresentador de um desgaste desnecessário a um ano das eleições. ;Se ele for candidato, vai apanhar muito, ainda mais sendo vinculado ao Grupo Globo;, lembrou uma liderança tucana.

A atual hesitação de Huck, inclusive, passa por aí. A emissora estaria pressionando por um posicionamento oficial para não se sentir exposta, o que pode acontecer logo após o carnaval. Mas a Rede Globo já foi arrastada para esse turbilhão, especialmente após a entrevista de Huck no programa do Faustão, no início do mês passado. Tanto que o PT acionou a emissora e o apresentador junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por campanha antecipada e abuso de poder econômico.

Nas defesas das partes encaminhadas ao tribunal, as alegações são de que Luciano ;não diz ser candidato, não apresentou qualquer programa de governo e que apenas defendeu uma participação maior da sociedade na política;. De mais a mais, alegam os advogados, o próprio apresentador foi às redes sociais, poucos dias após a participação no programa dominical, para reiterar a não candidatura.

Próximos passos

Embora sejam bastante próximos, Huck e FHC não teriam discutido, ainda, abertamente, a possibilidade de uma real candidatura. Esse encontro, contudo, é esperado para os próximos dias. Mas o ex-presidente não para de abrir as portas da legenda ao novo ;afilhado;. Em recente entrevista à Jovem Pan, o ex-presidente disse que ;nenhum dos nomes colocados até o momento representam o novo;, e que ;Huck poderá representar uma arejada no ambiente.

O PSDB entrou em chamas. Mas pessoas do círculo próximo de FHC garantem que as palavras recentes não são apenas um sinal de ;perda de leitura política; como querem fazer crer os defensores da candidatura de Geraldo Alckmin ao Planalto. Vários fatores contribuem para alimentar a resistência de Fernando Henrique ao nome do governador paulista.

A origem da animosidade vem da campanha presidencial de 2006. Candidato do partido ao Planalto, contra o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Alckmin optou por, simplesmente, esconder Fernando Henrique da propaganda tucana. A justificativa, jamais esquecida por FHC, é de que ;ele tiraria votos;. O tucano paulista adotou, inclusive, como estratégia, renegar uma das principais marcas do PSDB na gestão 1995-2002: as privatizações.

No segundo turno contra Lula, Alckmin posou para os fotógrafos com um macacão repleto de adesivos com o nome das empresas estatais. ;Eu fui obrigado a fazer isso porque Lula mentiu ao dizer que eu privatizaria o Banco do Brasil. Eu jamais disse isso;, justificou Alckmin, ao término da reunião da Executiva Nacional do PSDB, na última quarta-feira, em Brasília.

O governador tucano tenta amainar a pressão sobre si, afirmando que Huck reúne condições para ser candidato e que é sempre bom alguém com ideias novas para arejar a política. ;Poucos vão se lembrar, mas quando fui candidato a prefeito de São Paulo, em 2000, Huck me acompanhou em diversas agendas nas comunidades mais carentes;, recordou Alckmin. Recém-eleito tesoureiro do partido, o deputado Silvio Torres (SP) defende o nome de Alckmin. ;Do jeito que o país está, com esse nível de complexidade, não imagino o Huck como presidente da República;, criticou.

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que elogiou o discurso político de Huck em um encontro com empresários, lembrou que o próprio PSDB joga contra o governador ao estimular a realização de prévias internas contra o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio. ;Depois do dia 4 de março (data das prévias), o Geraldo estará no melhor dos mundos: presidente do PSDB e pré-candidato ao Planalto;, resumiu Torres.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação