Politica

Crise das grandes legendas abre espaço para pequenos partidos

Pequenos partidos têm a chance de amplificar discurso usando mídias digitais

Paulo de Tarso Lyra
postado em 11/02/2018 08:00
Foi-se o tempo em que a principal imagem do carnaval era a do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Ao que tudo indica, também são grandes as chances de ser apenas uma memória do passado a hegemonia das grandes legendas ; PT, PMDB e PSDB ; na corrida eleitoral. Com carros emperrados e mestres-salas enrolados por problemas complexos, as agremiações estão sendo obrigadas a dividir a ribalta com os bloquinhos que arrastam multidões pelas ruas do país. Essa evolução levou os partidos de pequeno e médio porte a sentirem-se no direito de sonhar com o Planalto em 2019. DEM, PPS, PDT, PCdoB, PSol, Rede e Novo juram que não vão atravessar o refrão em outubro.

Os pequenos carnavalescos sabem que não terão muito dinheiro disponível para espalhar seu samba. Que terão de mudar a forma de distribuição da mensagem que desejam transmitir, mas apostam no boca a boca segmentado, e não na superprodução que bombardeia os ouvidos dos foliões. ;Os tempos são outros. Os jovens não veem TV aberta, a população não vai parar para assistir ao horário eleitoral. O país vive uma mudança de fase e, por isso, as pequenas legendas têm condições de amplificar o discurso eleitoral gastando menos do que gastavam em disputas anteriores;, explica o vice-presidente digital da Ideia Big Data, Moriael Paiva.



Responsável por abrir as conversas com o marqueteiro de Emmanuel Macron, Guillaume Liegey, Moriael lembra que a população brasileira, mais do que nunca, está conectada. ;Não há em outro país do mundo a quantidade de informação que circula pelo WhatsApp. Podemos até achar que existe muita coisa desnecessária. Mas ele, o Facebook e o Youtube viraram ferramentas fundamentais de comunicação;, completa Moriael. Para ele, isso substituiria a figura dos cabos eleitorais sacudindo bandeiras no meio das ruas, algo que demanda um fluxo de dinheiro brutal. ;A mobilização tem de ser precisa, visitar os pontos e cidades que podem influenciar uma eleição. Pode até ser que, no mapeamento, sejam as mesmas que sempre foram visitadas. Mas não com o nível de informação que temos hoje;, completa.

As legendas médias e pequenas contam ainda com os carros alegóricos emperrados dos grandes partidos. O PT luta, no momento, para evitar a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva; o PSDB vê-se com uma disputa interna que não consegue ser adiada entre Geraldo Alckmin e Artur Virgílio. E o MDB, que está no poder, especula o nome do presidente Michel Temer, que patina nos 6% de aprovação popular.

;A Lava-Jato e os episódios recentes mostraram o desgaste dos grandes partidos. Se eles passarem na avenida, vão ser vaiados. Mas nós, dos bloquinhos, precisamos ter um argumento bom para atrair os foliões;, diverte-se o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), entrando no clima carnavalesco do debate. O partido que ele preside talvez seja o principal exemplo dessa transição, ao aguardar ansiosamente uma resposta ; que espera positiva ; do apresentador Luciano Huck como pré-candidato da legenda.

O PCdoB, que sempre foi satélite do PT nas campanhas presidenciais, lançou como rainha da sua bateria a deputada estadual (RS) Manoela D;Ávila. ;Sabemos que não temos dinheiro, o fundo partidário é baixo. Mas sempre fizemos campanha com base na mobilização da militância. Manoela tem posições muito firmes, o fato de ser mulher também ajuda no discurso voltado para um segmento importante;, reforça a presidente nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE).

Novo líder do DEM na Câmara, Rodrigo Garcia (SP) afirma que o aumento da bancada após o troca-troca partidário de março servirá para ampliar o exército de militantes. O partido cogita lançar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), como candidato. ;Com mais deputados, fica mais fácil difundir nossa propaganda pelos estados. O que torna a nossa candidatura viável;, acredita Garcia. Um dos principais organizadores da Rede Sustentabilidade, Pedro Ivo aposta na inovação. ;É preciso ser criativo e saber usar as redes sociais. Esse modelo de campanha, unido ao momento atual do país, não necessita de muitos recursos para ser realizado;, garante ele.


"O país vive uma mudança de fase e, por isso, as pequenas legendas têm condições de amplificar o discurso eleitoral gastando menos do que gastavam em disputas anteriores;
Moriael Paiva, vice-presidente digital da Ideia Big Data

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