O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad se transformou no novo Palocci do PT. Pupilo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Haddad foi escalado para escrever a nova versão da Carta ao Povo Brasileiro e o programa de governo Lula III. A primeira será apresentada no aniversário do PT, no próximo dia 22, em São Paulo. O segundo deve estar pronto até o fim deste mês e será apresentado a outros partidos de esquerda como estratégia de atuação conjunta ; não necessariamente de unificação de candidaturas ao Planalto em outubro ; a partir do início de março.
Em 2002, quando Lula chegou pela primeira vez ao Planalto, iniciando os quase 16 anos do PT no poder, Antonio Palocci foi o responsável pela elaboração da primeira carta ao povo brasileiro e do programa de governo. Herdara a missão do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado no início daquele ano. O programa foi dirigido à militância e aos aliados. A carta, aos investidores, tinha a intenção de espantar o receio de um PT radical.
O PT nunca gostou de Palocci. A aversão aumentou ainda mais depois que o ex-ministro da Fazenda, preso na Operação Lava-Jato, fechou delação premiada e dedurou Lula. O PT tampouco gosta de Fernando Haddad. Especialmente, o PT paulista. Eles se arrepiam com a possibilidade de o ex-ministro da educação ser o nome do partido para suceder o quase inviável Lula. ;Deus me livre, Haddad não agrega nada. Nosso melhor nome, caso Lula não possa ser candidato, é o Jaques Wagner;, afirma o deputado federal Carlos Zarattini (SP). Ele reforça, contudo, que esse debate está proibido no PT, que insistirá, até o limite, na candidatura de Lula.
Quem é mais simpático a Haddad afirma que o programa a ser apresentado aos aliados vai relacionar o discurso de esquerda com todas as mudanças que estão acontecendo no Brasil. Como seria a reforma da Previdência das legendas ditas progressistas, bem como as mudanças que seriam feitas nas leis trabalhistas, comparada às alterações do governo Michel Temer. Na carta, um discurso voltado para uma política econômica mais atenta à população, com críticas às desonerações do governo Dilma. ;São documentos que poderão ser implementados até mesmo se o PT não for cabeça de chapa em outubro;, diz um petista de São Paulo. Seria, então, viável o PT abdicar da precedência na composição política? ;Infelizmente, não;, lamenta o mesmo militante.
Ex-ministro do esporte nas gestões Lula e Dilma, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) lembra que, há quatro meses, as fundações dos principais partidos de esquerda estão dialogando em busca da elaboração de um documento comum de atuação política. ;A única que se propôs a participar apenas como expectadora foi a fundação do PSol. A primeira versão já foi concluída e encaminhada a eles para o acréscimo de sugestões;, declara Orlando. ;Se Haddad quiser ter acesso a esse material já iniciado, poderá ser muito útil a ele;, sugere.
O parlamentar paulista afirma que o ex-ministro é um bom gestor, assim como foi Palocci. Mas não o vê como um bom candidato à Presidência da República. Outro colega de bancada de Orlando Silva não vê muitas brechas para o PT viabilizar um nome competitivo até outubro. ;Especialmente depois da sentença proferida no TRF-4 (Tribunal Regional Federal de Porto Alegre). A saída para nosso campo são as candidaturas dos diversos partidos;, afirma o comunista. No caso do PCdoB, a pré-candidata é a deputada estadual do Rio Grande do Sul Manuela D;Ávila.