Politica

Falta de recursos é o primeiro impasse do Planalto em intervenção do Rio

Rodrigo Maia cobra verba do governo federal para reequipar as forças policiais do Rio. E promete criar comissão para fiscalizar a intervenção

Hamilton Ferrari
postado em 18/02/2018 08:00
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No primeiro dia efetivo da intervenção no Rio de Janeiro, o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), cobrou do governo federal estrutura orçamentária para manter a segurança pública no estado e prometeu criar, no Congresso Nacional, uma comissão que terá o papel de fiscalizar a operação das Forças Armadas no Rio. O deputado carioca se reuniu ontem com o presidente Michel Temer e o governador do estado, Luiz Fernando Pezão, no Palácio da Guanabara, sede do governo regional, para tratar sobre os detalhes da medida anunciada na última sexta.

Maia discutiu com o presidente sobre as condições orçamentária do Rio, que, na visão dele, não tem condições técnica, tecnológica e de equipamentos para que a polícia possa atuar. Apesar de nenhum valor ter sido comentado com a imprensa, o presidente da Câmara declarou que o governo federal poderá injetar verba, por exemplo, para a manutenção das viaturas das polícias ; 70% delas estão com problemas. ;Esse tipo de estrutura o governo vai ter que suprir. (Quando) o orçamento do estado não tiver mais condições de cobrir, vai ter que ser resolvida com o orçamento da União;, disse. ;A intervenção trata de todas as áreas, inclusive da parte orçamentária;, completou.


Tropa nas ruas

Ontem, o policiamento das ruas da capital foi intensificado, inclusive com a presença de efetivos militares, mas, segundo o Exército, o aumento do patrulhamento não tinha relação com a intervenção, mas por causa da visita de Temer ao Rio. Mesmo assim foram registrados assaltos, roubos de carga e explosão de caixa eletroônico na Zona Norte.

Maia também fez questão de destacar que o desespero da população carioca o levou a apoiar a operação, mas ressalvou que será necessário acompanhamento constante. ;Ninguém vai resolver o problema de segurança do Rio da noite para o dia;, ponderou. ;A médio e a longo prazos, esperamos que comece um processo para 2019, com a reestruturação da capacidade de trabalho das nossas polícias.;

Apesar de apoiar a operação das Forças Armadas, Maia não vê com bons olhos a intervenção de última hora no Rio, sem planejamento para reverter o quadro de violência. O deputado Pedro Paulo (MDB-RJ) enviou ao presidente da Câmara requerimento para a criação de comissão para fiscalizar a intervenção. Ao Correio, o parlamentar destacou que a medida foi tomada às pressas e sem formulação prévia do que será feito. ;Enviei um requerimento para a criação da comissão, que vamos tentar detalhar na segunda-feira, depois da votação da intervenção.;

No Rio, Maia adiantou que será uma espécie de ;observatório; que busca um trabalho mais eficaz na segurança pública. ;A decisão (de intervenção) foi do governo federal, e nosso papel é fiscalizar. É a primeira situação desse tipo que acontece após a Constituinte. Nosso trabalho é para fiscalizar uma situação que é extraordinária. Vamos fiscalizar sempre em conjunto, no diálogo, dizendo onde está caminhando bem e onde está caminhando mal;, disse .

O chefe da comunicação do Comando Militar do Leste (CML), coronel Carlos Cinelli, avaliou que a presença de militares do Exército nas ruas do Rio de Janeiro poderá gerar um incômodo natural e, por isso, será necessária a compreensão da população. ;Algum desconforto vai existir. Uma revista, por exemplo, poderá gerar algum transtorno a moradores, o que, eventualmente, já ocorria antes;, afirmou. De acordo com ele, a presença de agentes no estado será mais notada depois da aprovação da intervenção no Congresso.

A expectativa é de que a votação do decreto da intervenção seja feita na Câmara e no Senado até terça-feira. É necessária maioria simples para a aprovação nas duas casas. Maia informou que a relatora da matéria que autoriza a intervenção federal na Câmara será a deputada Laura Carneiro (MDB-RJ).


Crivella

Depois de passar uma semana fora do país, num momento de turbulência na cidade, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, volto ontem e participou da cerimônia de apresentação do interventor federal na área de segurança do estado, Walter Souza Braga Netto. Durante o carnaval, Crivella publicou nas redes sociais um vídeo para informar que viajaria à Europa com a finalidade de buscar ;uma coisa; que o Rio estava precisando. No período, além da onda de assaltos, a cidade passou por um temporal que resultou em quatro mortes. No exterior, o prefeito disse que estava acompanhando a situação e atento para qualquer emergência.

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) informou, em comunicado à imprensa, que vai investigar se a viagem de Crivella teve fins de interesse público, já que foram gastos recursos da prefeitura da capital. ;O MPRJ determinou que seja esclarecido pelo prefeito o custo de cada viagem internacional realizada, com encaminhamento de planilha das passagens aéreas e diárias;, informou o comunicado.

O MPRJ também solicitou à Câmara Municipal do Rio cópias de relatórios sobre os resultados das últimas viagens internacionais do prefeito. ;A lei determina ao chefe do Executivo que adote essa providência até 15 dias após o seu retorno de cada viagem. Todos os ofícios foram encaminhados nesta sexta,16;, informou a assessoria.

Por meio da assessoria de imprensa, Crivella informou que viajou com um grupo de autoridades de segurança pública. A comitiva visitou Alemanha, Áustria e Suécia, em ;busca de soluções tecnológicas para a violência da cidade, segundo o prefeito.


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