Politica

Presidente da Fecomércio-RJ, Orlando Diniz é alvo da Lava-Jato no Rio

Orlando Diniz é suspeito de desviar recursos e usar esquemas da organização criminosa do ex-governador Sérgio Cabral para lavar dinheiro

Jacqueline Saraiva
postado em 23/02/2018 06:38

Investigação apura desvio de verba, indícios de lavagem de dinheiro e pagamento de cerca de R$ 180 milhões em honorários advocatícios com recursos da Fecomércio-RJ

O presidente da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) e presidente afastado do Sesc-Rio, Orlando Santos Diniz, foi preso preventivamente em um desdobramento da Operação Calicute, em uma investigação de desvio de recursos da federação. A ação, intitulada Jabuti, alusão a funcionários-fantasmas, é uma das fases da Lava-Jato no Rio de Janeiro. Além dos desvios, a Polícia Federal (PF) juntamente com o Ministério Público Federal (MPF) e a Receita, apuram indícios de lavagem de dinheiro e pagamento de cerca de R$ 180 milhões em honorários advocatícios com recursos da própria entidade.

Orlando Diniz, preso na casa dele no Leblon, Zona Norte do Rio de Janeiro, é suspeito de desviar recursos e usar esquemas da organização criminosa do ex-governador Sérgio Cabral para lavar dinheiro. Em dezembro do ano passado, ele foi afastado do Sesc/Senac, do Rio, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Além da prisão dele, a 7; Vara Federal Criminal expediu três ordens de prisão temporária e 10 mandados de busca e apreensão. As prisões temporárias são contra Plínio José Freitas Travassos Martins, Marcelo José Salles de Almeida e Marcelo Fernando Novaes Moreira, todos diretores de confiança de Diniz no SESC/SENAC. Serão intimados para prestarem depoimentos: Elinaldo Bastos dos Santos, Rafael Ramires Araújo Valim, Francisco Carlos de Souza, Cassiano Antônio Pereira, Ana Rita Menegaz, Carla Carvalho Hermansson, Maria Angélica Miranda, Antônio Carlos Bezerra, Gladys Silva Falci de Castro Oliveira e Sônia Ferreira Batista.

[SAIBAMAIS]Segundo o Ministério Público, Orlando Diniz lavou, entre os anos de 2007 a 2011, cerca de R$ 3 milhões pela sua empresa de consultoria Thunder Assessoria Empresarial, em esquema autorizado por Sérgio Cabral e que contou com a atuação dos seus operadores Carlos Miranda e Ary Filho, o Aryzinho.

A lavagem de dinheiro ocorria com a assinatura de contratos em que a empresa de assessoria prestaria serviços de "elaboração de clipping de notícias" e de "comentário conjuntural com a análise dos fatos mais importantes nos setores empresariais selecionados" para empresas dos Grupos Dirija e Rubanil. Tais serviços nunca foram realizados de fato, segundo a investigação. Cabia a Miranda e a Aryzinho repassar o dinheiro sujo de Diniz e a nota fiscal fria emitida pela Thunder aos empresários desses grupos. Depois disso, eles transferiam o dinheiro para as contas bancárias da Thunder, fechando assim o ciclo da lavagem. "Pelo Grupo Dirija foram lavados R$ 1.422.000,00 e pelo Grupo Rubanil R$ 1.595.840,80", afirmou o MPF em nota.

Pessoas ligadas à gestão da Fecomércio-RJ são investigadas por estarem envolvidas em operações irregulares incluindo o desvio de recursos, lavagem de dinheiro e pagamento, com recursos da entidade, de vultosos honorários a escritórios de advocacia, somando mais de R$ 180 milhões. "Nesse valor estão incluídos cerca de R$ 20 milhões que teriam sido pagos ao escritório pertencente à esposa de um ex-governador do Rio que se encontra recolhido ao sistema prisional à disposição da Justiça", de acordo com nota da PF.

Repasses a escritório de Adriana Ancelmo

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), um repasse de R$ 13.025.183,26, da Fecomércio do Rio ao escritório de advocacia da ex-primeira-dama do Estado Adriana Ancelmo já havia sido alvo das investigações da força-tarefa da Lava-Jato. Em novembro de 2016, quando o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB) foi preso, o MPF havia apontado um "crescimento vertiginoso" da banca. No governo Cabral, o escritório de Adriana Ancelmo recebeu R$ 35,8 milhões de 10 empresas. Uma delas, a Fecomércio do Rio.

Funcionários fantasmas receberam salários por anos

Diniz contratou a pedido de Cabral ao menos seis funcionários "fantasmas", ou seja, que recebiam salários, mas nunca prestaram serviços para essas entidades. Vários deles receberam, por anos, salários da federação no Rio, sem ter trabalho sequer um dia, segundo a investigação. "Algumas dessas pessoas, na verdade, trabalhavam para o ex-governador preso, e outras são familiares próximos de outros membros da organização criminosa", explicou a PF. Na lista de funcionários fantasmas estavam: a irmã de Wilson Carlos;mãe e esposa de Carlos Miranda; um irmão de Carlos Bezerra; a esposa de Aryzinho; e a esposa de Sérgio de Castro (conhecido como Serjão).

De acordo com o MPF, também foram contratados dois funcionários que, na verdade, prestavam serviços diretamente para Cabral, uma chef de cozinha e uma governanta. Os salários eram pagos com verbas do orçamento do SESC/SENAC. "O total de pagamentos atingiu o valor total de R$ 7.674.379,98", afirmou a investigação.

Em nota, a Fecomércio-RJ afirmou que as acusações contra Orlando Diniz são "infundadas" e que ele vai provar inocência. Ressaltou também que o dirigente colaborou com as investigações" e que está à disposição da Justiça. "As inverdades levantadas contra o grupo legitimamente eleito para dirigir a Fecomércio e o Sesc têm resultado na destruição de projetos importantes para a sociedade fluminense", afirmou o texto.

Operação Integração mira fraude em concessões

Nessa quinta-feira (22/2), , cumpriu mandados de busca e apreensão e de prisão contra envolvidos num esquema de fraude em contratos para a concessão de rodovias no Paraná. Entre os suspeitos da Operação Integração está Carlos Felisberto Nasser, assessor da Secretaria da Casa Civil do governo paranaense e tido como homem próximo do governador do estado, Beto Richa (PSDB). Os integrantes do esquema aumentavam o preço cobrado em pedágios para desviar parte dos recursos.

Foram cumpridos 50 mandados de busca e apreensão e ao menos 6 de prisão nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. Segundo a PF, as irregularidades ocorreram na concessão de rodovias no chamado Anel de Integração no Paraná. As ações foram autorizadas pelo juiz Sérgio Moro, da 13; Vara Federal de Curitiba. A investigação apontou que agentes públicos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER-PR) receberam propina para participar do esquema. O dinheiro era operado por Adir Assad e Rodrigo Tecla Duran, que já eram investigados por envolvimento em atos de corrupção.

Leia a íntegra da nota da Fecomércio-RJ:

Nota à Imprensa

As acusações que recaem sobre Orlando Diniz são infundadas. Ele vai esclarecer todos os pontos levantados pela PF e pelo MPF e o devido processo legal deve provar sua inocência.

O comando nacional da Confederação Nacional do Comércio (CNC), dirigida desde 1980 pela mesma pessoa, tem interferindo indevidamente na entidade do Rio de Janeiro com a finalidade de se manter no poder.

As inverdades levantadas contra o grupo legitimamente eleito para dirigir a Fecomércio e o Sesc têm resultado na destruição de projetos importantes para a sociedade fluminense (como o investimento no esporte), no enfraquecimento do comércio no Estado e na desprofissionalização da Fecomércio, hoje controlada por interventores indicados politicamente.

Orlando Diniz sempre colaborou com as investigações e esteve à disposição para esclarecimentos junto às autoridades.

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