Quase quatro anos após a morte do líder maior, Eduardo Campos, o PSB refaz o caminho de volta à esquerda e poderá, a partir do congresso que vai realizar de hoje a sábado, vetar uma aliança com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para as eleições de outubro. A medida desagradará o vice-governador paulista, Márcio França, que tenta levar a legenda para uma aliança com os tucanos. França, inclusive, corre o risco de ver seu companheiro de chapa vaiado caso insista em levá-lo ao encontro socialista.
Para a abertura do evento, hoje à noite, foram convidados os presidentes de partidos amigos ; PDT, PCdoB e PT. França queria levar Alckmin, mas os diretórios de Pernambuco, Piauí e Paraíba pretendem colocar militantes nos arredores do Centro Internacional de Convenções do Brasil e dentro do salão para protestar contra a presença do tucano no evento.
O encontro do PSB promete ser tenso. Será apresentada uma moção deliberando que a legenda só poderá fazer alianças, no plano nacional e nos estados, com partidos do campo de centro-esquerda. Há duas semanas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se, pessoalmente, com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e a viúva de Eduardo Campos, Renata, na sede do Instituto Lula, em São Paulo. Ele já havia encontrado com ela em agosto de 2017, em Recife, na casa da ex-primeira dama do estado, quando o acordo começou a ser alinhavado.
Isso não significa, necessariamente, que a legenda vá apoiar uma candidatura do PT. Primeiro, porque não há certeza de quem será o candidato petista, uma vez que dificilmente Lula conseguirá concorrer nas eleições de outubro. Mas ele e o PT vão adiar até o último instante essa decisão, porque sabem que, se Lula for lançado ao mar agora, perderão um ativo político importante, que ainda lidera as pesquisas de intenção de voto.
Segundo, porque as outras opções de plano B do PT não ajudam neste momento. O preferido pela maioria do partido é o ex-governador e atual secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia, Jaques Wagner. Mas ele foi indiciado pela Polícia Federal, na última segunda-feira, sob a acusação de receber R$ 82 milhões em propinas pela derrubada e construção da nova Arena Fonte Nova. Existe também a opção do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, mas este enfrenta resistências dentro do próprio partido.
Sem definição
Conforme apurou o Correio, embora o encontro desta semana vá restringir o campo de alianças do PSB, só no congresso extraordinário, marcado para maio, é que a legenda vai definir qual candidato apoiará oficialmente. A ideia, contudo, é eliminar de saída o PSDB de Geraldo Alckmin. Segundo caciques socialistas, não é apenas Márcio França que defende uma aproximação com os tucanos. O secretário-geral do PSB, Renato Casagrande, também teria interesse no acordo, de olho nas eleições de outubro no Espírito Santo.
Setores do partido defendem uma candidatura própria e vários nomes aparecem como opção para isso. O principal deles é o do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. Barbosa e caciques socialistas já conversaram mas, até agora, nada foi firmado. Na mais recente pesquisa Datafolha, realizada no fim de janeiro, com a presença de Lula na liderança com 37% das intenções de voto, Barbosa aparece em quinto lugar, com 5%, empatado na margem de erro com o pedetista Ciro Gomes e o tucano Geraldo Alckmin, ambos com 7%.
Barbosa, contudo, embora tenha demonstrado interesse no diálogo, não se filiou ainda ao PSB, algo que precisa acontecer até o início de abril. No próprio partido, outros dois nomes são ventilados como postulantes ao Planalto: o atual vice-presidente do partido, Beto Albuquerque e Aldo Rebelo, recém-egresso do PCdoB-SP.