Agência Estado
postado em 15/03/2018 18:12
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vai propor um pacto de risco ao presidente Michel Temer, na tentativa de tornar viável sua candidatura ao Palácio do Planalto.
Se Temer aceitar o acordo, Meirelles deixará o comando da economia na reforma ministerial, prevista para o início de abril, e até o começo de julho fará viagens pelo País, já filiado ao MDB, com o objetivo de se tornar conhecido.
A proposta a ser apresentada pelo ministro é que, se o seu nome não decolar nesse prazo de três meses, ou mesmo se Temer resolver disputar novo mandato, ele retirará a pré-candidatura para apoiar o presidente.
Meirelles quer ser candidato, mas avalia que precisa de tempo para expor sua plataforma ao País, "traduzir" a melhoria dos indicadores econômicos em metas sociais e aumentar a popularidade. Seu desejo de concorrer, no entanto, esbarra na possível pretensão de Temer de entrar no páreo.
Com receio de deixar o governo e depois ser "cristianizado" pelo Planalto, o ministro conversou recentemente com o presidente do MDB, Romero Jucá (RR), e decidiu sugerir o acordo a Temer, nos próximos dias.
A interlocutores, Meirelles tem dito que, caso não consiga respaldo popular e político, fará campanha para o presidente ou para o postulante que ele avalizar e não retornará à equipe.
As últimas pesquisas de intenção de voto mostram que Meirelles tem no máximo 2% das preferências. Temer, por sua vez, nem chega a esse patamar. Na avaliação dos dois, porém, o que mais importa é o potencial de crescimento daqui para a frente. O ministro encomendou levantamentos qualitativos de opinião para saber o que eleitores esperam do próximo ocupante do Planalto e como as pessoas encaram sua possível candidatura.
Ex-presidente do Banco Central no governo Lula, Meirelles é filiado ao PSD, mas o ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicações, Gilberto Kassab, chefe do partido, fechou acordo para apoiar o prefeito João Doria (PSDB) ao governo paulista. Em troca, Kassab negocia a vaga de vice na chapa de Doria e, além disso, deve aderir à campanha do governador tucano Geraldo Alckmin à Presidência, rifando Meirelles.
Costura
As articulações do Planalto são para unir o centro político, mas até agora esse acerto está cada vez mais difícil de ser costurado com os aliados. Na semana passada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), engrossou a fila dos candidatos com o discurso da "mudança" e assegurou não estar disposto a defender Temer.
"O convite para Meirelles se filiar ao MDB já foi feito e só estamos aguardando a resposta", disse o senador Jucá, líder do governo que se tornou o primeiro réu no Supremo Tribunal Federal em investigação aberta após delação da Odebrecht.
Ao ser questionado se as denúncias contra Temer dificultam o plano do MDB de pleitear mais quatro anos no poder, Jucá respondeu que o presidente já está exposto. "Ele sabe que vai sofrer, porque querem criminalizar o mundo político. Nós respeitaremos a decisão dele, seja qual for. E Meirelles será muito bem-vindo."
O favorito de Meirelles para ocupar sua cadeira é o secretário executivo da Fazenda, Eduardo Guardia. Em reunião com Temer no domingo, no Palácio do Jaburu, o ministro sugeriu Guardia para substituí-lo, mas, ciente de que seu braço direito não conta com a simpatia do Planalto nem do Congresso, encaminhou também o nome do secretário de Acompanhamento Fiscal, Mansueto Almeida. Nos bastidores, Jucá se movimenta para que o titular do Planejamento, Dyogo Oliveira - seu afilhado político - seja transferido para a Fazenda.