A internet é amplamente utilizada para acesso a pesquisas e atua como meio de acesso às mídias sociais, estreitando as relações interpessoais. Nas eleições, surge como uma poderosa arma de divulgação dos candidatos e conhecimento das propostas por parte dos eleitores, mas cada vez mais tem sido utilizada em larga escala para reprodução de fake news. Até que ponto a internet pode influenciar no resultado das urnas? Ouvidos pelo Correio, especialistas apontam os maiores obstáculos que os candidatos enfrentarão nas próximas eleições, cujo primeiro turno será realizado daqui a 193 dias, em 7 de outubro.
Marcelo Vitorino, especialista em marketing político, afirma que a internet veio para ficar e o candidato precisa ter uma equipe preparada para usar as ferramentas da melhor maneira possível. ;Ele tem que ter a ideia de que a internet não é mágica. Vai ter que contratar uma equipe boa para fazer campanha. O candidato tem que se fazer uma pergunta: ;se ele pudesse ter uma TV, quanto ele investiria?; Na internet também deve fazer isso. A gente olha muito mais tempo para o celular do que para a televisão. É indispensável ter um marketing político para desenvolver uma boa campanha;, defende.
Segundo Vitorino, os chamados ;likes; não são relevantes para os votos. ;O sucesso não tem relação alguma, muitas vezes um candidato cheio de fãs e curtidas pode comprá-los e não significa realmente que ele seja o preferido. Mas a rede social elege e tem peso. Para combater a guerrilha, precisa de uma equipe de monitoramento em tempo real. Aí, você vai saber o que precisa combater ou não. Identificar se o problema vai tomar rumo.;
Vitorino afirma que os desafios encontrados pelos candidatos em ano eleitoral se resumem em quatro: arrecadação de verbas, combate a boatos, estímulo à militância e votos. Os postulantes a cargos públicos precisarão de um conteúdo ideológico consistente, uma base de militantes treinada e unificada e ainda estruturar um grupo para combate a boatos. ;O que foi feito até hoje era como se fosse o raso da piscina. Da última eleição para cá, não dá para aproveitar nada. Cada campanha é única e precisa começar do zero. Antes, usávamos a internet para mobilização e reprodução de material em 99% das vezes. Um outro desafio é também tirar o eleitor de casa para votar. O índice de voto nulo é grande;, conclui.
Efetividade
Já o diretor do Instituto de Ciência Política (ICP) da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Calmon, acredita na influência da internet no ano eleitoral e afirma que é importante para o país a criação de ferramentas efetivas contra as fake news. ;Certamente a internet tem um poder. No caso da política, temos o fake news produzido. Pode ser uma história inventada, pode ser requentada ou uma história potencializada. É o que temos visto acontecer. É preciso que tenha um conjunto de profissionais voltados para o marketing digital para investigar o que as pessoas pensam e acham de seus candidatos;.Para Paulo Bahia, sociólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a internet pauta o que será discutido nos debates. Os candidatos que não tiverem grupos de combate a boatos está fadado a ser prejudicado nas eleições. Segundo ele, muitos ainda estão preocupados apenas em montar o ativismo digital. ;A internet já influenciou as eleições em 2014. Neste ano, isso vai exigir do candidato que ele monte um grupo de combate para a falsa notícia. O episódio da vereadora Marielle Franco, por exemplo, mostra que dá para ter um grupo de rapidez e com resultado para combate à fake news;, ressalta.