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Ministério Público quer explicações sobre comentários de general

Procurador pede à PGR que encaminhe peça ao ministro Silva e Luna para que ele se "manifeste" sobre risco de intervenção militar, por causa das declarações do comandante

Alessandra Azevedo, Rodolfo Costa
postado em 05/04/2018 06:00
Villas Bôas e as declarações controversas: o ministro da Defesa deverá explicar o que o comandante disse

A Procuradoria da República no Distrito Federal pediu explicações ao ministro interino da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, sobre as declarações feitas pelo comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, na última terça-feira, véspera do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em resposta à mensagem do militar, publicada em uma rede social, de que ;compartilha o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade; e ;se mantém atento às suas missões institucionais;, o procurador da República no DF Ivan Cláudio Marx pede que o ministro tenha ;ciência e manifestação sobre eventual risco de função interventora das Forças Armadas;.

Como Silva e Luna tem foro privilegiado, Marx pediu à Procuradoria-Geral da República (PGR) que encaminhe a solicitação. ;Oficie-se ao ministro da Defesa (via PGR), com cópia integral do presente procedimento, para ciência e manifestação sobre eventual risco de função interventora das Forças Armadas;, diz a manifestação. O pedido foi feito no âmbito do Procedimento Investigatório Criminal (PIC) em que se apura as declarações de outro militar, o general Antônio Hamilton Mourão. Em uma palestra em setembro, Mourão disse que as Forças Armadas poderiam partir para uma ;intervenção militar; se o Judiciário ;não solucionar o problema político;.

[SAIBAMAIS]As palavras do comandante do Exército refletiram o posicionamento de outros generais da reserva e da ativa, que têm discutido há semanas, em um grupo no WhatsApp, possíveis reações ao resultado do julgamento no STF. Nas redes sociais, alguns generais reafirmaram o apoio a Villas Bôas, como o comandante da 16; Brigada de Infantaria de Selva, general Cristiano Pinto Sampaio. ;Sempre prontos, comandante!”, declarou. Os generais José Luiz Dias Freitas e Geraldo Antonio Miotto, que assumirá o comando militar do Sul, também apoiaram publicamente as declarações. ;Estamos firmes e leais ao nosso comandante! Brasil acima de tudo! Aço!”, disse Miotto.

Interpretações

Enquanto o ministério da Defesa definiu a declaração do militar, em nota, como uma ;mensagem de confiança e estímulo à concórdia;, autoridades, parlamentares e representantes da sociedade civil encararam as palavras como uma clara ameaça de intervenção militar caso o STF concedesse o habeas corpus. As reações, tanto à publicação inicial de Villas Bôas quanto às declarações públicas de apoio, foram acaloradas, com discursos no plenário da Câmara dos Deputados, manifestações de líderes partidários e até posicionamentos oficiais de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que ;conclamou a nação a repudiar qualquer tentativa de retrocesso;, e a Anistia Internacional, que lançou nota repudiando as palavras do comandante.

Para contornar a saia justa e traçar uma estratégia para dialogar com o comandante e a cúpula do Exército, o presidente Michel Temer recebeu ontem, no Palácio do Planalto, líderes do governo no Congresso Nacional e ministros ; entre eles, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen, e o da Justiça, Torquato Jardim, além do comandante interino da pasta de Direitos Humanos, Gustavo Rocha. O presidente não se manifestou oficialmente sobre o assunto, mesmo após os encontros com a equipe, mas, em cerimônia durante a tarde, defendeu a liberdade de expressão e ressaltou que o cumprimento da Constituição ;é fundamental para a organização social;.

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse que, de zero a dez, é de ;menos um; a chance de se ter uma intervenção militar no Brasil. ;Não vejo nenhuma força política, à exceção daquelas que são absolutamente minoritárias, propor um retorno ao passado. Ninguém quer isso, e isso não tem o menor curso no Brasil, eu posso assegurar;, afirmou.

Kassab fica no governo

O ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab (PSD), afirmou que não abandonará o governo, ao contrário das especulações dos últimos dias. Em contrapartida, o presidente Michel Temer também recebeu a confirmação de que os ministros da Integração Nacional, Helder Barbalho (MDB), e de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho (MDB), deixarão os postos. A permanência de Kassab foi comemorada pelo governo. Havia uma expectativa de que o auxiliar desembarcasse do governo e se aliasse ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para a disputa das eleições presidenciais. O jogo, no entanto, virou. O PSD deve lançar candidatura própria. O mais cotado é o presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Guilherme Afif Domingos.

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