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Lula pode ser preso neste sábado, após missa em homenagem à Marisa Letícia

Depois de passar a sexta-feira dentro do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e não se entregar em Curitiba, Lula está inclinado a se apresentar à Polícia Federal logo após uma missa em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Letícia, na manhã de hoje

Felipe Seffrin - Especial para o Correio, Renato Souza
postado em 07/04/2018 05:59

Da sacada do quarto andar da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, Lula cumprimenta os manifestantes que fizeram vigília ao redor do prédio

Em um dia marcado pela expectativa de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se entregasse à Polícia Federal, em cumprimento ao mandado de prisão expedido pelo juiz Sérgio Moro, o petista manteve o silêncio e decidiu não acatar a determinação da Justiça. Durante a tarde e a noite de ontem, os advogados do petista e aliados se dividiram para negociar o momento da rendição com a Polícia Federal. O principal articulador foi o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. Na PF, quem liderava o diálogo era o delegado Igor Romário de Paulo, como determinado pela Justiça. De acordo com o senador Humberto Costa, o ex-presidente deve ser preso hoje, após uma missa em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Letícia, que completaria 68 anos neste sábado.

O petista está desde a noite de quinta-feira na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP). O prazo para que ele se apresentasse voluntariamente à Justiça, definido pelo juiz Sérgio Moro, da 13; Vara Federal de Curitiba, terminou às 17h de ontem. Lula passou a noite em uma sala reservada na sede da entidade. Por conta de uma previsão constitucional, as equipes policiais não efetuaram a prisão durante a noite. Ao longo do dia, o ex-presidente recebeu a visita de diversos apoiadores, entre eles deputados, artistas e nomes que integraram seu governo. Foram ao local o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, os ex-ministros Celso Amorim e José Eduardo Cardozo e a ex-presidente Dilma Rousseff.

A assessoria de imprensa da Justiça Federal do Paraná informou que o fato de o petista não se entregar dentro do prazo estabelecido não resulta em descumprimento de ordem judicial nem o torna um foragido da Justiça. Mas, a partir desse fato, a PF deve efetuar a prisão, o que pode ocorrer sem aviso prévio. Equipes policiais se reuniram nas últimas horas nas superintendências da PF em Brasília, São Paulo e Curitiba para estabelecer os procedimentos a serem realizados.

Um jato da instituição chegou ao Aeroporto de Congonhas à noite, com a finalidade de realizar o transporte do petista para o local de reclusão, em Curitiba. Advogados do ex-presidente e a direção do PT abriram um canal de negociação com a cúpula da Polícia Federal. José Eduardo Cardozo cancelou uma viagem para a Espanha a fim de participar da mobilização. As negociações, pelo lado de Lula, foram conduzidas também por outras três pessoas cujos nomes não foram divulgados.

O delegado Igor Romário de Paulo afirmou que a possibilidade de entrar à força no sindicato é ;remota;. ;A prioridade é evitar confronto, o que faria inflar ainda mais os ânimos;, disse. Apesar disso, dois pelotões do 3; Batalhão da Tropa de Choque da Polícia Militar foram enviados pelo comandante-geral, coronel Nivaldo Restivo, para São Bernardo do Campo. Eram cerca de 60 homens com um caminhão lançador de água com a ordem de atuar somente em caso de quebra da ordem e se o policiamento territorial não fosse suficiente para restabelecê-la.

Público


A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, afirmou que esteve reunida com Lula e que ele não demonstrou o desejo de se entregar. ;Tem um monte de gente dizendo que o ex-presidente Lula está negociando se entregar, que está fazendo acordo com a PF. Isso não é verdade. Ele está aqui protegido pelo povo e vai participar da missa em homenagem à dona Marisa Letícia. É a primeira vez que ele deixa de passar esta data com ela e a família. Então, vamos fazer isso aqui no Sindicato dos Metalúrgicos;, afirmou.

De acordo com o PT, cerca de 20 mil pessoas se concentraram em frente à sede do Sindicato dos Metalúrgicos ; a Polícia Militar não fez nenhuma estimativa de público. Vestidos de vermelho, com bandeiras do partido e gritos de guerra, os manifestantes falavam em impedir o cumprimento da ordem do juiz Sérgio Moro.

De acordo com o senador Humberto Costa, a intenção é que tudo ocorra de forma pacífica. A esperança é de que a prisão seja revertida na Justiça por meio de diversas ações realizadas pelos advogados. Uma das possibilidades é obter um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) que tenha validade até o fim do processo em que ele foi condenado a 12 anos e um mês de prisão (leia mais na página 3).

Manutenção de benefícios


O Palácio do Planalto estuda os meios judiciais cabíveis para assegurar que Luiz Inácio Lula da Silva mantenha os direitos concedidos por lei a ex-presidentes da República, como seguranças, motoristas e assessores. O governo optou pelo silêncio por avaliar que a prisão é uma ;ação da Justiça;, mas entende que o petista merece ter uma sensação maior de segurança, como manter direitos adquiridos pelo posto exercido em dois mandatos. A Secretaria-Geral da Presidência da República está fazendo consultas jurídicas para apurar como será assegurado o direito de Lula manter os benefícios. De acordo com a Lei n; 7.474/86, os ex-presidentes têm direito a quatro servidores para segurança e apoio pessoal, a dois veículos oficiais com condutores habilitados e ao assessoramento de dois servidores ocupantes de cargos em comissão. (Rodolfo Costa)

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