Politica

Próximo presidente não terá como fugir das coalizões para poder governar

Tendência é de que o próximo presidente da República continue dependendo de arranjos políticos para contar com base na Câmara dos Deputados e ter poder de governabilidade, principalmente pela ausência de renovação dentro da Casa

Deborah Fortuna
postado em 16/04/2018 06:00

As leis eleitorais aprovados pela legislação atual farão com que a renovação na Câmara dos Deputados 
diminua na votação de outubro


O próximo presidente da República não terá como fugir das velhas e famosas coalizões para garantir a governabilidade. A pulverização do poder partidário dentro da Câmara dos Deputados e a cada vez mais palpável falta de renovação da Casa não deixará que o chefe do Executivo tenha apoio suficiente para aprovar projetos ordinários no Legislativo, segundo especialistas ouvidos pelo Correio. Para conseguir a vitória, é necessário que a legenda do mandatário tenha base aliada equivalente, por exemplo, a cinco vezes o tamanho do PT, que hoje reúne 60 parlamentares.

Se o presidente eleito for de partidos menores, a situação fica mais complicada: no caso do Jair Bolsonaro (PSL-RJ), a sigla não chega a oito deputados dentro da Câmara. Para especialistas, o próximo presidente só conseguirá governabilidade caso haja o presidencialismo de coalizão. Ou seja, um governo no qual há fragmentação em vários partidos. A situação, no entanto, é histórica. Para o diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, ;desde Sarney isso tem sido frequente;. E a tendência é que isso fique mais acentuado este ano.

Segundo Queiroz, independentemente da linha ideológica do próximo chefe do Executivo, é necessário que ele se una a outras siglas. ;Nenhum presidente elege parlamentares suficientes para aprovar leis ordinárias. Então, além da coalizão para se eleger, ele precisa agregar partidos para a base e garantir governabilidade para aprovar leis;, explica. A expectativa é de que os três maiores partidos ; PT, PSDB, e MDB ; consigam colocar pouco menos de 50 deputados, cada um, dentro da Câmara. ;Se no atual Congresso a pulverização foi grande, no próximo tende a ser maior;, comenta o diretor.

Portanto, é preciso contar com quem já está dentro da Casa. Mesmo com o período de janela partidária, encerrada em 7 de abril, o maior partido continua sendo o dos Trabalhadores. ;(O PT) É quem elegeu mais, quem tem mais recursos do fundo eleitoral. Os cinco maiores vão continuar os atuais, com pequenas oscilações;, argumenta Queiroz. A sigla elegeu 68 deputados nas eleições de 2014, e hoje tem 60. ;O MDB perdeu muitos (na janela), em compensação, arregimentou outros. O único que teve ganho líquido foi o DEM, que agregou mais de 19 deputados e não perdeu quase ninguém;, observa.

Maioria

O coordenador do curso de ciência política da UDF, José Deocleciano, também concorda que o novo presidente será obrigado a investir no troca-troca. ;Ao longo do sistema democrático, nenhum presidente conseguiu maioria verdadeira. Nenhum deles foi capaz de fazer isso, nem o próximo deve ser;, opina. Por isso, para ele, não há alternativa para garantir a governabilidade. ;Eu diria que, em 2019, qualquer que seja a linha ideológica do eleito, de fato, ele terá que fazer coalizões com os partidos que aí estão;, completa.

De acordo com Deocleciano, o presidencialismo de coalizão não necessariamente significa um sistema ruim, já que ele é mais uma consequência de como foi construído dentro da política brasileira. Por isso, o arranjo que gera a necessidade do sistema não é necessariamente prejudicial. ;Se tivesse funcionado no governo de Temer, ele teria, por exemplo, conseguido aprovar a reforma da Previdência;, explica.

O problema é que, como a aliança tem um caráter de manutenção do poder, o custo é muito alto. Não apenas o valor político, mas também o financeiro. Para sustentá-la, há recursos como o apadrinhamento, a distribuição de recursos e até de cargos. ;A coalizão não é negativa em si, mas, por vezes, gera consequências. O que a gente viu é que, certamente, desde o último mandato do Fernando Henrique Cardoso, esse custo é alto. Seja para o FHC, Lula, Dilma, Temer, e vai ser para o próximo, dada as atuais circunstâncias;, avalia.



"Nenhum presidente elege parlamentares suficientes para aprovar leis ordinárias. Então, além da coalizão para se eleger, ele precisa agregar partidos para a base e garantir governabilidade para aprovar leis;

Tendência é de que o próximo presidente da República continue dependendo de arranjos políticos para contar com base na Câmara dos Deputados e ter poder de governabilidade, principalmente pela ausência de renovação dentro da Casa

Antônio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar



60

Número de parlamentares do PT na Câmara dos Deputados, o maior partido na Casa atualmente

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