Politica

Opinião: Perdemos tempo, mas não somos os únicos

Leonardo Cavalcanti
postado em 16/04/2018 12:52

Em artigo publicado nos primeiros dias deste desesperançoso mês de abril, o ensaísta inglês Rana Dasgupta, 46 anos, aborda a falência do estado-nação. O texto, quase um tratado acadêmico publicado no jornal The Guardian, mostra o desmonte de dois conceitos até pouco tempo fundamentais para governantes e governados: a geopolítica e a unidade cultural. Não, o Brasil não é citado por Dasgupta, o que nos apresenta um sem-número de constatações, entre elas, a certeza da nossa desimportância no atual jogo mundial e o alívio de que não somos os únicos agoniados do mundo.

Dasgupta diz que, depois de décadas de globalização, o sistema político começou a ficar obsoleto ; e os espasmos de nacionalismos são sinais do declínio irreversível. O texto, publicado sete dias antes do ataque de Donald Trump contra a Síria por suposto uso de armas químicas, diz que, nos Estados Unidos, os eventos ultrapassam até mesmo a imaginação de romancistas e comediantes. E, a partir daí, sai enumerando casos em outros países, como o Reino Unidos, ;que ainda mostra poucos sinais de recuperação após o colapso nervoso do Brexit;. Mas os exemplos não param por aí.

Para Dasgupta, a França ;escapou por pouco de um ataque cardíaco; nas eleições do ano passado, mas que, mesmo revertido, tal evento foi incapaz de reverter a ;decomposição acelerada do sistema político;. Espanha e Itália estão no mesmo caminho a partir do ;colapso do establishment;, deixando em dúvida o sistema financeiro em dúvida. O nosso escritor, uma mistura de inglês e indiano, diz que, na Alemanha, os neofascistas preparam-se para assumir papel de oposição.

Guerras

As más notícias não se resumem ao ocidente. A Rússia e a Turquia são distraídos pelas guerras, e a Índia, a Hungria e a Minamar tentam se purificar étnica e religiosamente. Por fim, Dasgupta aponta para a ampliação de poderes presidenciais versus o abandono de direitos civis e do estado de direito, como China, Ruanda, Venezuela, Tailândia, Filipina e tantos outros. Opa, o ;tantos outros; pode ser o Brasil, por que não? Temos um total desencanto, que, a depender de uma posição, eleitores podem ser acusados de inocentes ou de defensores da corrupção, como se o debate de um país pudesse ser rasteiro ou tempo todo partidário.

A mistura de canalhice e embuste intelectual levam raivosos daqui ; que, sem mais nem menos começam a ficar vermelhos e virar mãos, como em falsos ataques ; a buscar refúgios em discursos radicais, tal qual aliados do deputado Jair Bolsonaro. E aqui voltamos a Dasgupta, que fala do declínio da política nacional. ;É por isso que uma estranha marca de nacionalismo apocalíptico está tão em voga;, escreveu ele, para completar: ;Mas o apelo atual do machismo como estilo político, a construção de muros e xenofobia, a mitologia e a teoria racial, as promessas fantásticas da restauração nacional ; não são curas, mas sintomas do que está lentamente se revelando a todos: nações em todos os lugares são em um estado avançado de decadência política e moral, do qual não podem se desprender individualmente.;

Neste momento, Bolsonaro tem força suficiente para que todas as luzes sejam jogadas sobre ele. Não é porque vários países chegaram a tal covardia nas escolhas políticas que podemos repetir tal estupidez. Não somos Bolsonaros, mesmo que alguns se aproximem de discursos totalitários e covardes. É disso que se trata, covardia.

Pesquisa

A importância da pesquisa Datafolha sobre os pré-candidatos ao Planalto é ser o marco zero em relação aos números dos políticos. O cenário, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva preso e a filiação do ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa filiado, serve como base para as próximas pesquisas. Qualquer comemoração ou desânimo é apressada. Coisa de analista amador. O problema é que o amadorismo reina num país que nunca foi para amadores.

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