Politica

Denúncia contra Aécio desgasta PSDB e abre portas para novos partidos

Enquanto Alckmin defende que Áecio não seja candidato, especialistas avaliam o impacto da abertura de ação penal contra o senador

Simone Kafruni
postado em 19/04/2018 06:00
Alckmin sobre Áecio:
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de aceitar as denúncias de corrupção e obstrução de Justiça contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e torná-lo réu desgasta a legenda, ameaça todos os políticos citados nas delações do empresário Joesley Batista e abre caminho para novos nomes e partidos na corrida eleitoral. De acordo com especialistas, a ;pecha da corrupção; fará com que PT e PSDB percam o protagonismo de décadas na disputa pela Presidência da República, o que deve beneficiar candidatos ;limpos;.

Para o presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e virtual candidato ao Palácio do Planalto, ;o ideal; é que Aécio não seja candidato. ;Vamos aguardar ele tomar a iniciativa, como tomou ao deixar a presidência do partido. Mas ele conhece a minha opinião;, disse ontem. O ex-governador paulista e ex-vice-presidente nacional do PSDB Alberto Goldman disse que uma candidatura majoritária de Aécio ;não parece conveniente;. O líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Nilson Leitão (MT), minimizou o episódio: ;Não há impacto para o partido. A eleição dele é regional;, afirmou.

Na opinião do analista político da Arco Advice, Cristiano Noronha, o desgaste de Aécio prejudica o PSDB, especialmente Alckmin, porque deve gerar dificuldades de negociar apoio de outros partidos. ;É mais um ex-presidente de partido com problemas na Justiça. Porém, isso ocorre a seis meses das eleições e a lei eleitoral jogou mais para a frente, até 5 de agosto, o prazo para coligações;, destacou.

Noronha ressaltou que, a curto prazo, os candidatos que aparecem como alternativas são beneficiados, como Joaquim Barbosa, que ensaia concorrer pelo PSB. ;Marina (Silva, da Rede), que ficou de fora na última eleição porque foi esmagada por duas candidaturas muito competitivas, pode aproveitar que PT e PSDB estão debilitados;, analisou. O especialista também alertou que, ao considerar provas da delação válidas, o Supremo deixou inquietos muitos políticos. ;Centenas foram citados;, lembrou.

;Faltam nomes;

O especialista em direito constitucional, cientista político e advogado Marcus Vinícius Macedo Pessanha, do escritório Nelson Wilians e Advogados Associados, ressaltou que a situação do PSDB se complicou. ;Se a candidatura de Aécio para o Senado já era difícil, acho que nem para deputado federal ele consegue respaldo. A legenda está desgastada e segue o caminho do PT, saindo do protagonismo;, sentenciou.

Com isso, destacou o especialista, legendas que sempre foram coadjuvantes buscam lançar candidatos próprios, como o PCdoB, antigo parceiro do PT, do qual quer se desvincular com a candidatura de Manoela D;Ávila (RS). ;São políticos que estão brigando pelo espólio da esquerda e do centro-direita. O PSDB sempre aglutinou os nomes do centro;, avaliou. Para Pessanha, a decisão do STF traz grande insegurança, porque mais candidaturas podem ser ;alvejadas no início do voo;, o que colocaria em jogo o destino da legenda. ;É um momento delicado. No Brasil, sempre houve protagonismo maior das pessoas do que dos partidos. Agora faltam nomes com capacidade de mobilizar a vontade popular;, disse.

Para Ricardo Caldas, professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB), além do prejuízo para imagem do PSDB com Aécio, Alckmin também foi citado. ;Embora tenha conseguido empurrar o processo para a Justiça Eleitoral, não tem como dissociá-lo. O processo está rolando e ele está sem foro privilegiado. O partido perdeu a oportunidade de lançar um nome novo;, avaliou. Segundo ele, Aécio pode tentar se candidatar por Minas Gerais para recuperar fôlego e foro. ;Já Alckmin está no jogo do tudo ou nada;, disse.

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