Politica

Pré-candidatura de Henrique Meirelles corre em paralelo à de Temer, no MDB

Ex-ministro da Fazenda lança site com a agenda de compromissos e conclui convocação de equipe para estruturar a campanha ao Palácio do Planalto

Hamilton Ferrari, Rosana Hessel
postado em 22/04/2018 08:00
Ex-ministro da Fazenda lança site com a agenda de compromissos e conclui convocação de equipe para estruturar a campanha ao Palácio do Planalto
O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles pretende dar a largada na campanha da pré-candidatura para a Presidência da República pelo MDB a partir desta semana. Hoje está previsto para entrar no ar um novo site com a agenda dos compromissos de Meirelles, que conclui a montagem da equipe para pôr o pé na estrada e partir para o corpo a corpo com os eleitores. De acordo com pessoas próximas, ele reservou R$ 5 milhões do patrimônio pessoal para custear a equipe e a campanha. No entanto, Meirelles não confirma esse montante. ;Ainda estou calculando. Estou na fase das conversas;, afirma ele, em entrevista ao Correio por telefone durante uma viagem ao exterior.

O ex-ministro conta que, quando retornar ao país, definirá os nomes, inclusive do marqueteiro da campanha. Alguns publicitários foram cogitados, como Duda Mendonça, responsável pela campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, e Chico Mendez, que fez as campanhas do candidato centro direitista Henrique Capriles para a Presidência da Venezuela em 2012, do ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral e do ex-prefeito do Rio Eduardo Paes. Meirelles, no entanto, prefere manter segredo sobre as conversas.

Ele escolheu a equipe de imprensa, por exemplo. ;Os demais, definirei no início da próxima semana;, avisa, acrescentando que está em conversas com outros dois funcionários do gabinete da Fazenda para assessorá-lo no dia a dia do escritório. O quartel-general da pré-candidatura já está definido e será em Brasília. O MDB cedeu um escritório para Meirelles e seus auxiliares trabalharem na sede do partido e da Fundação Ulysses Guimarães (FUG), em uma mansão de dois andares no Lago Sul. A partir do dia 23, o ex-ministro ocupará uma sala ao lado da presidência do MDB, que era do novo ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, e atual presidente da FUG. A montagem e a instalação de computadores e telefones de Meirelles e dos assistentes, no segundo andar da mansão, onde há quatro escritórios voltados para a rua, foi concluída na semana passada.

Escritório reservado à equipe de Meirelles, no Lago Sul

Trajetória


Apesar de aparecer com apenas 1% nas pesquisas de intenção de voto mais recentes, mesmo com a eventual saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Meirelles demonstra confiança de que esse cenário poderá ser revertido quando as campanhas começarem efetivamente. ;A pré-campanha está em uma fase muito preliminar e os nomes mais conhecidos são mencionados nas pesquisas com mais frequência. Mas esta eleição ainda está em aberto e o quadro deverá ser revertido na medida em que eleitores tenham conhecimento do histórico dos diversos candidatos;, afirma.

A campanha de Meirelles será tocada em paralelo à do presidente Michel Temer, que, apesar da rejeição de 70% e da ameaça de uma terceira denúncia de corrupção da Procuradoria-Geral da República (PGR), não descartou a possibilidade de concorrer, o que, para analistas, é uma forma de mostrar que o MDB está na disputa para a presidência e, assim, facilita as alianças.

Natural de Anápolis (GO) e formado em engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Meirelles tem uma trajetória de sucesso no setor privado, pois chegou a ser o presidente mundial do Bank Boston, um dos maiores bancos norte-americanos à época. Em 2002, foi o deputado federal mais votado de Goiás, com mais de 183 mil votos, mas abandonou o mandato para aceitar o convite do então recém-eleito presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva para presidir o Banco Central, cargo que ocupou durante os oito anos do mandato do petista.

Entre seus auxiliares, Meirelles é visto como um profissional pragmático e dedicado. Era comum ele mandar aos subordinados mensagens via WhatsApp às 23h da noite ou às 7h da manhã. ;Tinha um ritmo de trabalho que nenhum de nós conseguia acompanhar;, revela uma fonte próxima. Ela confessa que se impressionou com a forma que Meirelles trabalhava, pois, quando não havia consenso após 20 ou 30 minutos de discussões, ele tomava para si a decisão. ;É muito bom ver isso em um gestor no setor público;, destaca.

Quando retornou a Brasília, em 2016, para assumir a Fazenda a convite de Michel Temer, voltou a morar na mesma casa que alugou quando foi presidente do Banco Central, no Lago Sul, onde viveu entre 2003 e 2011. Entre os vizinhos, Meirelles é visto como reservado, ocupado e simpático, pois cumprimenta a todos.

O ex-ministro está confiante na campanha e aposta em sua trajetória de sucesso para superar os demais pré-candidatos. Para ele, a população, aos poucos, começará a diferenciar os que têm discurso fácil e bombástico dos que entregam resultados. Meirelles utiliza as redes com regularidade. No Twitter, onde tem pouco mais de 44 mil seguidores, reforça os bons resultados da economia após a gestão de Dilma Rousseff, que mergulhou o país em uma recessão por dois anos.

Na última sexta-feira, tuitou sobre os últimos dados do Cadastro-Geral de Empregos (Caged), do Ministério do Trabalho, que mostraram a abertura de 56,1 mil vagas em março. ;Na crise criada pelo governo anterior, nos anos de 2015 e 2016, foram destruídos 2,8 milhões de empregos no Brasil. Agora, apenas nos três primeiros meses de 2018, já estamos com um saldo positivo de mais de 204 mil vagas;, afirma.

Campanhas paralelas

A campanha da pré-candidatura de Henrique Meirelles no MDB será tocada em paralelo à do presidente Michel Temer.

Para o diretor-geral para as Américas do Eurasia Group, Christopher Garman, tanto Temer quanto Meirelles têm pouquíssimas chances de serem competitivos na corrida eleitoral devido à taxa de aprovação do governo ser muito baixa, de apenas 9%. ;Para um candidato à Presidência começar a ser competitivo, ele tem que ter uma taxa de aprovação de mais de 30% e, para fazer um sucessor, de mais de 40%;, explica.

Especialistas reforçam que a campanha deste ano será totalmente diferente das demais porque será muito mais curta e o fato de os partidos de centro ainda não terem um candidato forte nas pesquisas pode comprometer as chances de eles terem uma vaga no segundo turno. O tempo de TV não será tão decisivo como antes, como aposta o governo, que é quem deve ter mais minutos no ar. ;O tempo de TV é importante, mas está sem parâmetro e não será tão decisivo como sempre foi. Tem muita coisa acontecendo na internet;, destaca a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Petterson Institute for International Economics.

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