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Em depoimento à PF, Aécio Neves nega propina em caso de usina de Rondônia

Marcelo Odebrecht relatou em seu acordo de delação premiada que combinou um pagamento de R$ 50 milhões ao senador

O depoimento do senador Aécio Neves (PSDB-MG), ocorrido na tarde desta quinta-feira (26/4) na sede da Polícia Federal, em Brasília, teve duração de uma hora. O parlamentar é suspeito de receber vantagens indevidas, no valor de R$ 50 millhões, para favorecer as empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, na construção da usina de Santo Antônio, em Rondônia. Ele nega todas as acusações.
Aécio chegou ao prédio da PF por volta das 15h30. Saiu da sede às 17h05, pelos fundos e sem falar com a imprensa. O Correio apurou que durante o depoimento, o senador disse não ter havido nenhuma interferência em contratos que foram realizadas pelas empresas envolvidas. O peessedebista alegou que não tinha nenhuma relação próxima com integrantes do Executivo à época.

A abertura de inquérito contra Neves foi autorizada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com Fachin, Aécio é suspeito de ter recebido repasses em diversos lotes. Os pagamentos, de acordo com a investigação, teriam sido fracionados e cada repasse ocorria com valores que variavam de R$ 1 milhão e R$ 2 milhões. O dinheiro, de acordo com o processo, era a contrapartida para que o senador negociasse vantagens das empreiteiras "notadamente nos empreendimentos do Rio Madeira". O parlamentar é citado no depoimento do executivo Ricardo Andrade, um dos donos da Andrade Gutierrez, que aponta o senador como destinatário de pagamentos milionários, por meio de um contrato fraudulento firmado com uma empresa que pertence a um amigo dele.

Questionado pela Polícia Federal, Ricardo Andrade citou um contrato no valor de R$ 35 milhões. Os valores, segundo ele, seriam repassados por meio de doações eleitorais, para tentar mascarar a origem ilícita do dinheiro. Aécio é investigado em oito ações que foram abertas no STF. Em uma delas, ele se tornou réu, acusado de receber propina de R$ 2 milhões do executivo Joesley Batista, da J para supostamente atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato.

Pós-depoimento

Em nota, o advogado Alberto Zacharias Toron, que defende Aécio informou que o cliente "prestou todas as informações solicitadas no inquérito". O defensor negou qualquer recebimento de propina por parte do parlamentar. "Por se tratar de empreendimento conduzido pelo governo federal à época, ao qual o senador e seu partido faziam oposição, não há nada que o vincule às investigações em andamento. Os próprios delatores afirmaram em seus depoimentos que as contribuições feitas às campanhas do PSDB e do senador nunca estiveram vinculadas a qualquer contrapartida;, afirmou.

A investigação segue sob segredo de Justiça. Os documentos, relatórios produzidos pelas equipes e informações colhidas pela PF serão encaminhadas para a Procuradoria-Geral da República (PGR).