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Lula sabia e participou de negociação de propina paga a Gleisi, acusa PGR

Procuradoria-Geral da República denuncia o ex-presidente, a senadora, o ex-ministro e mais três pessoas por recebimento de propina da Odebrecht no valor de US$ 40 milhões. Dinheiro teria sido utilizado na campanha para o governo do Paraná em 2014

Bernardo Bittar, Ingrid Soares
postado em 01/05/2018 08:00

Gleisi e Lula: segundo a denúncia da PGR, o ex-presidente sabia da negociação e participou dela em alguns momentos. Senadora afirmou que a acusação


Enquanto o PT tenta sobreviver à desidratação, a Procuradoria-Geral da República (PGR) deu nova cartada, denunciando ontem, a senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente da legenda; o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; e os ex-ministros Antônio Palocci e Paulo Bernardo ; marido de Gleisi. O empresário Marcelo Odebrecht e o chefe de gabinete da senadora, Leonel Dall Adnol, também foram acusados. Todos responderão por corrupção (passiva e ativa) e lavagem de dinheiro. Segundo o processo, há ;provas de materialidade; de que o PT teria embolsado ao menos R$ 1,48 bilhão em propinas.

Os crimes denunciados pela PGR teriam sido cometidos a partir de 2010, quando US$ 40 milhões foram repassados para o PT, beneficiando Gleisi na disputa pelo governo do Paraná em 2014. O dinheiro, avaliado à época emR$ 64 milhões, foi dado pela Odebrecht em troca de decisões políticas que beneficiassem o grupo econômico, segundo a Procuradoria-Geral da República. Apresentada no âmbito da Operação Lava-Jato, a denúncia é um desdobramento de inquérito aberto a partir de delações de executivos da construtora. Na peça, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, destacou que, além dos depoimentos, a prática dos crimes acabou comprovada por documentos apreendidos por ordem judicial, como planilhas e mensagens.

;Há ainda confissões extrajudiciais e comprovação de fraude na prestação de informações à Justiça Eleitoral. Ressalte-se que até o transportador das vantagens indevidas foi identificado;, resume um dos trechos do documento, que foi encaminhado ao relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin. Entre as ações realizadas como contrapartida ao acordo, a procuradora-geral citou o aumento da linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a Angola.

Detalhamento

Raquel Dodge detalhou na denúncia como parte do dinheiro repassado pela construtora chegou à atual presidente do PT. A PGR afirma que, em 2014, Hoffmann e Bernardo aceitaram receber, via caixa dois, a doação de R$ 5 milhões, destinados à campanha eleitoral. Coube a Leones Dall Adnol (por parte de Gleisi) e a Benedicto Júnior (por parte da Odebrecht) viabilizar a entrega do dinheiro. ;Dos R$ 5 milhões, Gleisi Helena Hoffmann, Paulo Bernardo e Leones Dall Adnol comprovadamente receberam, em parte por interpostas pessoas, pelo menos R$ 3 milhões em oito pagamentos de R$ 500 mil cada um, a título de vantagem indevida, entre outubro e novembro de 2014;, consta do documento. Segundo a denúncia, Lula sabia da negociação e participou dela em alguns momentos.


Palocci também foi denunciado por Raquel Dodge: ex-ministro fazia parte do %u201Cnúcleo político%u201D da organização

Além disso, com o objetivo de esconder o esquema, Gleisi Hoffmann teria declarado à Justiça Federal despesas inexistentes no valor de R$ 1,8 milhão. Para o cientista político Antônio Testa, da Universidade de Brasília (UnB), ;o desgaste do PT só aumenta;. ;A situação de Gleisi também é complicada. Acredito que uma possível candidatura dela sairá fragilizada, seja no Senado ou na Câmara. A presidente já é ré em outros processos de recebimento de propina para a campanha eleitoral.; Do ponto de vista jurídico, afirma o professor, a situação vai se arrastar. Mas, politicamente, é mais uma munição. ;Fica cada vez mais difícil para ele se defender. Para ela é muito ruim, se põe como moralista, mas está se demonstrando pior do que o Lula.;

O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta, acredita que a denúncia não vai atrapalhar nem o partido nem a candidatura de Gleisi. ;Temos acompanhado o caso e a Lava-Jato é uma ação de característica política que abandonou qualquer sentido jurídico. As iniciativas da Lava-Jato fazem parte de um processo que vem se repetindo. Vamos provar que se trata de um processo infundado e sem provas, baseado em uma delação. É um escândalo.; Segundo o especialista em direito eleitoral Daniel Falcão, professor do Instituto de Brasiliense de Direito Público (IDP), no entanto, a denúncia não deve atrapalhar a candidatura de Gleisi em 2018. ;Ela só ficará inelegível se for condenada pelo colegiado em segunda instância, como aconteceu com Lula.; Gleisi já é ré em outro caso da Lava-Jato em que é acusada por corrupção e lavagem de dinheiro. A denúncia, recebida pelo Supremo Tribunal Federal, envolve o recebimento de R$ 1 milhão do esquema de propinas da Petrobras para sua campanha de 2010.

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge

A PGR pediu a condenação do ex-presidente Lula, dos ex-ministros e do chefe de gabinete por corrupção passiva; e de Marcelo Odebrecht por corrupção ativa. No caso da senadora, além da corrupção ativa, a denúncia inclui lavagem de dinheiro. Há pedido para que Lula, Bernardo e Palocci ;devolvam; os US$ 40 milhões de dólares (R$ 138,4 milhões, na cotação de ontem) e paguem outrosR$ 10 milhões a título de reparação de danos, material e moral coletivo, respectivamente. Outra solicitação é para que a senadora, o marido e chefe de gabinete paguem $ 3 milhões como ressarcimento pelo dano causado ao erário. O rombo representa R$ 151 milhões.

Pelo Twitter, Gleisi afirmou que a denúncia envolve fatos desencontrados e que lamenta a irresponsabilidade da PGR em agir assim. Segundo a assessoria de imprensa do PT, esta é a resposta oficial que vale para todos os quatro denunciados que fazem parte do partido. A Odebrecht disse apenas que continua colaborando com a Justiça.

Fique por dentro

Os denunciados
; Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente
; Gleisi Hoffmann, senadora e presidente do PT
; Antônio Palocci, ex-ministro
; Paulo Bernardo, ex-ministro
; Marcelo Odebrecht, empresário
; Leones Dall Adnol, chefe de gabinete de Gleisi

Crimes
; Corrupção (passiva e ativa) e lavagem de dinheiro.

Acusação
; Segundo a denúncia, a origem dos atos criminosos data de 2010, quando a Construtora Odebrecht prometeu ao então presidente Lula a doação de US$ 40 milhões em troca de decisões políticas que beneficiassem o grupo econômico. As investigações revelaram que a soma ; avaliada na época do acerto em R$ 64 milhões ; ficou à disposição do PT, tendo sido utilizada em operações como a que beneficiou a senadora na disputa pelo governo do Paraná, em 2014.

;Há ainda confissões extrajudiciais e comprovação de fraude na prestação de informações à Justiça Eleitoral. Ressalte-se que até o transportador das vantagens indevidas foi identificado;

Trecho da denúncia da Procuradoria-Geral da República

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