Agência Estado
postado em 02/05/2018 10:16
Três anos depois de abrir investigações, a Procuradoria-Geral da Noruega fecha o cerco contra uma empresa e um executivo do país em razão de um suposto esquema de corrupção envolvendo a Petrobras. Os implicados são a Sevan Drilling e seu executivo Jan Erik Tveteraas, num processo que caminha para sua conclusão.
Documentos do Tribunal Federal da Suíça obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo mostram que a suspeita é de que empresas norueguesas teriam pago, de 2007 a 2011, US$ 14 milhões em "honorários" a operadores que transferiram o dinheiro para contas na Suíça.
A Suíça, pela decisão dos juízes federais, aceitou repassar os extratos bancários aos investigadores noruegueses. A esperança da procuradoria é de que, com as informações da Suíça, o caso possa ser concluído e que ele vá para a Corte antes de meados do ano.
As investigações na Noruega foram iniciadas em 2015. Naquele momento, as empresas Sevan Marine e o executivo Arne Smedal também estavam sob suspeita. Desde o ano passado, porém, esses casos foram encerrados e a acusação, agora, se refere diretamente ao executivo Jan Erik Tveteraas e a companhia Sevan Drilling.
As duas empresas, Sevan Marine e Sevan Drilling, eram especializadas em exploração de petróleo em alto-mar, com representação no Rio. Quando a Operação Lava Jato começou, a sede da empresa em Oslo solicitou que o escritório Selmer realizasse uma auditoria interna.
O resultado apontou que era "mais provável que pagamentos ilegais tenham sido feitos para garantir contratos com a Petrobras" para a compra de instalações para estocagem e navios, além de material para perfuração das subsidiárias Sevan Drilling e Sevan Brasil. "Tais atos podem potencialmente representar um crime financeiro", indicou a auditoria.
O jornal teve acesso a trechos confidenciais da investigação interna da empresa que apontou que, no total, 300 milhões de coroas norueguesas (R$ 141 milhões) podem ter sido enviados para contas na Suíça, nas Ilhas Virgens Britânicas, no Panamá e em Mônaco. A suspeita é de que parte importante desse dinheiro tenha sido usada para corromper a ex-direção da Petrobras. Agora, a acusação que pesa sobre Tveteraas e a Sevan Drilling é de que teriam de fato usado de propinas para garantir contratos no Brasil.
Suspeito
A procuradoria norueguesa ainda passou a pedir a colaboração da Suíça e, em documentos enviados ao país, constatou que "um indivíduo é suspeito de ter agido como intermediário nos pagamentos de propinas a pelo menos três diretores da Petrobras"
Quatro contas foram bloqueadas na Suíça, enquanto documentos das autoridades do país indicam que "uma sociedade norueguesa e suas filiais teriam feito parte de um vasto esquema de corrupção de funcionários no Brasil".
O suspeito é Raul Schmidt, que vive hoje em Portugal e é alvo de uma batalha jurídica por conta de uma tentativa do Brasil para que seja extraditado. Segundo a apuração, a empresa Sevan Drilling teria usado justamente Raul Schmidt para fazer os pagamentos. Não existe contra ele, porém, um processo aberto na Noruega.
Contrato
Em 2005, a Sevan comemorou o seu maior contrato, que faria com que as ações da pequena empresa ganhassem valor inédito na Bolsa de Oslo. Com a Petrobras, construiu a plataforma de Piranema, num acordo de onze anos e que valeria à empresa norueguesa US$ 100 mil por dia. Mas parte das comissões, segundo as investigações, teria ido para uma empresa nas Ilhas Virgens Britânicas, a Etesco. A taxa cobrada pelo intermediário brasileiro parecia fora do padrão internacional, mas a companhia, para conseguir seu primeiro contrato, acabou aceitando, afirmam os investigadores.
Em 2007, Schmidt deixou a Sevan e abriu sua própria empresa. Mas, um ano depois, os noruegueses assinaram mais um contrato e colocaram a nova empresa de Schmidt, a Global Offshore, como agenciadora para contratos da Petrobras em águas brasileiras. O valor da comissão seria de 3% de contratos avaliados em US$ 975 milhões.
Procurada, a defesa de Schmidt não respondeu aos contatos da reportagem. Em Oslo, o executivo Tveteraas tem optado por não se pronunciar sobre as acusações, mas sua defesa diz que elas não têm fundamento. A empresa não respondeu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.