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De dentro da cadeia, traficante fazia "seleção" de novos membros para o PCC

Polícia Federal descobre que traficante preso dava ordens para integrantes do PCC e transfere o criminoso para penitenciária federal

Renato Souza
postado em 03/05/2018 06:00
Corredor da Penitenciária Federal de Catanduvas, no interior do Paraná: presídio tem regras mais rígidas para os presos, como restrição maior de visitas

Interceptações telefônicas realizadas pela Polícia Federal revelaram que o traficante Luan Lino de Andrade, conhecido como ;Pirlo;, estava dando ordens para integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) mesmo dentro da cadeia. Por medida de segurança, a corporação decidiu transferir o criminoso do complexo penitenciário de Londrina, no Paraná, onde estava desde o começo de abril, para a Penitenciária Federal de Catanduvas, na região oeste do estado. A decisão, divulgada ontem, ocorreu para evitar a prática de novos crimes.

A PF registrou diversas conversas de Luan com integrantes da facção criminosa. Nos áudios, ele também fez contato com candidatos a ingressar na organização. Em uma das mensagens, o traficante fala sobre ataques contra prédios públicos e instituições do Poder Judiciário. ;Porque se eu tô preparado na rua, eu sei que uma hora vai chegar missão pra mim (sic) matar, eu sei que vai chegar missão pra mim (sic) sequestrar, não vai ser sempre uma uva, tá ligado o barato? Nóis é criminoso irmão! Uma hora o bagulho vai ficar louco, vocês vão ter que meter o pé na porta de alguma cadeia, de um fórum! No bagulho louco aí, cara;, afirmou.

O presídio de Catanduvas é uma das unidades do sistema penitenciário federal e tem regras de segurança mais rígidas. Além de ficar sem o acesso de parentes e amigos, o detento permanece em um cubículo isolado, tem as conversas com advogados gravadas e recebe acompanhamento integral ao sair para o banho de sol ou demais atividades. A unidade também conta com bloqueadores de celular, que corta o sinal dos aparelhos em cada tentativa de contato com quem está do lado de fora.

Ao analisar as gravações, a polícia concluiu que os ataques, investidas contra grupos rivais e demais crimes cometidos pelo PCC, ocorrem com o aval de lideranças que estão dentro das prisões. Luan é apontado como chefe da facção criminosa no Paraná. Ele foi o principal alvo da Operação Dictum, deflagrada há cerca de um mês e que teve como objetivo inviabilizar atos da facção na fronteira do Brasil com o Paraguai.

Contrabando


Relatórios do serviço de inteligência do Ministério da Justiça e da PF revelam que o PCC está em plena expansão na região. O local é estratégico, para permitir a entrada de produtos contrabandeados, como cigarros e armas, que reforçam o poder financeiro e bélico do crime. O contrabando é enviado para outros estados, como São Paulo e Ceará, onde os integrantes do grupo atuam de forma mais abrangente.

Em uma das ligações, Luan tenta convencer um homem a entrar no PCC. ;Nóis é (sic) uma facção criminosa, você entendeu, cara? Querendo ou não, a gente tá em tempos de guerra, requer total atenção de todos os irmãos aí, tem que ser sintonia, tem que fechar em responsa, se o irmão entrar pro comando já não vai poder trabalhar, entendeu, irmão? Trabalhar de pintor, de pedreiro, fazer os bicos, isso aí já não existe, você vai ter que viver do crime, pra você ter que comer você vai ter que roubar, ou traficar, ou praticar o crime, pra você pagar os trabalhos do comando vai ter que praticar o crime;, completou.

A remoção do traficante para outra unidade prisional foi realizada por agentes do Departamento Penitenciário (Depen), responsável pela segurança dos presídios federais. Em nota, a Polícia Federal informou que a transferência ocorreu para evitar que as ameaças registradas nas gravações fossem concretizadas. ;A única forma de se buscar evitar o ataque a instituições públicas, como anunciado nos áudios, é o isolamento dos criminosos, garantindo-se que não tenham acesso a meios de comunicação;, diz nota da PF.

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