Politica

Opinião: Feito cego em tiroteio

Plácido Fernandes
postado em 07/05/2018 14:54
A quatro meses das eleições, o Brasil parece tatear no escuro sem rumo e sem, ao menos, ideia de direção. Até mesmo pesquisas de opinião feitas até aqui apresentam resultados aparentemente contraditórios. Na mais recente, do Datafolha, divulgada no mês passado, a corrupção ; que envolve políticos de todos os grandes partidos, como PT, MDB, PP, PSDB e DEM ; desponta como a principal preocupação dos brasileiros. E 87% defendem que as investigações da Lava-Jato devem continuar.

Mas veja que surreal: o PT e os ex-aliados PP e MDB são apontados pela força-tarefa que investiga a bilionária roubalheira na Petrobras como os protagonistas do maior escândalo de corrupção da história do país. Mesmo assim, apesar de condenado a 12 anos de reclusão, preso e principal suspeito de chefiar o esquema, segundo as investigações até aqui, Lula ainda figura como forte candidato a presidente da República.

Em outra ponta do surrealismo fantástico em que meteram o Brasil está o Supremo Tribunal Federal, hoje uma das principais causas de instabilidade política no país. Dia sim, outro também, investidores brasileiros e estrangeiros hesitam em pôr dinheiro em empreendimentos no país por não terem segurança jurídica. Entre as principais causas desse temor em investir no Brasil estão o desrespeito à nova legislação trabalhista por magistrados da Justiça do Trabalho e o temor de uma reviravolta no STF a favor de Lula.

Afinal, a prisão do ex-presidente, confirmada após condenação em dois graus de jurisdição, será mantida? Ou os juízes de primeira e segunda instâncias serão considerados incapazes, e o petista ficará impune? Nem mesmo o fato de a Lei da Ficha enquadrar e tornar o candidato do PT inelegível serve como garantia de que ele estará fora da disputa. Teme-se que, além de solto, ele seja beneficiado por alguma chicana jurídica, dispute e ganhe a eleição.

É nesse ponto que as contradições no comportamento de integrantes dos tribunais superiores, às quais se somam as incertezas eleitorais, voltam a perturbar analistas da cena política, econômica e financeira. Não bastassem as indefinições internas, o país sofre também com mudanças no cenário externo, como as medidas protecionistas do governo Trump. E a economia brasileira ainda pena para retomar o caminho do crescimento e criar empregos em larga escala. Com decisões que ferem a lógica e o ordenamento jurídico, o STF corre o risco de aprofundar a crise, ampliando a instabilidade num país que acaba de deixar para trás a pior recessão da história.

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